O guitarrista flamenco Paco de Lucia morreu nesta quarta-feira (26) aos 66 anos em um hospital de Cancún, no México, país no qual costumava passar longas temporadas em busca de uma vida tranquila e afastada da fama que ganhou com sua arte e com a renovação do gênero espanhol.

De acordo com fontes próximas à família músico, a causa de sua morte foi um infarto fulminante. O guitarrista começou a se sentir mal no momento em que jogava futebol na praia com seu filho Diego, de apenas dez anos. Fontes consulares espanholas indicaram à Agência Efe que seu corpo poderia ser repatriado ainda hoje à Espanha.

A notícia da morte de Paco foi recebida com surpresa por sua família, que, por sua vez, emitiu um comunicado oficial no qual destacava que “não há consolo” para aqueles que o conheciam e nem para os que lhe queriam sem conhecê-lo, especificando que “a dor já tem data” para este clã artístico.

Sua cidade natal, Algeciras, situada no sul da Espanha, decretou três dias de luto para expressar sua dor pela perda de seu filho mais ilustre e, por isso, se ofereceu para receber os atos de despedida do músico, possivelmente a ser realizado no cemitério velho, onde seus pais estão enterrados.

Paco de Lucia será recordado não só pelo som irreparável que extraia de sua guitarra flamenca ou por sua extraordinária técnica, mas como um grande renovador do gênero, desde sua precoce aliança com Camarón de la Isla até suas famosas incursões no jazz.

O músico abriu caminho para muitos que vieram depois, como lembraram hoje seus colegas, amigos, artistas e admiradores.

“Que horror, não posso acreditar”, foram as primeiras palavras do toureiro Curro Romero, que compartilhou episódios de sua vida com ele e com Camarón, inclusive antes que ambos fossem artistas consagrados.

“Foram anos únicos, extraordinários e irreparáveis”, indicou à Efe o toureiro, que também ressaltou as virtudes do guitarrista. “Além de amigo, era uma belíssima pessoa. Ele só queria criar sua arte e estar com seus amigos”, completou.

José Fernández Torres, conhecido como Tomatito, que o substitui junto a Camarón, declarou desde sua casa de Almería que se encontra “muito desabrigado” pelo falecimento de seu amigo, ao que se referiu como “mestre da guitarra”.

“Eu, pessoalmente, lhe devo muitíssimo e sentirei sua ausência para sempre”, disse Tomatito. José Mercé também reconheceu sua contribuição “irreparável” à música espanhola e o qualificou como um “grande revolucionário”.

“Trata-se um gênio à altura de Beethoven e Mozart“, descreveu o bailaor “Farruquito”, que especificou que o artista foi o que mais contribuiu para a internacionalização do flamenco.

As condolências também chegaram desde as mais altas instituições do Estado espanhol. Os Reis e os Príncipes das Astúrias enviaram telegramas à família de Paco de Lucia, nos quais expressam seu pesar pela morte do guitarrista gaditano.

Em 1993, Paco de Lucia recebeu das mãos de dom Juan Carlos a Medalha de Ouro ao Mérito nas Belas Artes, e também foi agraciado com o Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes em 2004.

Em nome do governo, o ministro da Educação e Cultura, José Ignacio Wert, disse que Paco de Lucia foi uma figura “única e irreparável” no panorama artístico espanhol, não só por seu virtuosismo com a guitarra, mas pela “projeção universal que deu ao flamenco”.

“O virtuosismo, a originalidade e a inovação são heranças inesquecíveis de Paco”, resumiu o ministro.

Autor de obras-primas como “Entre dos Águas” e “Sólo Quiero Caminar”, Paco de Lucia faleceu antes do lançamento de sua última obra, “Cancion Andaluza”, um disco de estrofes que estava previsto para ser lançado no final de abril e que ficará como álbum póstumo de uma carreira irreparável.


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Guitarra flamenca fica órfã após morte de Paco de Lucia, sua maior referência