Rincon Sapiência

Renato Stockler Rincon Sapiência

De Racionais MCs a Criolo e Emicida, o rap nacional rompeu barreiras e estéticas. Se pautou no discurso político, apenas recentemente mirou o pop e acertou. Mergulhou na black Brasil setentista e em funks estadunidenses do mesmo período, talvez esquecidos na matriz. Quando se fala em cultura afro, no entanto, há muito a explorar, e Rincon Sapiência tem se aproximado do rock africano, do afrobeat, do jazz e do funk brasileiro contemporâneo para despejar um flow preciso, bem instruído e que conhece seus objetivos.

Ao lado de nomes como Rico Dalasam,Tássia Reis, Coruja BC1, Don L, Luana Hansen, Drik Barbosa, Lay, Luccas Carlos, Raffa Moreira, Raphão Alaafin, a nova geração chega com base sólida e refletindo os ventos globais.

Atração do Coala Festival, Rincon Sapiência, se credenciou ao posto de popstar do rap com seu novo álbum Galanga Livre, lançado em maio.

Caetano Veloso, Emicida e Liniker e os Caramelows são outras atrações do festival que ocorre no dia 12 de agosto, no Memorial da América Latina. Nós trocamos uma ideia com o Manicongo, apelido pelo qual é conhecido.

O que está acontecendo de mais novo na música brasileira hoje, na sua opinião?
Rincon Sapiência – Por ser um artista de rap sou suspeito mas diria que o rap tem toda uma grandiosidade ainda não explorada na música brasileira, se tratando de letras, instrumentais, atitude, diversidade, a música rap tem trazido propostas bem interessantes. Acredito que o rap surpreenderá de forma positiva a cultura do entretenimento aqui no Brasil.

Por que o funk tem conseguido se comunicar mais com a massa que o rap? Podemos ver, por exemplo, pelos números de visualizações alcançadas…
Rincon – O rap ainda carrega idealismos românticos como expor sentimentos pessoais nas letras, discursos sociais, políticos, questões raciais e de gêneros. Tem uma grande parcela que canta rap sobre festas, bebidas e tiração de onda, mas ainda é um tabu que divide opiniões.

Agora o funk traz a cultura do MC e do DJ, a batida pesada, as rimas, porém, exprime mais os signos do cidadão comum, que anseia por sexo, consumo, conforto. O funk sugere a dança, o sorriso, é uma versão brasileira do rap, tem uma rítmica afro e o Brasil é o país mais afro fora do continente africano, acredito que são esses detalhes que fazem o funk ser mais popular, já o rap ainda é um gênero norte americano feito no Brasil.

O lado político do rap é uma limitação ou uma vantagem para que ele seja aceito como a música mais popular do país, como é nos EUA e em vários mercado mundiais é uma força bastante expressiva?
Rincon – Acho que temos que encarar o rap como arte e sua amplitude, acredito que o mesmo artista pode ter uma canção de crítica social e uma outra música pra sarrar no mesmo repertório, sem problemas. Acho que o problema está em estigmatizar o rap quando queremos definir o seu conceito em apenas um detalhe.

O ideal é termos alcance nos nossos trabalhos, alcanço muitas pessoas com meu discurso político e racial, como já se recebi mensagens de pessoas dizendo que já transaram ouvindo meu som, acredito que podemos ter alcance também tocando na TV e no rádio. Talvez o problema esteja mais com os veículos de comunicação do que com o próprio rap, na obra de diversos artistas de rap percebo músicas que facilmente poderiam tocar nos veículos populares.

Quais foram as influências que levaram você a pesquisar o rock e o jazz africanos, que estão presentes como referências do seu som atual e como chegou até elas, já que elas costumam passar um pouco ao largo da atenção geral, muitas vezes rotulados como “world music”, quando há milhares de manifestações?
Rincon – Minha pesquisa em relação ao continente africano vai desde a história até a música feita por eles, seja antiga ou contemporânea. O africano tem a qualidade de incorporar seus valores culturais em tudo que faz, percebo isso quando fazem rock, jazz, funk, pop, percebo também na moda, na dança e isso me inspira muito. Carrego comigo um conceito musical que chamo de afrorap, seria a música rap inspirada nos diversos gêneros africanos e afrobrasileiros.

Que artistas da nova música brasileira e mundial mais gosta e indica?
Rincon – Tenho ouvido muito Burna Boy, Niska, The Weeknd, O Terno, Boogarins, Rico Dalasam, Migos, Kafé, Don L, Mahmundi, Toro y Moi, The Internet, Pablo Vitar, Miguel, MC Davi, MC Pedrinho, MC Kekel, são muitos, hoje conseguimos ter uma série de álbuns no celular

SERVIÇO

Coala Festival 2017 Data: 12 de agosto (sábado) Local: Memorial da América Latina – Praça Cívica Endereço: Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo Horário: 11h (abertura dos portões) R$ 90 (meia-entrada) e R$ 180 (inteira) *A meia-entrada é garantida aos estudantes e às pessoas que levarem um livro ou um quilo de alimento não-perecível no dia do evento Venda online: http://bit.ly/2pazQ2n Classificação: 18 anos Evento no Facebook: http://bit.ly/2oYVYgR


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Atração do Coala Festival, Rincon Sapiência desponta como novo popstar do rap