Algum desavisado pode achar que a juventude brasileira não se mobiliza politicamente ou é apática.  Nesta semana, estudantes de São Paulo mostraram que essa ideia é totalmente equivocada.

Desde terça-feira (10), alunos ocuparam a E.E. Fernão Dias Leme, em Pinheiros, São Paulo.  Eles não querem que o projeto de reorganização das escolas estaduais seja implementado e estão articulados para defender  que a Fernão Dias e outras escolas continuem abertas.

O Virgula conversou com alunos que ocuparam ou mantêm apoio em acampamentos na escola Fernão Dias na tarde de sexta-feira (13).

In* fala muito rápido. Parece uma forma de dizer as  muitas coisas que quer dizer e não esquecer nenhum detalhe. Ela tem 14 anos. Conta que não conseguiu fazer parte da turma que ocupou a escola Fernão Dias na terça-feira (10), mas ajuda trazendo mantimentos que os ocupantes pedem por meio de Whatsapp.  Ela não gosta tanto da Fernão Dias, na verdade. Acha que poderia ser mais aberta nos fins de semana. Poderiam liberar o uso da biblioteca mesmo quando não há professores junto. Lamenta que os professores faltam demais. No entanto, ela afirma que o Fernão Dias ainda é a melhor opção para ela. “Várias pessoas mudando de escola é muito ruim. A escola que querem me colocar está distante cinco quadras. Minha mãe vai ter que gastar mais condução comigo. Eu não vou parar de estudar porque eu vou me virar, mas muitos podem parar de estudar”, pondera. In* diz que seus pais ficam muito tempo no trabalho e não acreditam muito em política. A mãe é manicure e trabalha das 06h às 18h. O pai é mecânico e trabalha às vezes até a meia-noite.

Foto: Gabriel Quintão/Virgula

In, 14 anos

In* fala muito rápido. Parece uma forma de dizer as muitas coisas que quer dizer e não esquecer nenhum detalhe. Ela tem 14 anos. Conta que não conseguiu fazer parte da turma que ocupou a escola Fernão Dias na terça-feira (10), mas ajuda trazendo mantimentos que os ocupantes pedem por meio de Whatsapp. Ela não gosta tanto da Fernão Dias, na verdade. Acha que poderia ser mais aberta nos fins de semana.

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Foto: Gabriel Quintão/Virgula

Heudes, 18 anos

Heudes Cássio da Silva Oliveira é um jovem negro de 18 anos. Ele é morador do Embu, bairro mais afastado do centro de São Paulo com relação a Pinheiros, onde estuda, e defende a permanência. Apesar da recusa em aceitar o rótulo de líder, já aos 17 anos, Heudes era um dos representantes do Movimento Passe Livre (MPL), que incendiou o país com a proposta de gratuidade no transporte. O jovem de voz firme, tranças e chinelos era sempre indicado pelos alunos que chamamos para conversar entre as grades da escola. “Fala com o Heudes primeiro.” É possível que seu pai porteiro e sua mãe, que trabalha em um bar, não tenham a clareza e a objetividade política de seu tão jovem filho.

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Foto: Gabriel Quintão/Virgula

B, 17 anos

B* usa um lenço no rosto, mas não tem nada a ver com black block. Ele tem 17 anos e faz o 3° ano do ensino médio no período noturno da escola Fernão Dias. É a primeira vez que participa de um protesto ou movimento. Ele gosta da rigidez de ensino da escola, mas gostaria que os alunos tivessem mais espaço para se expressar. “Eu espero que a gente consiga espalhar as nossas ideias e que elas cheguem, inclusive, para os pais. E, no fim, espero que não haja violência”, explica B*.

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A, 16 anos

A* tem 16 anos e vive com a mãe. Ela diz que sua mãe não liga muito para política. Mesmo assim, a mãe de A* não gosta da ideia de fecharem a escola Fernão Dias e apoia o acampamento da filha para ajudar os alunos que fizeram a ocupação.

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Foto: Gabriel Quintão/Virgula

G, 17 anos

O jovem G* tem 17 anos e parece um personagem dos filmes do Harry Potter – por ser franzino, ter uma vasta cabeleira ruiva e um dilatador na orelha que chama atenção pelo tamanho. G* mostra um olhar preocupado para as viaturas que passavam no local e também para responder as nossas perguntas. Ele milita pela Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL) e explica que não é aluno do Fernão Dias. Mas estava acampando em frente a escola com outros jovens porque sabe que aquele colégio recebe muitos alunos de periferia. Ele diz que os estudantes do Fernão Dias sabem que ali o ensino é um pouco melhor do que nas escolas de bairros mais afastados do centro. Ele revela dificuldades na relação com os pais por conta da militância. “Eles acabam aceitando, mas não apoiam nem entendem’, afirma.

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Foto: Gabriel Quintão/Virgula

Ca, 15 anos

Ca* tem apenas 15 anos, embora se comunique com a articulação de uma menina mais madura. Ela entrou na escola junto da turma que ocupou na terça-feira (10) e saiu às 21h. Depois, na quinta feira (12), ela retornou despistando os policiais militares, já que, teoricamente, quem saiu não volta mais. Ela conta, com orgulho, a proeza. Seus pais estão muito preocupados, ela diz, mas apoiam a ocupação e se comunicam com Ca* por celular a todo momento. “Querem tirar o ensino fundamental da escola e deixar só o ensino médio, aumentando dez alunos por sala. Isso é precarizar o ensino. Tem alunos com deficiência aqui e não tem rampa. Como ter mais alunos, se não temos estrutura?”, analisa Ca*. “A gente vai levar essa ocupação como um orgulho. Porque fizemos tudo que fizemos, porque passamos por tudo que estamos passando. Já são mais de 70 horas de ocupação. A gente está muito cansado, mas nunca vai desistir”, conta Ca*, pendurada na grade do portão da escola, observada por policiais.

