Chega o fim de semana e seus amigos começam a te chamar para a balada. Você escolhe o lugar, reserva a grana e avisa todo mundo. Mas, pouco antes de sair de casa, sempre tem alguém que te liga e diz: “tô passando pra comprar as bebidas. Aí a gente aproveita e faz um ‘esquenta’ antes de entrar na balada”.

O que parece ser uma atitude normal e que serviria só pra alegar a noite pode, na verdade, ser um primeiro passo para estimular uma doença que atinge cada vez mais jovens no Brasil: o alcoolismo.

“A noite não ficava tão divertida. Parecia que eu precisava do álcool pra poder ficar engraçado, ficar bem. Eu achava que tinha o controle da situação e nunca pensei que a bebida poderia se tornar uma inimiga. Até que eu comecei a beber sempre e em qualquer lugar: em casa, sozinho, antes de ir pra aula, não importava mais. Foi só aí que eu percebi que a brincadeira tinha ido um pouco longe demais”, afirma o estudante de relações públicas Marcelo Dias, 19.

E o caso dele está longe de ser uma exceção. Uma pesquisa inédita feita pela Secretaria Nacional Anti-drogas revelou que 16% dos adolescentes entre 14 e 17 anos já consumiram bebidas alcoólicas em excesso (o equivalente a cinco doses ou mais ao longo do dia).

Outros estudos sobre o tema ainda apontam que quase a metade dos adolescentes entre 12 e 17 anos já experimentaram bebidas com teor alcoólico alguma vez na vida. Desse número, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes de álcool.

Para tentar entender um pouco mais sobre este assunto, conversamos com o psiquiatra Ivan Mário Braun, membro do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) e autor do livro “Drogas: Perguntas e Respostas”, uma espécie de guia para quem tiver interesse em saber mais sobre as causas, os efeitos e os tratamentos que envolvem as substâncias entorpecentes. O especialista esclareceu algumas de nossas dúvidas e ainda explicou várias questões sobre o alcoolismo. Se liga só no que ele disse:

– Primeiros sinais
Existem alguns fatores que podem indicar se a pessoa está ou não se tornando dependente do álcool. Entre os principais estão:
Queda no rendimento escolar;
Isolamento;
Mudança no círculo de amizades;
Alterações na rotina e falta de comprometimento com horários, por exemplo;
Aumento na freqüência com que a pessoa fica embriagada;

– Tratamentos
Depende da idade. A maioria das medicações utilizadas aqui no Brasil é aplicada em adultos. Para fazer o tratamento com os jovens, são necessários alguns cuidados maiores. Ainda assim, medicamentos como o Naltrexone e o Topiramato são muito usados e podem ser úteis.
Além disso, o acompanhamento psicoterápico é, sem dúvida, recomendado nesses casos.

– Família
O comportamento dos pais ajuda muito a definir por qual rumo o jovem vai seguir. Ter um mau exemplo dentro de casa é sempre prejudicial. Pais que acham q beber é “bonito” ou “coisa de macho”, por exemplo, acabam alimentando o vício.
Vale lembrar também que o aspecto genético no alcoolismo já é comprovado. Pessoas que têm familiares alcoólatras possuem uma tendência maior a seguirem pelo mesmo caminho.

– Álcool: Homens X Mulheres
Ao contrário do que muitos imaginam, o efeito das bebidas alcoólicas é diferente em homens e mulheres. Elas são mais sensíveis ao álcool e também se tornam dependentes mais facilmente do que eles. Por isso, é preciso tomar bastante cuidado com os excessos.

– Vida Sexual
O álcool de fato prejudica sexualmente o indivíduo. No caso do homem, ele pode causar impotência e esterilidade. Na mulher, pode inclusive influenciar no desenvolvimento embrionário e gerar conseqüências negativas para o feto.

– Leis e Proibições
As leis e os projetos para proibir o uso de bebidas alcoólicas (principalmente nas proximidades de escolas e faculdades) já existem, mas eles nem sempre são cumpridos. Acredito que algumas restrições à venda são importantes e podem dar resultado. Em países como a Inglaterra, algumas pequenas mudanças como não poder vender bebidas após um determinado horário, por exemplo, já ajudaram a diminuir a incidência do problema por lá.

Tomar uma cervejinha com os amigos e se divertir na balada com certeza são atitudes saudáveis e que fazem bem pra qualquer um. Mas, depois de tudo o que o Dr. Ivan disse e que as pesquisas comprovavam, você deve pensar duas vezes antes de exagerar na dose, não é mesmo?


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Alcoolismo: um gole a mais e uma transa a menos