De uns anos para cá, o hip hop norte-americano deixou de ser uma música homofóbica e assistiu a emergência do “queer rap”, de nomes como Mykki Blanco, Le1f, Zebra Katz e House of LaDosha. Também graças ao multiculturalismo, as batidas do gueto global embalaram sons de nomes como M.I.A.Azealia Banks, Brooke Candy, Charli XCX e Grimes.

Quem pensava, no entanto, que este sopro de novidades não chegaria ao Brasil, vê o rap feminino de Flora Matos, Carol Conka e Tássia Reis quebrando a barreira do machismo. Assiste também à chegada de talentos, como o paulistano de 24 anos Rico Dalasam, que prova da inevitabilidade das mudanças.

Ouça Rico Dalasam

Nesta sexta-feira (28), Rico liberou a faixa Aceite-C, primeiro single do seu álbum de estreia. O Virgula Música conversou com o rapaz.

O que você acha que sua geração tem a somar no hip hop? Que características sua música traz que são novas?

Minha geração arejou as ideias sobre rap, sobre música e faz música pro mundo, sem perder o compromisso que nos fez trazer o hip hop pra ser nosso estilo de vida. Eu faço música pra libertar, não faço música pra uma cena especifica. O rap é meu amigo, nós transitamos por diversos lugares, assim como eu minha música é feita de varios guetos.

Você mesmo que produz suas músicas? Como é o processo?

Esse é meu debut álbum, nos últimos anos lancei singles em batidas que já existiam. Pra esse, separei as letras que entrariam no CD, idealizei o clima, os timbres, instrumentos com todos os detalhes e fui fazendo parcerias com beatmakers que eu tinha vontade de trabalhar. Nessa equipe tivemos Filiph Neo, Casp, Tico Pro, Gedson Dias, e o Vini.

O Aceite-C, primeiro single do seu álbum tem um conotação de afirmação sexual? 

Há algum tempo, cheguei à seguinte definição: a aceitação move o rejeitado. Porém, mais que isso, a rejeição move quem se aceita, sempre acompanhei de perto, na minha acasa, na minha rua, na minha escola dois grandes conflitos: negros x polícia e religiosos x gays (partindo do opressor).

Seja o gay, o negro, o religioso, o rapper, o policial, seja quem for que ouça esse som e se aceite mais, sem atravessar o samba de ninguém, até porque boa parte da sociedade é no minimo duas dessas coisas (risos).

Como apresentaria a si mesmo para alguém que gosta de música brasileira alternativa, mas que ainda não te conhece? 

Em algum ponto eu sou igual a você. Vou até dizer que em vários. Minha música é feita de minorias, o que me faz acreditar que ela é grandiosa. Eu sou aquela novidade que vários ja pensaram em ser, já dançamos as mesmas baladas. Só que agora finalmente nos encontramos pra dançar essa.
Quem são seus heróis musicais?
 
Creio na sinergia que há entre o som e a imagem. Há uma magia quando o artista acerta nisso por isso esses três são exatos e não enjoo: Rick James, Prince e André 3000.
 
Que outros nomes da nova cena vocês gosta e indica?
 
Uma MC mulher Karol de Souza e um cara o Amiri. Esse pessoal é 2030 de bom.
 
Que aspectos crê ser recorrentes entre esses nomes, um zeitgeist, o espírito do tempo, do momento?
 
Quem pensa um pouquinho, já sabe o que os ventos trarão, tudo oque surge dentro de uma cultura, seja através de variações, mutações, já estava sendo fomentado de alguma forma. Assim como a moda vem das ruas. Creio que o inconciente coletivo permeia essas definições.
 
O single abre com Daniela Mercury, crê que a música brasileira estejam em processo de fusão com outros gêneros? O que a música tem a ganhar com esse diálogo?
 
É quase impossivel não existir essas fusões por aqui. É muita coisa boa e diferente acontecendo na música nacional. Alguém encontra com alguèm e mescla essas riquezas. O rap faz isso muito bem, geral quer pedacinho de rap na sua música, uma participação, coisa assim e a chance de ficar bom é sempre grande.
O que considera o melhor na tradição do hip hop?
 
Sintetizando, o hip hop salva vidas, educa, reeduca, o hip hop é bárbaro (risos). 
 
E o que considera que será o hip hop do futuro?

A sociedade consome hip hop através de um grafite, de um rap gringo que toca no ambiente. Isso à distância, de longe. A cultura tem entrado na casa das pessoas, nas vidas e em um futuro próximo, com suas variações, vai ter hip hop pra todo mundo e todo mundo vai ter uma grau de relação com a cultura.


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Conheça Rico Dalasam, rapper paulistano de 24 anos que prepara álbum de estreia