A história do rock brasileiro no início dos anos 60 se confunde com o começo da carreira de um dos mais importantes artistas do País: Roberto Carlos. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no interior do Espírito Santo, o som do cantor era influenciado pelo rock’n’roll de Elvis Presley, Bill Haley, Little Richard, Gene Vincent e Chuck Berry. Depois de fazer parte da banda The Sputniks em 1957, com Arlênio, Tim Maia e Wellington, Roberto conheceu Erasmo Carlos e a parceria dos dois seria determinante para a fase inicial do rock dos anos 60.

Em 1962, Roberto  lançou o disco Splish Splash, que trazia versões de hits da época e canções próprias compostas com Erasmo. O álbum se tornou um sucesso, estourando faixas como Splish Splash e Parei na Contramão. No ano seguinte, o cantor novamente esteve nas paradas de sucesso com o LP É Proibido Fumar, em que, além da faixa-título, destacou-se a canção O Calhambeque. Assim Roberto e Erasmo fundaram as bases para o primeiro movimento de rock feito no Brasil: a Jovem Guarda.

O movimento recebeu o nome do programa lançado pela Rede Record em 1965. Jovem Guarda era apresentado por Roberto, Erasmo, a cantora Wanderléa e reunia bandas de rock brasileiras como Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Os Vips, Trio Esperança, Pholias, The Fevers, The Jordans, Os Incríveis, entre outros. Seguindo o sucesso do programa, surgiram outros artistas como Jerry Adriani, Eduardo Araújo e Ronnie Von, que tinham seu som inspirado nos Beatles, apresentando guitarras elétricas ao invés de arranjos com violão. Esta apropriação da guitarra elétrica e o órgão eletrônico no lugar do piano chegou a despertar críticas dos artistas da MPB da época, que criaram o protesto conhecido como “Passeata contra as guitarras elétricas”, apoiado por Elis Regina, Jair Rodrigues e Gilberto Gil.

Apesar dos protestos, Jovem Guarda foi líder de audiência até o fim de 1967. A partir desta época, a popularidade da atração começou a cair por conta da superexposição dos artistas e acusações de alienação por parte do público que preferia as canções dos festivais de música. Em janeiro de 1968, Roberto Carlos abandonou o programa, deixando a apresentação para Erasmo e Wanderléa. O cantor estava numa transição, saindo do rock para começar a explorar estilos como soul e funk. Algumas semanas depois, o programa Jovem Guarda foi exibido pela última vez.

Neste meio-tempo, em 1966, surgiram Os Mutantes. Formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, a banda inovou a música brasileira com o uso de microfonias, distorções e truques de estúdio, sendo os pioneiros na mescla do rock com temas brasileiros. Depois de rápidas incursões por programas de televisão – incluindo O Pequeno Mundo de Ronnie Von, de Ronnie Von, que batizou o trio de Os Mutantes -, a banda começou a participar de grandes festivais de música popular brasileira, chamando a atenção de Gilberto Gil, que os convidou para ser sua banda de apoio no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. A apresentação da música Domingo no Parque ganhou o segundo lugar da premiação e causou grande impacto no evento. Ali, foram lançadas as bases musicais para o Tropicalismo.

O Tropicalismo foi um movimento que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais da época, como correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira. Antes de fins sociais e políticos, a Tropicália foi um movimento nitidamente estético e comportamental. Em 1968, foi lançado o álbum coletivo Tropicália ou Panis et Circensis, que servia como o manifesto musical do movimento. O disco contava com partipações de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto, Capinan, Rogério Duprat e Nara Leão. O álbum continham um sincretismo de ritmos jamais ouvido, com o rock misturado à bossa nova, ao baião, ao samba e ao bolero

Embora marcante, o Tropicalismo era visto por detratores como um movimento vago e sem comprometimento político, comum à época em que diversos artistas lançaram canções abertamente críticas à ditadura. O movimento foi reprimido pela ditadura militar após a imposição do AI5 (Ato Institucional nº 5), em dezembro de 1968, com a prisão de Caetano e Gil em dezembro do mesmo ano. Porém, a herança da Tropicália seria repassada aos anos 70, com bandas como Os Secos e Molhados, Ave Sangria e Novos Baianos retomando o protesto e o sincretismo de ritmos da tropicália.


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Especial Rock Brasil: A década de 60