SÃO PAULO (Reuters) – O blueseiro Buddy Guy mostrou ser mais do que o maior guitarrista de blues, como definiu certa vez o astro Eric Clapton. No show de sábado no Credicard Hall, em São Paulo, ele provou ser, além de tudo, um verdadeiro “showman”.

Íntimo do público brasileiro (esta é a oitava vez que faz shows no país), Buddy, de 66 anos, soube como conduzir a platéia ao delírio.

Dos 3.780 lugares à disposição, poucos ficaram desocupados e o público era diverso principalmente em idade. No palco, porém, sobrava espaço diante da pequena formação da banda que acompanhou o músico: Tony Z no teclado, Jerry Bling-Bling na bateria, Orlando Wright no baixo, Frank Band na segunda guitarra e Jay Monihan no sax barítono.

Buddy Guy subiu ao palco por volta das 22h34 e, sem pronunciar uma palavra, arrancou de sua famosa Fender Stratocaster preta de bolinhas brancas o conhecido riff de “Dust My Broom”, de Robert Johnson. A banda atacou em seguida, e Buddy brincou com ela por alguns compassos, apresentando músico por músico.

No meio da canção, que teve a letra improvisada por Buddy Guy, o blueseiro cantou: “I’m crazy about São Paulo…. I’m crazy about Brazil…”. E o público, até então quieto, veio abaixo.

Outro ponto alto da apresentação foi um longo e inspirado solo de Buddy que por diversas vezes ficou inaudível tamanha a interação do músico com sua guitarra e o desejo de tirar dela riffs profundos.

E o show não se limitou apenas ao blues, mas contou ainda com a balada soul “Feels Like Rain”, do CD homônimo de 1993. Durante a música, Buddy Guy conduziu a banda até que a canção virasse um funk, com a platéia respondendo ao refrão, num dos momentos mais líricos do show.

“Hoochie Coochie Man”, de Muddy Waters, e “Voodoo Chile”, de Jimi Hendrix, fizeram o público gritar e bater os pés — no palco, Buddy e seus companheiros não esconderam um certo ar de surpresa com a reação do público. À la Hendrix, Buddy solou com os dentes, com a guitarra nas costas e no meio das pernas.

Ao final do show, quando Buddy começou a atirar palhetas em direção à platéia, senhores e senhoras de cabelos brancos, adolescentes e marmanjões disputaram a tapas e safanões os pequenos triângulos plásticos, enquanto eram puxados e empurrados pelos seguranças que tentavam manter alguma ordem no local.

As palhetas traziam a assinatura de Buddy de um lado e uma frase de outro, como “I love you” (eu te amo) e “Don’t bring sand to the beach” (não traga areia à praia).

Em meio ao tumulto, os fãs começaram a erguer os mais diversos objetos para que Buddy os autografasse. Eram CDs, papéis arrumados às pressas, apoios de copo surrupiados das mesas, um escudo plástico de guitarra e até mesmo uma guitarra Fender Stratocaster azul nova em folha.

Visivelmente não acostumado com esses arroubos de popularidade, Buddy tentava dar conta dos pedidos. Ele acabou deixando o palco às 11h55, tendo tocado aproximadamente 20 minutos a mais do que o previsto.

Os fãs aparentemente deixaram o Credicard Hall satisfeitos. “O outro (em 2000, no Via Funchal) foi mais show, mas este foi mais espiritual, mais blues”, disse o músico Fábio Ribeiro, de 31 anos, guitarrista da banda paulistana Mágico de Noz e dono da guitarra autografada pelo blueseiro.


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Buddy Guy incorpora o 'showman' em apresentação em SP