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Raimundos (Crédito: César Ovale)

Disco novo, DVD novo e bola pra frente! Nem parece que o Raimundos, uma das maiores bandas do rock nacional dos anos noventa (senão a maior), ficou 12 anos sem lançar um álbum de inéditas (o último foi o Kavookavala, de 2002), pois a banda está mais viva do que nunca e portando aquele mesmo gás de antes. Afinal, Digão, Canisso, Marquim e Caio vivem a sua melhor fase em anos.

No início de 2014, apoiados por um crowdfundig, lançaram o elogiadíssimo disco Cantigas de Roda, que entrou em várias listas de melhores do ano. Pouco tempo depois soltaram no mercado o DVD Cantigas de Garagem, que mostra a banda interpretando canções do mesmo álbum, só que ao vivo e dentro de um estúdio.

Agora, depois dessa pilha de novidades, os Raimundos se preparam para um novo desafio: subir ao palco para tocar antes do Kaiser ChiefsFoo Fighters. As apresentações rolam dia 23, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, 24, no Estádio do Maracanã, no Rio, e 28, no Mega Space, em Belo Horizonte.

Para saber como andam os preparativos (e a empolgação), o Virgula Música levou o maior lero com o vocalista e guitarrista Digão, e o baixista Canisso (ambos da formação original). Mas, gente fina como são, e sem papas nas línguas, eles falaram sobre tudo: CD, DVD, músicas novas, músicas antigas, sobre o passado, sobre o futuro, sobre o policiamento artístico que vivemos hoje, e até do encontro com a banda de Dave Grohl, que segundo eles finalmente aconteceu. Bom, vê aí pois os caras soltaram o verbo:

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Virgula Música: Porque vocês resolveram lançar um DVD, o Cantigas de Garagem, com o mesmo repertório do CD Cantigas de Roda? Não ficaram com receio de apresentar um produto quase igual aos fãs?

Canisso: Não, porque o álbum Cantigas de Roda foi um projeto exclusivo para os apoiadores do crowdfundig. Ou seja, o disco não existe para venda em loja física ou virtual e teve uma demanda muito grande por causa da ótima aceitação, então muitos fãs reclamaram que não ficaram nem sabendo do projeto e não tinham acesso ao CD. Como prometemos aos fãs participantes que o disco seria exclusivo, não poderíamos mudar as regras do jogo depois. Daí veio a ideia de fazer o registro das canções ao vivo, em um estúdio, para poder comercializar e a galera ter as músicas.

Digão: Esse formato de tocar em estúdio não é uma novidade, as bandas lá fora fazem muito isso. E, desde o lançamento do Cantigas de Roda eu tinha a ideia de fazer esse From The Basement, mostrando as músicas novas de uma forma bem intimista. Daí juntamos as forças com a Som Livre e tocamos as canções de forma cru e sem nada fake.

O produtor do Cantigas de Roda, o Billy Graziadei, do Biohazard, chegou a influenciar nas músicas?

Digão: Sim! Ele mexeu bastante. Na pré-produção a gente mandava as músicas e ele devolvia todas reconstruídas. Ele deu muitas ideias, a gente não acatou todas, mas o que a gente achou interessante inserimos no disco. Produtor serve pra isso mesmo, pra jogar umas ideias que a gente não estava enxergando, pois ele vê a parada toda pelo lado de fora da banda.

Canisso: E outra, ele já conhecia a banda, era nosso fã, porque tocamos juntos no Monsters Of Rock de 1996, então isso facilitou bastante. Inclusive, em nossa primeira conversa com o Billy, ele veio com a mesma ideia que tínhamos de fazer o crowdfundig. Significa que estávamos na mesma tecla.

Como rolou a participação do Sen Dog, do Cypress Hill, na música Dubmundos?

Canisso: Isso tudo é crédito do Billy. Eles são chegados lá na ‘Califa’ e falou: ‘Ó, essa música aqui está precisando de um rap, e eu conheço a pessoa certa'”.

Digão: A gente até chegou a sondar o Jared do Head PE, mas achamos o Sen Dog muito mais interessante. Ele tinha mais a ver pois a música é um reggae meio maluca.

Mas não rolou dele (Sen Dog) participar do DVD?

Digão: Pois é, o orçamento não permitiu (risos). A gente só teve dois dias de gravação e infelizmente não deu para linkar com a agenda dele. Mas também queríamos mostrar uma coisa que a gente poderia oferecer ao vivo, e no caso da participação dele, fazemos através do sampler.

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Com o lançamento do Cantigas de Roda /e Garagem, a banda está passando por uma ótima fase. Vocês sentem que estão conseguindo se afastar daquele Raimundos do passado?

Canisso: A gente não tem intenção de se afastar daquele Raimundos, e eu não tenho nenhum problema com o nosso passado. Para as pessoas que estão de fora, a impressão que dá é que o Rodolfo fez todas as músicas e a gente ficou sentado olhando, mas não foi assim. Esse CD novo comprova que o Rodolfo não era a única mente pensante dentro da banda.

