"Mestre de obras astronauta" realiza sonho ao trabalhar nas obras do Maracanã


Créditos: Luiz Teixeira

Edwin Aldrin Linhares de Paula. Nome de astronauta norte-americano com toque paraibano. Nascido em 24 de junho de 1969, em João Pessoa, quatro dias após seu xará ter se tornado o segundo homem a pisar na Lua, o mestre de operação de máquinas das obras do maior estádio da Copa do Mundo de 2014 tem em suas mãos uma missão patriota quase tão importante quanto a do piloto da Força Aérea dos Estados Unidos: ajudar a levantar o novo e moderno estádio do Maracanã.

Funcionário da construtora responsável pelos trabalhos de reforma do estádio carioca, Edwin está no canteiro de obras do Maracanã há dois anos e meio por mera obra do acaso. Apesar de ocupar um cargo “nobre” entre os quase 6.000 funcionários diretos no local, o mestre de operação de máquinas passou por momentos de dificuldade até chegar ao novo emprego.

“Vim da Paraíba para o Rio de Janeiro aos seis anos de idade com toda minha família. Me arrisquei em muitas coisas nessa vida. Cheguei até a ser jogador de futebol. Atuei na Portuguesa da Ilha, aqui do Rio de Janeiro, entre 1990 e 1991. Aos 22 anos tinha acertado, inclusive, minha transferência para o Aracruz, um time pequeno do Espírito Santos. Mas o cara que me levaria pra lá teve uns problemas. Briga familiar, sabe como é, né?! E as coisas não deram certo, infelizmente”, disse.

Após o fracasso no futebol, Edwin resolveu encarar o comércio autônomo. Casado e pai de quatro filhos, o ex-jogador deixou o sonho da bola para ir atrás de um novo ganha-pão.

“Eu era vendedor até pouco tempo atrás. Foi uma luta muito difícil. Ao contrário do futebol, eu mandei bem nessa profissão. Após um tempo de rua, consegui um poder aquisitivo até que considerável para os dias de hoje”, explicou, no seu linguajar rebuscado com sotaque paraibano.

Até que seu novo negócio também começou a desandar. “Acabei sendo prejudicado por algumas coisas e pessoas, e as vendas já não aconteciam como antes. Estava preocupado e sem saber o que fazer. Mas sabe quando a vida dá uma mudada e as coisas dão uma reviravolta?! Digamos que caí quase de paraquedas aqui nas obras, graças a meu pai. Já aposentado e sem poder trabalhar, ele ficou sabendo da vaga aqui pela Odebrecht e me indicou, já que eu entendia algumas coisas sobre obras. E hoje estou aqui, realizando um sonho”, contou Edwin, com um sorriso de satisfação no rosto.

Flamenguista de coração, Edwin conta como foi seu reencontro com o estádio. “Vinha para o Maracanã desde os 12 anos de idade, sempre ao lado do meu pai. Sou torcedor do Flamengo, ferrenho. Daqueles que não perdem um jogo. Confesso que quando entrei e vi o estádio diferente, em obras, voltei ao passado e bateu uma nostalgia. Mas, após começar os trabalhos, vi que ficaria bem melhor. Agora, com a obra na fase final, já começo a me imaginar no estádio. Meu maior sonho é levar minha filha para assistir um jogo do Flamengo aqui e dizer pra ela que foi o ‘papai’ quem ajudou a erguer esse estádio”, disse.

Morado de Bonsucesso, Zona Norte do Rio de Janeiro, Edwin Aldrin brinca com o nome dado pelos pais, mas garante que isso não o atrapalha no dia a dia.

“Esse nome foi inspirado no astronauta. Nasci quatro dias depois dele pisar na Lua e o meu pai, animado pelo momento, gostou do nome e fez a homenagem”, disse o mestre de operação, que aproveitou para brincar com nossa reportagem. “Olha, eu não vou falar duas vezes meu nome, hein, não vai errar. Se eu for soletrar, complica ainda mais”, completou.

Aos 43 anos de idade, Edwin mostra vigor de adolescente e não quer descansar até que o novo Maracanã esteja pronto. “Eu só não trabalho aqui de domingo. Às vezes, quando tem um evento importante ou alguma visitação, boa parte dos funcionários comparece. Porém, de domingo, teoricamente, é a nossa folga por aqui. É pesado, mas é bem gratificante”.

Questionado sobre como iria comemorar o fim dos trabalhos no Maracanã, em março de 2013, Edwin descartou os tradicionais Samba da Gamboa e pagode do Morro de Santa Tereza, que embalam a região em torno do estádio, e mostrou que vai no contrafluxo da moda local.

“Eu não sou fã de samba. Ainda mais esse atuais, que tem pouca letra e muita frescura. Eu gosto de Iron Maiden, Led Zeppelin. Sabe como é, né?! Eu prefiro o solo da guitarra que o choro do cavaco. Tem coisa melhor?”, brincou o “mestre-de-obras astronauta”, que todos os dias, às 11h em ponto, bate seu cartão no portão 13 e inicia a diária “viagem” pelo Maracanã. 


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Ex-jogador, 'mestre de obras astronauta' compensa frustração no futebol com trabalho no Maracanã