Metá Metá

Referência máxima na cena que trouxe uma complexidade e profundidade que andavam distantes da MPB desde os anos 80, ainda que sempre viva no underground e na cultura popular, o Metá Metá está em uma extensa turnê europeia.

Colhem os frutos do talento e de uma carreira bem-sucedida no Brasil e internacionalmente. Seus integrantes individualmente estão envolvidos em projetos que tornam São Paulo um dos lugares mais quentes do momento e para onde o mundo têm olhado em busca de novidades.

O Selo Sesc lançou em maio o álbum digital Sessões Selo Sesc #3: Metá Metá. Gravado ao vivo no Sesc Bom Retiro, em março de 2018, o show contou com o repertório de MM3, terceiro álbum do trio lançado em 2016, além de músicas dos dois primeiros álbuns Metá Metá (2011) e MetaL MetaL (2012).

Metá Metá significa “três ao mesmo tempo” na língua youruba, um idioma secular africano, que hoje é falado por mais de 25 milhões de pessoas no mundo. O trio formado em 2008 por Juçara Marçal (voz), Thiago França (sax) e Kiko Dinucci (guitarra) é considerado um dos grupos mais prestigiados e representativos do cenário musical brasileiro na atualidade.

Seu álbum mais recente MM3, conta com fortes influências da África do Norte, de países como Marrocos, Etiópia, Niger e Mali, e uma sonoridade única. Leia a íntegra de nossa conversa com a incrível Juçara Marçal.

 

O que acham que está rolando de mais interessante na música brasileira hoje?
Juçara – A música brasileira me parece a cada dia mais rica. Para além da música do mainstream, tem uma efervescência espetacular. Autores, intérpretes, arranjadores, produtores, propondo tantas possibilidades de construção e desconstrução da música feita no Brasil. Muitos sotaques, muitas referências, se reinventando.

Aponto: Negro Leo, Edgar, Maria Beraldo, Juliana Perdigão, Ava Rocha, Alzira E, Gui Amabis, Siba, entre muitos outros.

Falem sobre Sessões Selo Sesc #3: Metá Metá. Por que quiseram gravar um disco ao vivo?
Juçara Marçal – O convite para o registro ao vivo do show partiu do Selo Sesc. Topamos com muita facilidade, porque pra gente é muito interessante perceber a cada show, como o som do grupo vai se transformando, e ter uma gravação legal disso é tipo: um presente.

Outra coisa legal da gravação desse show ao vivo é que o repertório faz um apanhado de vários álbuns, formando um todo bem diferente dos discos, com outra linha de coesão entre as canções, outra sonoridade. Fica tudo mais quente!

Qual é a importância das turnês da banda pra manter a coesão?
Juçara – No ano passado, por exemplo, a turnê foi importante para maturar a sonoridade do show do novo álbum, MM3. Álbum que foi, em boa parte, gestado na turnê de 2015.

A cada ano, esse tempo que passamos tão juntos, é momento de tornar o repertório mais fluido, experimentando vários formatos de show. Vai se consolidando um entendimento musical profundo, que permite que o grupo respire muito junto. Isso se revela como potência e vibração no som como um todo. Este ano, em vários festivais que tocamos, essa força do grupo foi percebida, tanto pela plateia, como pela crítica.

Na Europa vocês tocam em festivais e casas de show de jazz, rock, música de vanguarda, como quebrar o mecanismo vigente no Brasil?
Juçara – Não sei se entendi a pergunta… o que posso dizer é que o cenário de lugares pra se tocar no Brasil é bem mais restrito que na Europa, o que dificulta tanto para produtores como para os artistas.

Aqui na Europa, o número de festivais é imenso, de todo tamanho, com cidades super pequenas com capacidade de trazer várias atrações internacionais para seu lineup. Alguns festivais são organizados por uma pequena comunidade de um cidade. A mesma coisa com várias casas de show, de pequeno e médio porte, com uma programação bem diversificada. Isso facilita o trânsito. Não são grandes cachês, mas a quantidade e diversidade de lugares possibilita a estruturação de uma tour.

No Brasil, a gente tem poucos festivais, muitos inevitavelmente presos a uma necessidade de plateias gigantescas, o que acaba definindo um lineup de grandes nomes. Já as pequenas casas sofrem muito com a inviabilidade de se manterem sem subsídios. O mesmo acontece com festivais menores, que se mostram interessados, mas não conseguem viabilizar a ida de um grupo de 5 pessoas, como o nosso, por exemplo. Muitas vezes porque há a um cachê astronômico a ser pago a um grande nome (nacional ou internacional). E pra gente fica inviável, pois quase que temos que pagar pra tocar. É uma matemática que não fecha as contas… de ambos os lados.

Que dica daria a um iniciante?
Juçara – Não parar nunca: de tocar e de trocar. Só a constância nessas duas ações garante que seu som continue e evolua. E quando falo em troca, falo de algo amplo, que inclui ver e rever referências, influências, parcerias, não só dentro do mundo da música, mas de todas as áreas artísticas.

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Créditos: Caroline Lima

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'Efervescência espetacular', diz Metá Metá sobre música brasileira