Selton

(Foto: Chiara Mirelli) Selton

Se liga nessa história: quatro rapazes gaúchos se conhecem em Barcelona, na Espanha, e resolvem montar uma banda para tocar nas ruas da cidade e poder pagar o aluguel. Um produtor italiano os assiste, se apaixona pelo som e o entrosamento dos brasileiros e os leva para morar em Milão, na Itália. Lá eles gravam um disco de covers com canções do músico local Enzo Jannacci, e viram sensação no país. Isso em 2005. Um conto de fadas para músicos independentes, não? Pulamos para 2016, o Selton se mantém estabelecido, com uma legião de fãs, e acaba de lançar o terceiro álbum de composições próprias, Loreto Paradiso.

Com uma mistura de Vampire Weekend, Devendra Banhart e um quê de Rodrigo Amarante nas canções, Loreto Paradiso conta com a produção de Tommaso Colliva, que já trabalhou com Muse, Franz Ferdinand, Phoenix, e ainda papou um prêmio no Grammy 2016 (nada fraco o cara!). Para saber melhor dessa experiência toda, o Virgula conversou com o guitarrista e vocalista Ramiro Levy, que também falou sobre o novo trabalho e como rola esse lance de cantar em três línguas; português, inglês e italiano.

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Divulgação

“Há algum tempo, a nossa busca principal tem sido encontrar a nossa essência, a nossa identidade e depois de muita procura descobrimos que o que nos faz ser únicos é justamente essa mistura. Não seria verdadeiro para a gente cantar só em italiano, como não seria verdadeiro cantar só em português ou só em inglês. É uma condição muito peculiar, a nossa. Às vezes isso pode dificultar um pouco as coisas por nos fazer mais complexos, menos imediatos. Acreditamos, no entanto, na força de uma identidade única, por isso seguimos sendo fieis a isso”, explica Ramiro.

Mas, como é que os italianos reagem quando vocês cantam em português? “Eles curtem a sonoridade e invejam muito a maciez da nossa língua. Ao mesmo tempo, eles dão muita importância às letras, ao que está sendo dito. Por isso usamos o português aqui como um tempero, sem exagerar na dose. Isso explica também o fato de termos feito um repertório especial para a Itália, no qual damos um pouco mais de ênfase ao italiano.”, conta o músico, e revela o porque homenagearam no disco o bairro onde moram: “Loreto é o oposto de paraíso. É um bairro quase periférico de Milão, extremamente caótico e urbano como paisagem. A escolha do título é justamente para jogar com esse contraste. O que estamos dizendo é que somos nós a construir o paraíso ao nosso redor, sem ficar idealizando e esperando encontrar o lugar perfeito.”

Ramiro aproveita para relembrar os dias em que tocava nas ruas da cidade catalã e os vê como importantíssimos no amadurecimento da banda: “O fato de ter tocado por dois anos na rua nos ensinou a dar muito valor ao contato com o público. Uma das coisas mais especiais de quando se toca na rua é que quem para pra te ver realmente está interessado. De alguma maneira, a atenção daquelas pessoas foi capturada. Essa conquista contínua do público, essa preocupação em fazer um show impecável segue no nosso sangue, para nós o momento do ao vivo é a expressão máxima do que fazemos.”

Sabendo da realidade do Brasil e da Itália, o gaúcho faz uma comparação do mercado musical independente entre os países: “Mercado independente é correria, acredito que em qualquer lugar do mundo. Em relação ao brasileiro, talvez a diferença seja que aqui [na Itália] ele é um pouco mais estruturado, o que faz dele mais sustentável. Isso não quer dizer que é uma maravilha, a disputa é muito grande e é muito importante se diferenciar e conquistar o seu espaço no meio de tantas realidade musicais.”

E qual dica você dá para bandas brasileiras que querem seguir carreira na gringa? “Acreditamos que o ponto fundamental para qualquer banda seja o fã. O público é a base mais sólida que um projeto musical pode ter. Antes de pensar em qualquer coisa (carreira internacional, fama, sucesso) certifique-se que o seu público esteja satisfeito, que lote os shows, que compre o disco, que participe nas redes sociais. Ter construído um público sólido na Itália foi o que nos permitiu pensar em abrir para outros mercados, como o brasileiro. Nunca teríamos conseguido investir tempo e energia em um país novo (como o Brasil) se não soubéssemos que aqui tínhamos uma base sólida.”

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(Foto: Chiara Mirelli) Selton

A notícia boa para os brasileiros é que o grupo aterrissa em solo tupiniquim em abril para quatro shows (saiba mais abaixo), sendo que no do dia 10, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, vai rolar uma participação especialíssima de Maurício Pereira, de Os Mulheres Negras. “A escolha de chamar o Mauricio se deve a uma grande afinidade que descobrimos ter há dois anos, quando nos conhecemos pessoalmente. Já admirávamos muito o trabalho dele, mas quando nos conhecemos para gravar juntos no estúdio da Red Bull Station, em São Paulo, descobrimos que a sintonia era grande e que a admiração era mútua.”, conta Ramiro. “Nosso novo disco tem realmente uma nova linguagem e um novo jeito de se expressar, e vamos mostrar tudo isso em cima do palco”. Quem for aos shows, verá.

SERVIÇO

Selton na Audio Rebel (Rio de Janeiro)
Quando: Sábado, 9 de abril, às 20h.
Endereço: R. Visc. de Silva, 55, Botafogo.
Ingressos: R$ 20. À venda no local, na hora do show, ou antecipado pelo e-mail audiorebel@gmail.com.
Censura: livre.
Capacidade: 90 lugares.
Informações: (21) 3435-2692 e audiorebel@gmail.com.

Selton no Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer (São Paulo)
Participação especial: Mauricio Pereira.
Quando: Domingo, 10 de abril, às 19h.
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque Ibirapuera.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). À venda na bilheteria do local, no site www.ingressorapido.com.br e pelo telefone (11) 4003-1212.
Censura: livre.
Capacidade: 800 lugares.
Informações: (11) 3629-1076 e www.auditorioibirapuera.com.br.

Selton no Theatro São Pedro (Porto Alegre)
Participação especial: Dingo Bells.
Quarta, 20 de abril, às 21h.
Praça Mal. Deodoro, s/nº, Centro Histórico.
Ingressos: R$ 35 (plateia), R$ 30 (camarote) e R$ 25 (galeria). À venda na bilheteria do local e no site www.compreingressos.com.
Censura: livre.
Capacidade: 700 lugares.
Informações: (51) 3227-5100 e www.teatrosaopedro.com.br.

Selton no Sesc Araraquara (SP)
Quando: Sexta, 22 de abril, às 20h.
Endereço: R. Castro Alves, 1.315, Quitandinha.
Entrada gratuita.
Censura: livre.
Capacidade: 400 lugares.
Informações: (16) 3301-7500.

Para saber mais sobre o Selton: seltonmusic.com


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'Essa mistura é o que nos faz únicos', diz Selton, que lança disco trilíngue