(Sarah Corrêa) – "Glauber Rocha é uma merda". Há pouco mais de um mês essa frase, dita por Marcelo Madureira, um dos "Cassetas", numa noite de debates do Festival Estação Piauí, no Cine Odeon, Rio, gerou grande comoção da mídia carioca por criticar a obra do cânone do cinema brasileiro, Glauber Rocha. Ele criou, na década de 60, uma nova linguagem cinematográfica capaz de expressar a complexidade da sociedade brasileira.

Pois bem. Em paralelo à afirmação de Madureira, Paloma Rocha, filha do cineasta e responsável pelo Templo Glauber (instituto que cuida da obra do diretor, localizado no Rio de Janeiro) vem trabalhando em um projeto para relançar os filmes de seu pai, entre eles, o já recuperado e em circuito comercial, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro.

Entre a crítica de um humorista e o projeto da filha do dono da obra, que luta para manter a memória do pai viva, surge a questão: qual a relevância do maior cineasta brasileiro para a geração atual? Como um cineasta que foi reconhecido mundialmente e que recebeu um dos maiores prêmios na área – a Palma de Ouro por Melhor Direção com o longa O Dragão da Maldade – é visto hoje pelos jovens que se interessam e estudam a sétima arte?

Guilherme Severo, 21 anos, estudante do 5° semestre de Cinema na Faap, em São Paulo, mesmo jovem, procurou conhecer a obra do cineasta e já arrisca em opinar: "Glauber foi um ponto chave para o cinema nacional, foi a grande virada. Ele acredita no verdadeiro cinema brasileiro e, como estudante, procuro seguir essa linha", disse ele ao Virgula.

Heron Vargas, professor doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, que leciona Cultura Brasileira na Universidade Metodista, reconhece que a principal característica da fase Glauber "foi o caráter experimental e a proposta de fugir do modelinho hollywoodiano".

Filmes como o já citado Dragão… e Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe (também vencedor de Cannes) são bons exemplos dessa fuga, além do lema “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, que deixava claro a falta de preocupação quanto à produção e glamour, o que interessava era a idéia e a mensagem a ser passada. Os filmes de Glauber (18 ao todo, contando curtas e longas) são constantemente exibidos em mostras especiais, dada a sua característica atemporal em discutir o sofrimento sertanejo, inocência cabocla, demagogia aristocrática, hipocrisia política e contrastes sociais.

Por outro lado, Heron reconhece que o apelo da obra de Glauber, muitas vezes, não agrada aos jovens porque não traz a estética "veloz que deixa o teleespectador atento, nem uma trilha sonora que embala, ou atores conhecidos".

E, nesse ponto, Henrique de Bréia, apaixonado pelas telonas e formado em Cinema, concorda com o professor: "Parto do princípio que cinema tem que divertir. Não sei absolutamente nada sobre Glauber, até estudei na faculdade. Mas acho muito intelectualóide".

"Uma merda"

Quanto à afirmação feliz ou infeliz do senhor casseta Madureira, essa, se fez diferença para a mídia, não causou nenhum alarde para a filha de Glauber. "Não tem importância alguma. Pra mim foi uma merda", rebateu Paloma ao Virgula.

E até mesmo a atenção dada à crítica, com direito a sessão como pedido de desculpas por ter sua obra classificada como "merda", poderia ter sido transferida para a importância que ele tem hoje na cinematografia do país. "Ter contato com obra de Glauber é estar em contato com um ponto de vista cinematográfico e histórico do país. É uma aula cinematográfica", defende Paloma.

Para completar, o professor Heron afirma que "Glauber foi um exemplo de cineasta experimental, engajado e crítico. Não era submisso ao modelo norte-americano".

No final das contas, fato é que Glauber tem, sim, sua importância no cinema atual, mesmo que muitos jovens ainda se deixem seduzir pelo modelo norte-americano. Porém, uma questão, dentre tantas outras, não tem outra resposta: gosto não se discute, certo?

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"Merda"? Quem é Glauber Rocha pra você?