Sem querer você escuta a conversa dos dois caras na mesa ao lado:

– A conta deu 16 reais… Cada um paga 8 então, certo?
– Certo! Deixa eu ver a minha carteira aqui…
– Olha, eu tenho uma nota de 10 (mostra a nota de 10)
– Eu tenho uma de 10 também, mas espera aí que não tô achando
– Procura aí!
– Tô procurando… Caramba, será que eu não trouxe meu dinheiro!?
– Pô, não é possível! Você já me deve 10 reais da semana passada, vou ter que te bancar hoje de novo?
– Não, não. Espera aí que eu vou achar o dinheiro (mexe nos bolsos)
– Ahhh, seu pilantra!

(muita enrolação depois)
– É, velho. Muito estranho isso, acho que eu vim meio desprevenido hoje… Tem como você inteirar os 15 aí? Amanhã eu te pago
– Amanhã me paga? Amanhã é sábado, a gente nem se vê amanhã
– Ah, é… Segunda-feira então eu pago… Mas paga hoje aí, vai! Tô durão!
– De novo isso, eu não acredito… Tá bom, vai, pago dessa vez… Mas que seja a última!
– Claro que é a última. Valeu mesmo, amigão! Semana que vem te pago sem falta

E todos sabem que as chances de esse cara pagar o outro são quase inexistentes…

Impossível presenciar tal cena e não se indignar, mas o tipo de caso é bem mais comum do que deveria ser. Todo grupo de amigos tem o seu “trambiqueiro” – com o perdão do termo ofensivo.

No grupo entrevistado pelo Boys and Girls, por exemplo, esse personagem atende por Filipe Rizzo, um inveterado caloteiro segundo os colegas de faculdade.

“O Filipão é gente fina, mas tem o péssimo hábito de passar a perna nos amigos”, comenta Gabriel Danius, que estuda há dois anos com Rizzo e faz uma conta rápida: “olha, se juntar tudo que eu já paguei pra ele em bar desde o início da faculdade dava pra pagar umas mensalidades do curso… Em compensação se juntar tudo que ele já me devolveu, mal dá pra pagar uma passagem do ônibus que eu volto pra casa!”.

Direito de defesa ao nosso acusado: “eu sempre falo que estou sem dinheiro quando vou pro bar. O pessoal é que insiste pra eu ir e já sabe que vai ter que pagar a minha parte… Sem essa de caloteiro”, pede Filipe. “Nem sempre me sobra, mas quando eu estou bem de grana não penso duas vezes em gastar com os meus amigos”, complementa.

“Não acreditem nesse trapaceiro”, alerta Diego Estrella, outro integrante do grupo de amigos e alvo das maracutaias de Filipe Rizzo. “A cada ano que começa a gente tenta acreditar que ele vai mudar e chama pra beber com a gente. Porém não dá, é sempre a mesma coisa. O safado abusa mesmo da nossa boa vontade”, se lamenta.

Diego se diz a maior “vítima” dos golpes, e fala de si mesmo na terceira pessoa: “ele deve muito pra mim. Sempre sobra pro coitado do Diego Estrella, é muito chata essa situação”.

Será que é possível manter a amizade com alguém que te deve muito dinheiro e carrega a fama de péssimo pagador?

“É difícil. Uma hora você joga as dívidas na cara e até bons amigos ficam estremecidos. Mas claro que dá pra ter um amigo com esse perfil, a prova é que eu considero o Filipe um amigão apesar de tudo”, acredita Gabriel Danius.

Ainda assim ele reconhece: “todo mundo está sujeito a passar por um dia ou outro em que precisa ser bancado, até eu já passei. O que não dá é pra agir assim diariamente”.

Está dado o recado. Coloquem a mão na consicência, trambiqueiros do Brasil.

E, claro. Especialmente, coloquem a mão na carteira!


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Bebeu e não pagou! Os caloteiros do nosso dia-a-dia