Roberto Carlos se diz à moda antiga quando explica que ainda manda flores, mas a chuva de pétalas sobre o corpo de Mena Suvari no filme Beleza Americana (foto), o cravo e a rosa que “brigam” debaixo da sacada e a própria distribuição de rosas ao final dos shows do Rei mostram que certas coisas não mudam. Só não aproveita quem não quer ou é muito distraído.

Claro que as flores também representam a virgindade (daí “deflorar”), mas a ligação romântico-sexual com elas é inegável. Flor, botanicamente, é isso: a parte onde ficam os órgãos reprodutores das plantas classificadas como angiospermas ou magnoliófitas. Não há evidência científica de que essa função biológica seja a razão da atração ou inspiração romântica que exerce sobre nós, mas também não faltam referências históricas e mitológicas.

Cleópatra, por exemplo, usava óleo de jasmim em seus cabelos quando se encontrava com o imperador romano Marco Antônio para assuntos sérios e acabava com a tal seriedade. Até hoje é considerado o mais sensual dos óleos mais sensuais, que são os das flores brancas, que abrem à noite. Outra do tipo é o narciso, que, segundo a mitologia grega, nasceu da beleza de um rapaz. A mais versão mais comum para a morte do belo relata que ele se achava bonito; a ponto de admirar o próprio reflexo em um lago até cair n’água e afogar-se.

Mas há outras, mais picantes. Uma delas diz que o pobre rapaz não se auto-admirava: na verdade, ele era apaixonado pela irmã gêmea e, ao ver-se no lago, achou que fosse ela e jogou-se na relação. Segundo outra, o bonitão desprezava seus pretendentes masculinos e, por isso, foi amaldiçoado pelos deuses a apaixonar-se pelo primeiro homem que visse pela frente. Viu seu reflexo e deu no que deu. Todas as variantes acabam do mesmo jeito: o corpo morto tranforma-se numa flor cheia de apelo erótico.

Outro galã grego mitológico que virou flor foi Jacinto. Ele era mortal, mas os deuses do Olimpo gostavam muito dele, especialmente Apolo, deus da luz, sol, beleza, medicina, música, poesia, entre outras tarefas. Estavam os dois brincando de uma espécie grega mitológica de frisbee. Foi quando Zéfiro, deus do vento oeste, também gamadão em Jacinto, viu a cena, ficou com ciúmes e fez virar o vento, para que o disco fosse na testa do garotão. O vento deve ter sido forte, porque nem os poderes medicinais de Apolo foram suficiente para que Jacinto não morresse ali mesmo. Sentindo-se culpado, transformou o sangue de Jacinto que caía na relva em uma flor. Que se abre na primavera.

Os gregos antigos também gostavam de dizer que a orquídea era a volta à vida de Orkhis, filho de uma ninfa com um sátiro, morto em uma das Bacanais, as festas em homenagem a Baco, deus do vinho. Com o tempo, essa palavra passou a designar só festa regada a sexo, mas as originais tinham mais coisa junto. A fama da flor pegou: ainda na Grécia antiga, o filósofo Teofrasto dizia que uma aplicação dela nos genitais era suficiente para que o danado se levantasse 12 vezes seguidas. Ainda hoje acredita-se que o tubérculo maior estimula o desejo.

A orquídea também estava em Hamlet, de Shakespeare. Quando Gertrudes, mãe do protagonista, conta a Laertes sobre a morte de Ofélia, ela detalha ainda que a moça tinha na grinalda uma flor batizada pelos pastores com “um nome grosseiro”, a orquídea da espécie “testículos cheirosos”, por causa da morfologia da planta, com tubérculo que se assemelham aos testículos. Aliás, a palavra “orkhis”, que nomeou o personagem da história e serviu de radical para o nome da planta significa, em grego, exatamente “testículo”.

O Oriente antigo também reconhecia o poder das flores. A mais divinal do tipo de mulheres, segundo os textos clássicos hindus, é a mulher-lótus, de rosto belo, pele delicada, olhos brilhantes, seios fartos e voz baixa e musical. Seu órgão sexual tem o perfume de um lírio recém-florescido e seu suor, diz o filósofo Vatsyayana,cheira a almíscar. Ele recomenda ainda que o quarto do amor tenha flores, para perfumar a boca e ornamentar, sugestão que também faz parte do Kama Sutra.


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A história sexual das flores