Escadaria

Gabriel Quintão A escadaria que leva ao mirante em breve se tornará sala de cinema

A cidade de São Paulo vive uma onda de ocupação de seus espaços. Nos últimos dois anos, mais especificamente, foi possível notar um aumento de festas de rua, de feirinhas colaborativas em praças e vãos livres, e de espaços para a locomoção a pé ou sobre duas rodas. No próximo dia 23, um domingo em que a avenida Paulista estará fechada para carros e aberta para o grande público, São Paulo terá de volta mais uma relíquia que o tempo apagou: o Mirante 9 de Julho. O Virgula Diversão esteve lá na última segunda-feira (10) para conhecer o espaço e bater um papo com seus idealizadores.

O tesouro que estava escondido sob um viaduto que corta a avenida Nove de Julho, logo atrás do MASP, não é familiar para muitos, e não precisa se sentir mal se você não conseguir lembrar exatamente onde fica. Invisível nas últimas décadas, o escadão que levava para estrutura do mirante era atualmente habitado por consumidores de crack, atuais fantasmas da sociedade. Na década de 1940, a construção era um cartão postal de São Paulo, que servia para que se visse as mansões do Anhangabaú. Nas décadas de 1970/80, ele entrou para a rota do sexo, funcionando como uma extensão do Parque Trianon: garotos de programa levavam seus clientes para fazer o “atendimento” nas estruturas do mirante. Nas décadas de 1990/2000, vieram os consumidores de drogas, de moradores de rua a estudantes, que inclusive batizaram os degraus que levam para os portões de “escadaria da maconha”.

Facundo Guerra, homem por trás da obra

Gabriel Quintão Facundo Guerra, homem por trás da obra

Foi assim que Facundo Guerra, do Grupo Vegas, ao lado do escritório MM18 Arquitetura de Marcos Paulo Caldeira e Mila Strauss e em parceria com a Prefeitura da Cidade de São Paulo, encontrou o local que se tornaria a menina de seus olhos pelos últimos anos. Decidiu trazer o mirante de volta à vista do povo e em seguida convidá-lo a ocupar a estrutura reformada, sem perder o desenho original, como se fora uma extensão das avenidas que a cercam. Assim, em poucos dias estará aberto ao público mais um espaço livre que trará cultura e gastronomia para uma capital que vem resgatando cada vez mais itens de sua memória.

Mirante 9 de Julho

Você sabe o que fica entre a rotatória da Rua Carlos Comenale e o Viaduto Bernardino Tranchesi, logo atrás do MASP?
Você sabe o que fica entre a rotatória da Rua Carlos Comenale e o Viaduto Bernardino Tranchesi, logo atrás do MASP?
Créditos: Gabriel Quintão

Para a programação, Guerra contou com a curadoria de Akin Bicudo, do Metanol FM, coletivo pioneiro na ocupação das ruas de São Paulo com festas. Akin, por sua vez, convidou o coletivo Rolê para fazer uma intervenção total no espaço do Mirante, com fotos, lambe-lambes, vídeos e instalações que interagem com a estrutura do local (por conta do tombamento do local por três diferentes entidades, é proibido fazer alterações como furos e instalações que alterem a construção). Na antiga “escadaria da maconha”, sessões de cinema prometem reunir as pessoas nos degraus de frente a um telão inflável localizado exatamente onde ficava o mirante (decapitado durante a construção do viaduto Bernardino Tranchesi).

Vai ter onde comer?, pergunta a pessoa do signo de touro. Vai, em dois espaços distintos: de um lado, Isso É Café, do mestre de torra e barista Felipe Croce, operado pela FAF Studio. Do outro, O Mercado Efêmero, comandado pela produtora cultural Lira Yuri. Uma vez por mês, um chef convidado irá comandar um espaço com um cardápio autoral. Tudo isso a preços acessíveis para o público que frequenta a Paulista: o preço máximo dos pratos do cardápio inicial será de R$ 20,00.

Aliás, esta é uma das grandes esperanças de quem cria e de quem vê nascer o Mirante: a inclusão (real) da galera. Já cansamos de ver, aqui em São Paulo, a prática de lugares que em teoria prometem preços democráticos e acesso irrestrito ser completamente diferente. Não parece ser o caso do Mirante 9 de Julho, que tem em sua ideia inicial agregar paulistanos – torçamos, agora, para que o público também não se acanhe. Por isso, o espaço ficará aberto de terça a domingo, das 10h às 22h, com wi-fi livre, para se tornar um ponto de parada para os que estão na região. Seja para quem trabalha por ali, está de passagem ou mesmo vai até lá com este intuito. O importante é aproveitar a vista, a arquitetura e o que o lugar oferece.

Serviço:
Mirante 9 de Julho
Evento de abertura: dia 23/08, domingo
Abertura oficial com operação completa: 25/08, terça-feira
Endereço: Baixo do Viaduto Bernardino Tranchesi, 167 – Bela Vista – São Paulo/SP
Telefone: (11) 3111-6342
Capacidade: 350 pessoas
Entrada: gratuita
Horários:
Espaço cultural: 10 às 22h – terça à domingo (e feriados)
Restaurante O Mercado: 12 às 22h – terça à domingo (e feriados)
Café e bar Isso é Café: café – 10h às 18h; bar – 18 às 22h – terça à domingo (e feriados)


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Terra à vista! São Paulo ganha mais um espaço público repleto de história para ser ocupado