Elza Soares é um farol. Quando a diva de 77 anos se depara com mulheres poderosas como Beyoncé, Rihanna, Valesca, Anitta dominando o pop, ela vê a si mesmo. “Todo mundo ali se chama Elza Soares, não adianta. A gente abriu uma estrada para uma juventude maravilhosa, sem medo”, orgulha-se.

Em entrevista ao Virgula Música, de um quarto de hotel em Salvador, a diva que se apresenta quinta (30), no Cine Joia, lembra de algumas histórias vividas na capital paulistana. “Eu fui roqueira uma época em São Paulo, uma época, na casa Madame Satã, que era difícil. Pintei o cabelo todo de branco, no dia seguinte caiu tudo, mas não fazia mal”, conta. 

“Quando entrou a Elza Soares na casa, eu tive que parar que o assoalho da casa começou a afundar. Eu era tão louca, tão louca que eu pedia um carro da polícia para quando eu terminasse, eu saía (imita as sirenes) com o carro da polícia gritando pela rua, uma loucura, uma delícia.”

No show A Voz e a Máquina, ela canta repertório de clássicos de Chico Buarque, Cazuza, Tom Jobim, Vinicius de Morais e outros acompanhada pelos DJs Ricardo Muralha e Bruno Queiroz. O rapper Emicida faz participação especial. Na conversa, ela falou sobre a música atual, sua relação com os jovens, grupo na qual se inclui, internet, política, Garrincha e outros assuntos.

A que você atribui o interesse do público jovem pelo seu trabalho. Qual é o segredo da sua juventude eterna?

É por que eles sabem o quanto eu os amo, o quanto eu os quero, eu tenho um carinho enorme por essa juventude nada mais é que o futuro, cara. Se a gente não tiver um carinho pela juventude, o que será de nós? A gente tem que ter esse carinho, esse cuidado, esse apego, porque a vida segue, o mundo segue através da juventude.

Como que você acha que esse pessoal se entende, se indentifica com você?

Por esse minha força, pela minha garra, meu desejo de viver, minha vontade de ser feliz e ver todo mundo feliz. Esse é o meu interesse e acho que as pessoas indentificam essa minha gana, esse meu desejo de vida. De viver a vida cada vez melhor.

Que músicos da nova geração você mais gosta e indica?

Como assim?

Ah, gente nova como o Emicida, com quem você vai cantar na quinta…

Amo, amo, amo de paixão.

Tem DJs…

Adoro.

Deixa eu te contar, seu começar a falar nome por nome, eu vou perder. A gente tem respeito e carinho por eles todos, não dá pra dizer você é melhor, você eu gosto, eu gosto de todos eles. Me identifico muito com eles. Esse trabalho que eu estou fazendo agora, A Voz e a Máquina, é muito jovem, cara. Tem a idade da minha alma, te juro, minha alma é uma criança. E como eu sou essa mulher de alma criança, alma jovem, é isso que eu faço, tudo jovem, a cabeça jovem.

Você concorda que antecipou algumas coisas que só agora estão sendo entendidas?

Completamente. Antes eu era louca. “Essa mulher maluca, não sei como ela faz, ela mistura jazz com samba, ela mistura funk, rock, ela mistura tudo.

Eu fui roqueira uma época em São Paulo, uma época, na casa Madame Satã, que era difícil. Pintei o cabelo todo de branco, no dia seguinte caiu tudo, mas não fazia mal.

Isso foi em que década, Elza?

Foi nos anos 70. Ou 80, não lembro bem. Com os Titãs, a garotada toda comigo, quando entrou a Elza Soares na casa, eu tive que parar que o assoalho da casa começou a afundar. Eu era tão louca, tão louca que eu pedia um carro da polícia para quando eu terminasse eu saía (imita as sirenes) com o carro da polícia gritando pela rua, uma loucura, uma delícia.

Como é sua relação com a internet, acha que ela ajudou a consolidar sua carreira?

Eu tenho uma relação com ela, mas quando ela chegou a minha carreira já estava bem forte. Hoje as pessoas usam jeans largado, mas foi quando eu lancei o jeans rasgado e fiz um cenário com uma porção de velas acesas e o título do show era Minha Vingança Sará Maligna, aquele personagem do Chico Anysio, o vampiro brasileiro.

