Qinho


Créditos: Jorge Bispo/Divulgação

Marcos Coutinho é carioca, tem menos de 30, estudou comunicação em uma instituição privada e é apaixonado pela MPB. Falando assim, Marcos poderia ser apenas mais um entre tantos jovens de classe média-alta da zona sul do Rio.

A diferença é que Marcos foi além das sessões de surf e festinhas regadas a música brasileira e, inspirado em Gilberto Gil, Jorge Ben Jor e Milton Nascimento, adotou o nome Qinho e se tornou uma das promessas da nova geração da MPB.

Mais confiante e certeiro que no início da breve carreira, Qinho acaba de lançar O Tempo Soa, álbum que expande os horizontes apresentados em Canduras, de 2010, o bem recebido disco de estreia.

Se no primeiro registro o clima era intimista, acústico, O Tempo Soa ousa um pouco mais, apoiado em timbres e sonoridades que remetem aos melhores momentos da soul music norte-americana. Faixas como Irmã Forte e Troca são dançantes e nitidamente brasileiras, enquanto Caminhada e Mesmo Assim têm um quê de jazz, e até o rock n’ roll mostra presença, na faixa-título do álbum. A mistura é sutil e delicada, mas muito eficiente. Afinal, é a MPB legitimamente carioca que amarra tudo isso.

Bem-humorado, soando quase despretensioso, Qinho revelou as inspirações por trás do novo álbum, em entrevista exclusiva ao Virgula Música. Dois anos após o disco de estreia, Qinho parece sentir na pele o efeito implacável do tempo. Mais maduro e consciente, não exibe falsa modéstia; acredita fazer parte de uma geração que veio para ficar, e sentencia: “Vamos consolidar essa geração e fazer história”.

Virgula Música: Qual era sua intenção, seu objetivo, ao produzir O Tempo Soa?

Qinho: A intenção foi chegar em uma sonoridade mais próxima à black music, misturada ao meu jeito de compôr, mais ligado à MPB. Canduras foi um disco mais voz e violão, mais voltado para as composições, e n’O Tempo Soa eu quis trazer para algo mais “de banda”.

Virgula Música: E de onde veio essa necessidade de adotar essas novas influências? Era algo que você já tinha planejado?

Qinho: Eu já tinha interesse de fazer isso com a minha antiga banda [a extinta Vulgo Qinho & Os Cara], mas como era um processo coletivo, acabávamos indo para uma linha mais rock n’ roll. No Canduras eu ainda tinha a banda, então fui para um lado mais ‘minimal’, porque ainda acreditava naquilo e não queria fazer um som que “esbarrasse” no deles. Aí nesse disco consegui pela primeira vez chegar nesse som. É o início de uma busca minha.

Virgula Música: Vários artistas gostam de pensar em novos trabalhos como uma resposta aos anteriores. Você também pensa assim?

Qinho: Eu acho que tem muito disso, de um disco “conversar” com o outro. Mas quem ouvir os três discos vai achar muita coisa em comum. Agora a liberdade é maior, não me preocupo mais em ficar entrando ou saindo de banda, nada disso.

Virgula Música: Então podemos resumir O Tempo Soa como uma mistura dos seus trabalhos anteriores com novas influências?

Qinho: Talvez sim. Até o nome do disco mostra um pouco disso, do tempo passando, interagindo, trazendo coisas novas. E as letras falam muito sobre isso, sobre a transformação do tempo, com um pouco de romance, de amor porque está tudo ligado. No amor e na dor sentimos uma influência maior do tempo, nos conectamos com ele de uma outra forma. É o que a gente vive mesmo, o tempo passando e a gente quebrando a cara, sendo feliz, essas coisas.

Virgula Música: Com um som um pouco mais focado no ritmo, você pretende fazer shows mais dançantes?

Qinho: Com certeza. O show agora tem uma pegada muito bacana, muito pop, muito black, com uma brasilidade que faz as pessoas dançarem, mas não é um baile. Ainda tem alguns momentos mais conceituais, que trazem mais para uma coisa de teatro, de prestar atenção nas letras.

Virgula Música: O Tempo Soa está disponível em algumas plataformas virtuais, assim como seu outro disco. Como você encara essa relação entre a música e a internet? Você baixa músicas?

Qinho: É uma coisa totalmente nova, ainda estamos aprendendo, arriscando. Sou muito a favor de baixar músicas na internet, e acho que isso não faz mal a ninguém. Mas também acho que temos que encontrar uma forma de remunerar os artistas. Gosto dessa coisa do streaming, porque você tem acesso a um acervo de milhões de músicas e ouve a que quiser pagando uma taxa mensal. Não temos muito como saber, é tudo muito novo, mas é uma saída.

Virgula Música: Nos últimos anos, o Brasil viu surgir muitos artistas novos inspirados pela MPB. Você vê o seu trabalho dentro dessa nova geração?

Qinho: Eu consigo me perceber junto dessa galera, sim. Hoje em dia tem muita gente nova interessada em fazer novas canções originais, autorais. Mesmo de forma ainda tímida, pela internet, em circuitos alternativos, estamos conquistando espaço no mercado. Eu me considero ainda muito “verde”, vou melhorar com o tempo, me aperfeiçoar. O que tá rolando é que esse pessoal não veio para sumir daqui a um ano ou dois, vão fazer carreira. E quando essa galera for se encontrando, desabrochando, vamos consolidar essa geração e fazer história.

Virgula Música: Você se imagina em uma carreira longa, com vários discos?

Qinho: Sim, ainda tenho muita lenha para queimar (risos). Caras como o Caetano [Veloso] ou o [Jorge] Ben Jor têm dezenas de discos, e quando eles estavam no segundo ou terceiro, talvez as pessoas não soubessem o que iria sair dali.

Serviço:

Qinho
Álbum: O Tempo Soa. 10 faixas com participações de Elba Ramalho, Mart’nália, Amora Pêra e Botika. 
Gravadora: Microservice
Preço: a partir de R$ 23,90 


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Destaque na nova geração da MPB, Qinho expande horizontes em 'O Tempo Soa'