No vídeo, os jovens explicam os motivos da ocupação, falam um pouco de suas angústias pessoais e os motivos para ter esperança em uma educação de qualidade.

#naofecheminhaescola

Entenda a ocupação da Fernão Dias em poucas linhas

Os números ajudam a compreender a ocupação e a preocupação dos alunos. A reorganização propõe o fechamento de 94 escolas e a transferência de 311 mil alunos. Alunos, pais  e professores afirmam que não houve um planejamento em conjunto para a restruturação.

Segundo a Secretaria de Educação do governo de Geraldo Alckmin,  o objetivo é ter escolas com ciclo único, ou seja, com alunos de apenas uma das etapas de ensino: fundamental 1 (anos iniciais), fundamental 2 (anos finais) e ensino médi0.

A primeira ocupação aconteceu na noite da segunda-feira (9) na E. E. Diadema, seguida pela ocupação na escola Fernão Dias que inspirou o mesmo movimento em mais três escolas da capital e três da região metropolitana de São Paulo.

Por meio de grupos de WhatsApp e Facebook, os estudantes trocam ideias e dão apoio para cada nova ocupação.

Agora, pare e pense nesta situação surreal.

Imagine o que é algo como 15 a 50 adolescentes ocupando pacificamente o colégio onde estudam. Por conta disso, um contingente de cerca de 100 policiais armados e 15 viaturas cercam os colégios. Essa cena tensa é a realidade da ocupação da escola Fernão Dias.

Alunos ou simpatizantes da ocupação acampavam em frente à escola, outros escreviam cartazes e boa parte cantava palavras de ordem acompanhados por uma bateria improvisada. Alguns estudantes saíram do prédio e revelaram ter burlado o esquema de segurança para voltar e levar mantimentos. Pais e professores mantêm contato com os alunos por telefones celulares.

Até a tarde da sexta-feira (13), a  Justiça havia ordenado reintegração de posse de três escolas: Fernão Dias, Diadema e Salvador Allende. Os estudantes que ocuparam essas escolas teriam até este sábado (14) para deixar os locais voluntariamente ou “seriam coercitivamente retirados”.

A noite reservaria a primeira grande vitória dos estudantes que já estavam há 76 horas ocupando Fernão Dias. Atendendo a um pedido do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp), em decisão liminar, o juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi decidiu suspender a reintegração de posse das escolas estaduais ocupadas em São Paulo.

Atualização 17 de novembro – A Secretaria da Educação de São Paulo divulgou, no início da tarde de terça-feira  (17), a relação das escolas ocupadas por estudantes e por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em protesto contra a reorganização escolar. De acordo com a secretaria, 30 instituições do ensino estaduais estão ocupadas no estado de São Paulo.

Atualização 18 de novembro – Levantamento divulgado na manhã da quarta-feira (18) pelo Sindicato do Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) informa que 48 escolas estaduais estão ocupadas por alunos e professores.

* Com Eduardo Palácios

#NãoFecheMinhaEscola - Estudantes ocupam escola em Pinheiros, SP

In* fala muito rápido. Parece uma forma de dizer as  muitas coisas que quer dizer e não esquecer nenhum detalhe. Ela tem 14 anos. Conta que não conseguiu fazer parte da turma que ocupou a escola Fernão Dias na terça-feira (10), mas ajuda trazendo mantimentos que os ocupantes pedem por meio de Whatsapp.  Ela não gosta tanto da Fernão Dias, na verdade. Acha que poderia ser mais aberta nos fins de semana. Poderiam liberar o uso da biblioteca mesmo quando não há professores junto. Lamenta que os professores faltam demais. No entanto, ela afirma que o Fernão Dias ainda é a melhor opção para ela. “Várias pessoas mudando de escola é muito ruim. A escola que querem me colocar está distante cinco quadras. Minha mãe vai ter que gastar mais condução comigo. Eu não vou parar de estudar porque eu vou me virar, mas muitos podem parar de estudar”, pondera. In* diz que seus pais ficam muito tempo no trabalho e não acreditam muito em política. A mãe é manicure e trabalha das 06h às 18h. O pai é mecânico e trabalha às vezes até a meia-noite.
In* fala muito rápido. Parece uma forma de dizer as muitas coisas que quer dizer e não esquecer nenhum detalhe. Ela tem 14 anos. Conta que não conseguiu fazer parte da turma que ocupou a escola Fernão Dias na terça-feira (10), mas ajuda trazendo mantimentos que os ocupantes pedem por meio de Whatsapp. Ela não gosta tanto da Fernão Dias, na verdade. Acha que poderia ser mais aberta nos fins de semana. Poderiam liberar o uso da biblioteca mesmo quando não há professores junto. Lamenta que os professores faltam demais. No entanto, ela afirma que o Fernão Dias ainda é a melhor opção para ela. “Várias pessoas mudando de escola é muito ruim. A escola que querem me colocar está distante cinco quadras. Minha mãe vai ter que gastar mais condução comigo. Eu não vou parar de estudar porque eu vou me virar, mas muitos podem parar de estudar”, pondera. In* diz que seus pais ficam muito tempo no trabalho e não acreditam muito em política. A mãe é manicure e trabalha das 06h às 18h. O pai é mecânico e trabalha às vezes até a meia-noite.
Créditos: Gabriel Quintão

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O que os alunos que ocupam escola em SP têm a dizer