A falta de anonimato talvez seja uma das principais diferenças entre os “maníacos” por chocolate e outros tipos de dependentes. Ou você acha que alguma outra comunidade de viciados seria tão grande e animada como a “Eu Amo Chocolate”, com seus mais de 3 milhões de membros no Orkut?

Comer chocolate libera serotonina no corpo, o que explica o fato de tanta gente sentir euforia depois de provar um bombonzinho. No entanto, o fator inconsciente não pode ser ignorado para explicar o surgimento do vício. “Quando somos pequenos aprendemos que a sobremesa é um ‘prêmio’ e que, se nos comportarmos bem, vamos ganhar guloseimas. Isso colabora para formar a sensação de bem-estar que o chocolate traz”, explica a psicóloga Mariângela Savoia, ela mesma, grande fã do doce.

Mariângela concorda que há muitas semelhanças entre a dependência por chocolate e outros vícios mais pesados, mas diz serem raras as pessoas que procuram tratamento, e não as recrimina. “O grande risco do consumo obsessivo de chocolate é mesmo a obesidade. No mais, o alimento faz bem. E inclusive pode ter o mesmo efeito de antidepressivos para certos pacientes”, conta.

Estima-se que US$ 60 bilhões sejam movimentados anualmente no mercado de chocolate do mundo todo. É pouco se comparado aos exorbitantes lucros da indústria de cigarros ou de automóveis, mas o negócio certamente está entre os mais rentáveis na economia dos tempos atuais.

Milionários excêntricos do ramo, como o Willy Wonka, de “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, não são apenas personagens de ficção. Afinal os clientes dessa gigantesca indústria são praticamente todos os habitantes do planeta – de crianças a idosos, passando pelas mais distintas classes sociais.

Tamanha devoção não ocorre à toa. Os prazeres provenientes do chocolate são muito semelhantes aos do uso de uma droga: pesquisas mostraram que deixar uma barra do produto derreter lentamente enquanto se mastiga pode causar batimentos cardíacos até duas vezes mais intensos e duradouros que os causados por um longo beijo na boca (uma das maiores reações de êxtase do corpo humano). Então é melhor beijar na boca e comer chocolate do que partir pra outros tipos de estados alterados do corpo, não é mesmo?

A estudante paulistana Lílian Figueiredo, de 21 anos, é total adepta dessa filosofia. “Não consigo passar um dia sem comer chocolate, me faz tão bem quanto o beijo do meu namorado”, afirma sem desmerecer o namorado (que, afinal, em casos assim, deve se orgulhar de estar no mesmo patamar da guloseima). Lílian, desde muito nova, come religiosamente todo dia uma barra de chocolate após o almoço, e concorda que o efeito está diretamente relacionado ao seu humor. “Eu como e me animo, é automático!”

O mesmo prazer satisfatório é relatado pelo advogado Bruno Lopes, de 26 anos. Porém, ao contrário de Lílian, ele atualmente se deu conta que deve controlar seu vício: “Se hoje sou gordinho, foi por comer tanto chocolate durante a vida toda. É uma pena, porque, exceto pelas calorias, comê-los só me faz bem”.

Bruno acredita que não passam de mitos os outros malefícios atribuídos aos hábitos chocólatras, como o nascimento de espinhas (e as pesquisas científicas realmente estão do seu lado: nunca foi comprovado que o consumo de doces esteja relacionado ao acúmulo de acne).

Comprovado mesmo só que o consumo regular de chocolate ajuda a prevenir doenças como a fadiga, o colesterol e alguns tipos de câncer. Na sua composição há proteínas, cálcio, magnésio, ferro, zinco, caroteno, vitaminas E, B1, B2, B3, B6, B12 e C… Só coisas que fazem bem, quando ingeridas com moderação.

Um caso famoso serve para ilustrar bem o que o chocolate significa na vida de um chocólatra. A saltadora Maureen Maggi, uma das esperanças de medalha para o Brasil nas Olimpíadas de Pequim, declarou recentemente que consegue abandonar qualquer coisa, menos o chocolate de sua dieta.

Ela é uma chocólatra assumida, daquele tipo que não vai conseguir deixar de comer chocolate nem aqui… Nem na China!


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O "vício bom" dos chocólatras