Toritama (PE) – “Nesta semana, não preguei nenhum botão”, reclama Emanuel José da Silva Filho, 21 anos, apreensivo com a queda no movimento da indústria do vestuário de Toritama, “a cidade do jeans”, no Agreste pernambucano. A exemplo do jovem, a maioria dos trabalhadores desse município de cerca de 30 mil habitantes está preocupada com a retração nas atividades do setor. Para não ver sua economia ser tragada pela crise mundial, Toritama sabe que precisa fazer a lição de casa: qualificar a mão-de-obra para ter acesso às novas tecnologias e modernizar seu modo de produção.

Emanuel tem o perfil da maioria dos trabalhadores de Toritama, responsável por 16% do jeans produzido no país. Deixou a escola na 8ª série do ensino fundamental e pouco depois foi buscar um meio para se sustentar. Hoje, é “rebatedor” na pequena fábrica de propriedade do irmão e da cunhada. Sua tarefa é costurar a parte lateral das calças e colocar cós nelas. Recebe entre R$ 0,15 e R$ 0,20 por peça e chega a ter uma jornada diária de 12 horas de trabalho. Quando há muito serviço, confecciona 300 calças por dia. “Queria ganhar meu dinheiro, ser independente”, diz o rapaz.

“Aqui as pessoas não ligam muito para estudo, não. O negócio é fazer modinha (roupas para mulheres) e juntar dinheiro”, assinala a costureira Maria Aparecida da Silva. De acordo com o censo de 2001, o analfabetismo é de 24,8% entre as pessoas de 15 a 24 anos em Toritama. Já o percentual de chefes de família com menos de quatro anos de estudo chega a 63%.

Se por um lado o negócio bem-sucedido do jeans significou uma alternativa de sobrevivência em meio ao solo árido do Nordeste, aumentando a renda média da população – considerada uma das maiores entre os municípios do interior do Nordeste – por outro, contribuiu para a manutenção de índices altíssimos de analfabetismo e de um grande contingente de pessoas sem formação básica.

“O principal desafio de Toritama é a educação. Sem bagagem, não há como manter o patrimônio e a tendência é que se fracasse amanhã”, avalia Áureo Falcão, gerente financeiro de uma das mais bem-sucedidas marcas de vestuário do município. Segundo o executivo do setor de moda, 90% dos empregados da empresa não completaram o ensino fundamental.

“Em Toritama, jovens entre 15 a 20 anos já têm sua moto, um pequeno patrimônio e, muitas vezes, se mantêm”, comenta Falcão. Desde cedo, acrescenta, as pessoas são estimuladas a trabalhar, o que incentiva a evasão escolar. “A gente vê pessoas que não terminaram os estudos se destacar na atividade econômica. Por isso, é comum o pessoal daqui dizer que não sabe para que estudar, se é possível conseguir esse patrimônio sem precisar freqüentar a escola”.

A falta de instrução virou um entrave para modernizar as fábricas do município e torná-las ainda mais eficientes. Embora tenham capacidade financeira para investir em tecnologia, as empresas não encontram profissionais para operá-los. “Investimos em softwares para orientar o corte das peças, para aproveitar melhor o tecido, mas tenho dificuldades de encontrar gente que saiba pelo menos ligar o computador. Assim, tenho que contratar pessoas de fora”, destacou Áureo.

A fábrica que o executivo coordena tem produção média de 25 mil peças por mês e vende para todos os estados do Nordeste, além de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Por falta de profissionais qualificados, a fábrica precisa buscar estilista no Rio de Janeiro. “Como não tenho esse profissional aqui, buscar fora e, é claro, pago muito mais por um desenho”, explicou o gerente.

A esperança dos empresários da cidade para solucionar o problema de qualificação está nos cursos oferecidos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Caruaru, a 37 quilômetros de Toritama. Em Caruaru, também há uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que oferece curso de estilismo e design de moda. Além disso, em Santa Cruz do Capibaribe, cidade da região que é pólo de confecção de roupas de malha, há uma faculdade de moda.

De acordo com os moradores, a prefeitura de Toritama colocou três ônibus à disposição para levar às cidades vizinhas os interessados em participar dos cursos. No entanto, como poucos estão aptos a freqüentá-los, por não terem concluído o ensino médio, é pequeno o número de pessoas que se matriculam nesses cursos.


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Falta de mão-de-obra qualificada atrapalha “cidade dos jeans” em momento de crise