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Divulgação niLL

Assim como Baco Exu do Blues, a primeira impressão sobre niLL, é que se trata de um típico artista periférico. Logo, percebemos que o racismo nosso de cada dia acaba de pregar mais uma peça. Baco, fenômeno do novo rap, é filho de uma professora de português e espécie de versão millennial de Gregório de Matos (1636-1696). O baiano está ensinando para os moleques que estão chegando o que é “escárnio” e isso pode dar uma densidade ao rap que irá descolá-lo do excesso de influência dos Estados Unidos.

Já niLL, nem quer ser chamado de “rapper”. Suas referências vem do vapor wave e da cultura pop japonesa. Você poderia dizer que ele é um otaku, mas ele é mais que isso. O filho da dona Regina, homenageada com um emocionante disco lo-fi que tomou 2017 de assalto, é um shinobi, um ninja.

O rapaz de Jundiaí, de 24 anos, fez um disco com bases do Fruit Loops (software de produção musica), feitas em um PC bichado, mas que chegou carregado de verdade e conquistou espaço para ele e sua banca, a SoundFoodGANG.

Você já afirmou que Regina foi assimilado como um recado para as pessoas valorizassem suas famílias. Se preocupa em passar uma mensagem com sua música?
niLL – Por mais irônico que seja o meu jeito de criar e se expressar, sempre vai ter uma mensagem ali, tudo vai depender da pessoa q ouviu e da forma q ela vai enxergar a ideia, a partir daí que surgem os ensinamentos, procuro levar minha música da mesma forma que levo os animes que assisto, é uma aparência cômica infantil talvez, mas a mensagem bruta tá ali, depende só da minha criatividade de utilizar ela na vida real saca, tudo do niLL funciona assim.

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Crê que exista algo na sua música que seja específico do seu lugar de origem?
niLL  – Com certeza, hoje depois de anos eu descobri que minha música só é assim por conta do lugar q eu vivo, meu habitat natural me fez ser o que eu sou, tudo que construí na musica foi inspirado nas pessoas q convivi e convivo sabe, e pessoas iguais a essas não estariam em outro lugar no mundo a não ser aqui em Jundiaí (risos).

Com quantos anos você está? Se sente parte de alguma cena? Que características crê que defina a sua geração?
niLL – Tenho 24 anos e faço 25 em fevereiro não vejo a hora porque me falaram que vou ganhar bolo de cenoura meu favorito, mais enfim faço parte da geração que vai mudar a música brasileira isso sem duvida. Só não quero ser rotulado sabe, tipo o “rapper” muito brega isso.

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David Santos Nill

Quais são suas maiores influências musicais?
niLL – Eu gosto muito de música experimental, experimento até dentro do rap mesmo, coisa de alquimista (risos), mas se for falar em artistas tenho referencias de fora tipo MF Doom, Tyler The Creator E Rejjie Snow, tento fazer algo como eles.

Que artistas da nova cena mais gosta e indica?
NiLL – Eu indico todos os artistas da SoundFoodGANG, só gênio oculto, fora isso, meus amigos Makalister e Victor Xamã, todo jovem que tá conhecendo o rap agora deve ouvir isso, cancela o hype. Queria indicar ainda o Vandal, também um artista da nova escola.

Como é ver o negro ser cool e fashion de um lado e de outro sofrer imensamente com racismo e violência, como provam as estatísticas?
NiLL – É nojento cara, por isso artistas como Raffa Moreira são importantíssimos. Mas nego não enxerga isso, enquanto os negros continuarem lutando uns contra os outros, vamos continua servindo de segurança e manobrista, nunca vamos ser a maioria sentados à mesa nos restaurantes e isso é só um pequeno exemplo sem desmerecer esses dois ofícios. Mas porra desde que eu me entendo por gente, as pessoas com a mesma cor que eu só tá por baixo, sempre coadjuvante, raramente protagonista. nunca entendi o ódio deles por nós.


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'Enquanto o negro lutar contra outro, vamos continuar segurança e manobrista', diz niLL