Eu venho fazendo isso há muito tempo, chamando a atenção da juventude, vem embora, cresça, saia do buraco.

E como você vê as coisas agora, você é otimista?

Muito otimista. Eu vejo essa garotada, você não sabe a felicidade que me dá, meu Deus, isso é tudo que eu sonhei. Você vê, cara, eu nunca me casei com velho, que velho não me aguenta (risos).

Como que você vê a questão das mulheres poderosas no pop, tem Beyoncé, Rihanna e no Brasil, Valesca, Anitta…

Todo mundo ali se chama Elza Soares, não adianta. Que a gente abriu uma estrada para uma juventude maravilhosa, abriu sem medo.

O que você acha que o hip hop tem de mais forte? Tanto que até o Miles Davis, antes de morrer, fez o do-bop, que era a continuação do be-bop?

É o que eu faço, be-bop (faz um scat, que é um improviso vocal). Eu acho o seguinte, o hip hop é muito nordestino. Eu vejo muito o repente no hip hop. É nosso, muito nosso. Alguém escutou repente lá fora e começou a fazer hip hop. É bra-si-lei-ro.

Você foi mulher do Garrincha. O que ele fazia era arte?

Superarte. Mané era um driblador da vida. Driblou tanto que driblou ele mesmo. Mas o Mané era um cara que fazia arte. Você ia assistir jogo do Mané, você saía feliz. Ele jogava um futebol alegre, voltava pra casa duro, sem um puto no bolso, mas feliz à beça. Futebol arte.

E ele influenciou a sua música?

Ah, sim, Neném (apelido dado a ele por Elza) foi um cara que me ajudou muito na parte musical, romântica, em tudo.

Você vê, eu faço um show louco. No A Voz e a Máquina eu canto Lupicínio (Rodrigues), que eu saio de uma coisa e vou para outra com o mesmo coração latente, com a mesma força da arte. Cara, eu luto muito pela arte, hoje eu estou brigando pelo cinema. Porque a música e o cinema um vive para o outro. E a gente não tem muita ajuda para fazer um belo cinema no Brasil. A arte no Brasil ainda tá muito complicada.

Em quem você votou? Acha importante o artista se posicionar politicamente.

Acho, a gente tem que reivindicar, tem que pedir. Mas eu acho que votar para um candidato não é querer fazer guerra nem briga. Nem ódio. Muito pelo contrário, vamos se juntar, se unir e trabalhar em prol desse que ganhou. Vamos trabalhar.

Você votou na Dilma?

Votei.

Tá com esperança que o segundo mandato dela seja melhor para a cultura?

Eu acho que sim. Porque ela foi muito pressionada, ela ganhou raspando e ela viu como foi a luta para ela ganhar. Acho que agora ela vem mais fortalecida, “meu Deus do céu, eu tenho que fazer alguma coisa que o povo que me elegeu vai exigir de mim uma firmeza”. Eu acredito que sim.

SERVIÇO

Elza Soares A Voz e a Máquinha com participação de Emicida
Quinta-feira, 30 de outubro
Abertura da bilheteria: 20h
Abertura da casa: 21h
Horário previsto do show: 22h30
Valores:
1º lote: R$ 60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia-entrada);
2º lote: R$ 70,00 (inteira) / R$ 35,00 (meia-entrada);
3º lote: R$ 80,00 (inteira) / R$ 40,00 (meia-entrada)
Classificação etária: 18 anos
Locais de venda:
• www.facebook.com/cinejoia na aba “Compre seu Ingresso” e cinejoia.tv/ingressos
Para todos os shows no Cine Joia há um lote promocional com valores que variam de R$ 1,00 a R$ 10,00 (ingressos limitados). Esses ingressos estarão disponíveis para o show de Elza Soares.

Cine Joia
Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade
www.cinejoia.tv
Telefone: (11) 3131-1305
Capacidade: 992 pessoas
Cartões de crédito e débito: Visa, Mastercard, Diners, Elo e American Express
Possui área de fumantes e acesso a deficientes
Censura: 18 anos
Chapelaria: R$ 5
Serviço de vallet: R$ 25


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Elza Soares fala de fase muito louca quando era roqueira e cantava no Madame Satã