A Bulgária passa a questionar a vizinha Romênia sobre a origem pagã da lenda dos vampiros, ao abrigar em Sófia o esqueleto de um suposto “bebedor de sangue”, que, por sua vez, foi encontrado há alguns dias em um túmulo medieval na cidade de Sozopol e às margens do Mar Negro.

 

O suposto vampiro, ou melhor, o esqueleto de um homem, cuja identidade e idade ainda são desconhecidas, foi enterrado em uma casa com uma barra de ferro cravada em seu coração. A partir desta sexta-feira (22), os restos mortais desse “vampiro” serão expostos no Museu Nacional de História em Sófia.

O personagem, que data do século XIV, é uma clara mostra de um costume pagão, o qual consistia em atravessar o coração dos mortos com uma lamina metálica para que o mesmo não conseguisse ressuscitar.

Assim explicou à imprensa o diretor do museu, Bozhidar Dimitrov, ao apresentar o achado. Na ocasião, Dimitrov datou a origem dessa crença em vampiros na Idade Média e, inclusive, mais cedo, na época dos conventos cristãos no reino búlgaro.

“Os vampiros são parte da mitologia búlgara e essa crença é fruto do pré-cristianismo, mas o próprio cristianismo rejeitou essa lenda”, explicou Dimitrov, um reconhecido historiador búlgaro.

Segundo o estudioso, a crença popular daquela época consistia na morte, já que somente as pessoas justas e sem pecados teriam sua alma elevada aos céus.

Por outro lado, as almas dos maus ficavam em seus corpos e, muitas vezes, precisavam sair de baixo da terra para beber sangue, primeiramente de animais e, posteriormente, de seres humanos, reza a lenda.

Com a intenção de evitar que um ser se transformasse em vampiro, um grupo de valentes locais exumava o cadáver, na noite posterior ao enterro e antes da meia-noite, e cravava uma barra de ferro ou de madeira no peito do morto.

“Nos mais ricos, usavam ferro e, nos mais pobres, cravavam uma adaga de madeira”, assegurou Dimitrov, após acrescentar que assim se achava que o peso do material pressionaria o morto para que ele não conseguisse se levantar.

O pesquisador ressaltou que o fato registrado nas terras do que hoje é Romênia não deve estranhar ninguém, já que este território fazia parte do reino búlgaro até o século XIV, quando o país caiu sob o império otomano.

Dimitrov coloca em xeque a lenda de que a Romênia seja o berço do vampirismo, criada graças ao livro “Drácula“, publicada em 1897 pelo irlandês Bram Stoker e baseada em contos populares da região sobre um governante local chamado Vlad Tepes.

O diretor do museu também disse que o esqueleto em questão foi achado atrás de uma igreja medieval, um lugar reservado especialmente para enterrar pessoas importantes e de alto nível social, como prefeitos, arrecadadores de impostos, conselheiros municipais e sacerdotes.

“Mas também poderia ser de um pirata marítimo que atuava nesta região naquela época. Era conhecido como Krivich“, supôs Dimitrov.

Segundo o pesquisador, após o primeiro achado, um segundo túmulo também foi encontrado com uma barra de ferro atravessada no peito. Pela constituição dos ossos e pela proximidade do primeiro túmulo (apenas 50 centímetros), Dimitrov suspeita que esta poderia ser a esposa do tal nobre ou a do pirata.

“Infelizmente, os ossos da suposta esposa estão em muito mal estado e não podem ser transferidos. Por isso, fomos obrigados a divorciar o casal”, brincou Dimitrov.


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Vampiros búlgaros ofuscam romenos na busca pela origem desta lenda