LCD Soundsystem em SP


Créditos: Gabriel Quintão/Virgula

Depois de muita diversão, noites insones, baladas inesquecíveis e muitas histórias para contar, você decide que é hora de mudar de vida. Pensar em novas coisas para fazer, novos rumos, novos projetos, novas histórias. Longe de ser um sintoma de caretice, a ideia é experimentar coisas novas e aprender que tudo precisa ter um fim – até mesmo aquilo que parece perfeito.

Foi este o tom do provável último show do LCD Soundsystem em São Paulo, que aconteceu nesta sexta-feira (18) na Warehouse. Uma enorme despedida, com James Murphy dizendo adeus ao papel revolucionário de seu grupo, o LCD Soundsystem, uma das bandas mais importantes dos anos 00 e que mudou o cenário da música ao trazer o pós-punk e o rock para a pista de dança.

Pouco depois da 1h, James Murphy subiu ao palco iniciando o show com uma versão fantástica de Dance Yrself Clean, primeira música do novo (e último) álbum do LCD, This Is Happening. Assim como no disco, são evidentes as influências fortes do synth-pop dos anos 80 nas músicas (principalmente em I Can Change, One Touch e You Wanted a Hit), mas ao vivo o grande catalisador são as guitarras pós-punk, que chegam a lembrar Entertainment!, álbum de estreia do Gang of Four.

Prova disso é a versão muito mais pesada e marcada pela guitarra do hit Daft Punk Is Playing At My House, um hino das pistas que ficou incrível ao vivo e foi cantado em uníssono pela plateia. Curiosamente, parece que quanto mais o LCD Soundsystem se aproxima de seu fim, mais suas músicas mostram a atualidade da junção entre punk, rock e música de pista – o grupo pode estar terminando, mas a gravadora de Murphy, a DFA Records, continua mais relevante do que nunca promovendo essa mistura e buscando novas formas de fazer música menos rígida e mais grooveada.

James Murphy pode ter afirmado em uma entrevista recente que seu objetivo para os próximos anos é ficar em casa fazendo café, mas no palco é mais vocalista do que nunca. Talvez pelo charme de estar terminando algo que sabe ser histórico, Murphy foi catártico, interpretando cada canção como se de fato fosse a última. Sua voz, melhor do que nunca, soava incrível até quando o microfone falhava por alguns instantes e ele ameaçava perder o tom.

O público, contente por acompanhar um momento tão importante da banda, assistia a apresentação em tom de reverência e até mesmo histeria, principalmente na hora dos grandes hits. Mesmo que James Murphy brinque que o grupo “não faz hits” na canção You Wanted a Hit, é bem difícil acreditar em sua palavra considerando canções como All My Friends, Yeah, Drunk Girl e Losing My Edge.

Mesmo com a animação do público, a atenção se dispersou em alguns momentos, como na hora em que Murphy decidiu modificar um pouco o hit All My Friends. Embora a versão do show tenha sido de fato incrível, até com um pouco mais de energia do que em estúdio, parte do público ficou frustrada com a mudança e o clima esfriou um pouco. You Wanted a Hit, uma das melhores músicas de This is Happening, também não foi tão bem recebida pela plateia, talvez por sua melodia mais contida e sua letra levemente auto-depreciativa.

No fim do show, era impossível não se emocionar com James Murphy de frente para a plateia olhando para frente e cantando com certo amargor o hit Losing My Edge, que fala exatamente da crise de meia idade do vocalista e de como ele está perdendo espaço para jovens artistas vindos de todos os lugares do mundo.

Mas autocomiseração não é nem de longe a cara de James Murphy, que na verdade aproveita o momento para ser irônico com seu próprio destino: ele sabe que o LCD Soundsystem vai terminar, mas também tem a certeza de que não, não vai ser passado para trás pelas novas gerações. Sua contribuição já é um fato, e terminar a banda não é exatamente o fim do mundo: o legado do LCD está aí para quem quiser ver, em três ótimos álbuns, no catálogo da DFA Records e na lembrança de todas as pessoas que puderam presenciar algum show comandado por James Murphy.

Depois de quase duas horas de show, James Murphy encerrou a última apresentação do LCD Soundsystem com a linda New York I Love You, But You’re Bringing Me Down. E foi assim que o grupo se despediu do Brasil: em um clima de melancolia, mas com a certeza de que a festa continua.

Tudo acaba: relacionamentos, projetos, sentimentos e até mesmo a vida. Tudo que tem um fim acaba ganhando um significado mais profundo e mais intenso. Depois do último show do LCD Soundsystem, que acontece em abril no Madison Square Garden, James Murphy pode olhar para trás e pensar no fim de seu maior projeto como uma realização. Terminou, mas deixei para trás algo digno de ser lembrado.

Hell yeah.

Leia aqui análise de Camilo Rocha sobre LCD Soundsystem e James Murphy 


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LCD Soundsystem se despede de SP em grande estilo e deixa para trás um legado invejável