Muita gente tem batido o martelo e decretado a morte do formato CD. A cada dia, o alto custo de produção e distribuição, a falta de glamour, a pirataria desenfreada e os downloads ilegais reduzem a pó os lucros das indústrias fonográficas e transformam os disquinhos prateados em um objeto muito propenso à extinção dentro de alguns anos.

Desde quando começou a ser comercializado, no início dos anos 80, os CDs são perseguidos pelos entusiastas do vinil, que o consideram sem-graça e com um som achatado demais. Mesmo assim, foram absurdamente lucrativos até o começo dos anos 2000. Agora, além das críticas dos aficionados pelo velho LP, o compact disc tem dado mais prejuízo que lucro para gravadoras e bandas.

Por isso, para viabilizar uma maneira de sobreviver sem o apoio de grandes gravadoras, vários artistas independentes têm procurado novas maneiras de lucrar com os disquinhos: materiais de custo mais baixo, parcerias com empresas, promoções, vendas em bancas de jornal e até gravação e produção por conta própria.

A boa e velha propaganda

Mariah Carey lançou uma minirrevista Elle junto com seu mais recente trabalho, o recém-lançado Memoirs of An Imperfect Angel, que contém anúncios de várias empresas de luxo. Com isso, a cantora ganhou patrocinadores para baratear os custos de seu disco.

Os produtos foram escolhidos a dedo pela produção da cantora para refletir seu gosto pessoal e a gravadora não pensou duas vezes antes de aceitar a proposta, já que os custos caíram muito com a parceria.

Em uma banca perto de você

O cantor Lobão conseguiu uma enorme margem de lucro com seu disco A Vida É Doce, vendido por meio das bancas de jornal do Brasil em 2001. Além dele, o paulistano Supla usou a mesma estratégia: aproveitando a promoção que teve ao seu favor quando participou do reality show A Casa dos Artistas, o cantor conseguiu ótimos resultados com seu Charada Brasileiro em 2001.

No mesmo ano, a sambista Beth Carvalho testou a estratégia e também vendeu com relativo sucesso seu álbum Nome Sagrado, gravado ao vivo com repertório composto por Nelson Cavaquinho.

Você conhece o SMD?

O SMD, ou semi-metallic disc, é uma tecnologia 100% brasileira que barateia em mais de 70% o preço de produção dos discos. De uma maneira simples e inventiva, os criadores do produto são capazes de produzir somas bem grandes de material a preços acessíveis para os artistas independentes.

Metalizando em fábrica os discos de acrílico, o custo de material cai muito na produção e possibilita que diferentes projetos gráficos sejam inseridos na superfície do disco.

Quem abraçou com gosto esse formato foi a banda paulistana Garotas Suecas, que viu no SMD uma chance real de lucrar com a distribuição independente de seu disco de estreia no Brasil.

“Na verdade, eu acho que a questão dos formatos estão mudando tanto que a gente meio que se achou nele. Era um projeto maior, mas resolvemos enxugar e produzir bem essas faixas, com uma ideia por trás. A questão dos R$ 5 é por causa do formato de SMD”, explicou o guitarrista Sesa Sayeg. “Tem rolado bem, porque como a mídia é descartável, conseguimos equilibrar com a parte gráfica, e o pessoal depois do show compra mesmo. E prezamos o formato físico.”

Parcerias empresariais

A empresa cosmética Natura ajudou a lançar, só em 2009, discos de três grandes artistas da nossa MPB. Lenine, Céu e Arnaldo Antunes tiveram apoio total da empresa no lançamento dos  seus discos e na organização de suas turnês.

“Eu só vejo vantagens nisso. Não me importo com formatos. Para mim, não faz diferença se meu disco vai sair em CD, MP3, ou vinil. O importante é conseguir lançar a sua música para as pessoas”, comentou Arnaldo Antunes. “A empresa forneceu um suporte muito bom pra mim. Essa parceria viabiliza a continuidade da minha música, mesmo sem ter contrato com uma gravadora. Estou muitíssimo satisfeito.”

Um caso especial

Os Brothers of Brazil, banda formada por Supla e pelo seu irmão João Suplicy, foi além de todas essas ideias e uniu todas as possibilidades em uma no seu disco de estreia, Punkanova, lançado este ano.

Além de estar sendo vendido a preço fixo nas bancas de jornal do país, o disco dos Brothers vem com uma revista-pôster e com uma promoção especial encartada: em pareceria com a Suzuki, também patrocinadora principal do programa de televisão apresentado pela dupla, os irmãos Suplicy lançaram um concurso cultural que dará duas motos aos autores das melhores frases. Para participar, basta comprar o disco e preencher os cupons que vêm encartados na revista.

“Desde o início, defendi essa ideia do formato e achei que era uma ótima maneira para trabalhar”, explicou  João Suplicy. “No nosso caso, vender o disco nas bancas e é muito melhor do que assinar com uma gravadora. Somos donos dos fonogramas e podemos colocar o preço que queremos. Além de tudo, hoje em dia há muito mais bancas de jornal do que lojas de CD.”

“É um período diferente de quando eu lancei o Charada Brasileiro nas bancas”, reflete Supla. “Naquela época, o produto era mais popular e foi impulsionado por aquela história do Sílvio Santos”, garantiu, relembrando seu sucesso no reality show Casa dos Artistas. “A Suzuki é nossa parceira no programa e esse acordo com eles para o disco aconteceu muito naturalmente. É um atrativo a mais para quem compra o disco.”


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Crise na indústria fonográfica: artistas procuram maneiras de dar sobrevida ao formato CD