Digão: Hoje temos bastante fãs, uma molecadinha nova que conhece o Raimundos mais pela fase atual do que pelo nosso passado, então tudo o que aconteceu já está ficando distante. Percebemos isso nos comentários das nossas redes sociais: enquanto uma pessoa reclama dizendo que Raimundos bom é o do passado, tem mais de 30 amarradão na nova fase. Mas seremos sempre o Raimundos né, e passado a gente não muda. Eu não tenho problema nenhum com ele, mas são épocas diferentes. O Cantigas de Roda veio para colocar a gente de volta naquele trilho que estávamos seguindo.

E nos shows, não rola um ‘bode’ de tocar as músicas antigas?

Canisso: É complicado! Eu gosto de todos os nossos discos, então não tenho problema nenhum em tocar músicas antigas. Mas sempre é mais gostoso tocar as novas. Mas o show do Raimundos é garantia de que os fãs vão ouvir os medalhões. Imagina você ir ver os Rolling Stones e eles não tocarem Satisfaction, ou nenhuma música antiga. Periga sair morto do estádio (risos).

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Raimundos (Crédito: César Ovale)

Hoje vivemos em um momento muito delicado na arte, tanto no humor quanto no rock nacional, existe um policiamento em tudo o que é incorreto. Imagino que todos os palavrões e as malícias usadas nas canções do Raimundos nos anos noventa não seriam bem aceitos hoje em dia. Como vocês lidam com isso para compor novas canções?

Digão: Gostei muito dessa pergunta (risos). Pois é, temos que tomar muito cuidado hoje. Até o Renato Aragão sofreu com esse policiamento recentemente. Antes a gente chamava os outros de preto, de gordo, e ninguém se ofendia e todo mundo se zoava. Era divertido, super de boa e até saudável. Hoje as pessoas nem leem o que você escreveu, ou tentam entender o contexto e já te atacam, muitas vezes até sem falta de argumento. Mas a gente procura não se preocupar muito, pois o Raimundos é isso: uma banda tosca e sincera. A gente é o que  falamos no dia a dia, como se estivéssemos conversando com alguém e uma hora ou outra rola uma piadinha ou soltamos um palavrão. Então tento ser o mais honesto comigo mesmo. Mas sinto que as pessoas estão querendo pintar uma imagem de cult, ou correta, para serem aceitas, para ter likes no Facebook, mas que no fundo não são honestas com elas mesmas. Eu acabo dando risada, pois tem tanta coisa acontecendo aí, tanta maldade, pilantragem no governo, e as pessoas preocupadas com isso, com imagem e o “troco likes”.

Canisso:  O Raimundos é como a mente de um moleque da turma do fundão. Não somos o bonitinho da sala e nem o fortão. Somos aquele cara que já repetiu de ano, que fica de recuperação, e que sempre tem uma gracinha pronta. Somos os anti-herói, e temos essa linguagem das ruas mesmo. Então não rola uma preocupação de precisar encaixar um palavrão, ou não. Escrevemos do jeito que esse moleque falaria mesmo. Somos uma diarreia criativa (risos).

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Vocês vão tocar com o Foo Fighters no Brasil. Estão empolgados?

Canisso: Sim, claro! É o encontro marcado que finalmente aconteceu. Iriamos tocar com o Foo Fighters no Rock in Rio de 2001, imediatamente antes deles, mas devido aquele problema com as bandas nacionais, acabou não rolando. Agora é como se fosse a continuação daquele período que foi interrompido bruscamente. É meio como a gente voltando àquele ponto. Uma chance da gente fazer as pazes com o destino, de certa forma.

Digão: Além de ser uma ótima exposição pra banda, vamos tocar com os ícones, né? E tem a interação também. A gente tocou com o Red Hot Chili Peppers, conversamos com eles e de repente o Flea falou sobre eu e minha filha no microfone durante o show deles. É o tipo de coisa que a gente nunca espera de um ídolo. E outra, tecnicamente a gente aprende muito com os gringos. Eu sou aquele cara que ao invés de ficar fazendo social no camarim, fico ali no palco só espiando a galera trabalhar e de olho no equipamento dos caras (risos). Gosto mesmo é de aprender.

E os planos para 2015?  Disco novo?

Canisso: Vamos sair em turnê para comemorar os 20 anos da banda, onde pedimos aos fãs, via nossas redes sociais, para que escolhessem as músicas que gostariam de ouvir nos shows. Vai ser divertido! Só não vai dar para tocar todas porque senão o show vai durar quatro horas (risos).

Digão: Não sei se teremos tempo para gravar um novo álbum esse ano, já que teremos a turnê dos 20 anos e continuação do Cantigas de Roda. Mas você sabe como é, eu nunca paro de compor, então às vezes aparece algo aí. O lance mesmo é não parar, seja no palco ou no estúdio.

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SERVIÇO

Show: Raimundos, Kaiser Chiefs e Foo Fighters

Quando: 23 de janeiro (sexta), às 18h – portões abrem às 16h.

Onde: Estádio do Morumbi, Praça Roberto Gomes Pedrosa, 1 – Morumbi, São Paulo

Valores: de R$110 a R$640

Ingressos: premier.ticketsforfun.com.br/shows/

Raimundos


Créditos: gabriel quintão

 


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Raimundos lançam DVD, tocam com Foo Fighters e dizem: "Não temos problemas com o passado"