Don L em foto de Larissa Zaidan

A 3ª edição do Favela Sounds – Festival Internacional de Cultura de Periferia – acontece no Distrito Federal, desta segunda (19) ao dia 24, sob a temática do Afrofuturismo.

Totalmente gratuito, o evento promove shows e leva oficinas e debates para as escolas públicas e quebradas do DF suas regiões administrativas e inclusive para o sistema socioeducativo, a fim de propor novas perspectivas profissionais na cadeia da cultura para menores em privação de liberdade.

Nos dias 23 e 24, a programação é musical. O Baile acontece na região central e turística de Brasília, em frente ao Museu Nacional da República, promovendo a circulação das favelas pelo centro político do país. Haverá 20 ônibus realizando transfers periferia-centro e todos os shows são abertos, livres e gratuitos.

O Baile apresenta 26 artistas do país. Do exterior, vem o DJ Marfox de São Tomé e Príncipe, radicado em Lisboa, responsável pela festa Noite Príncipe, uma das principais noites de afrohouse da Europa (na Music Box).

Na primeira edição do Favela Sounds compareceram 12 mil pessoas, na segunda o público foi de 25 mil. Para essa terceira edição, a expectativa é de que 30 mil pessoas compareçam nos dias do evento.

Este ano, o festival ainda homenageia o Mr. Catra que foi o primeiro incentivador do Favela Sounds. O super lineup conta com tradução em libras dos shows.

Nós conversamos com Don L, cearense, ícone do novo rap BR. Ele fala sobre favela, composição, influências, estética e suas próximas jogadas:

Crê que o fato da cultura da favela estar sendo celebrada e ter se tornado um ativo econômico e ícone fashion seja importante?
Don L – Acho muito importante quando são iniciativas que também são pra favela. Quando se configura como resgate de autoestima, geração de renda e investimento em material humano de alto valor da favela e não apenas como apropriação.

O que está rolando de mais interessante na música brasileira hoje, na sua opinião?
Don L – Pra mim continua sendo o rap, e os gêneros que fazem parte da cultura hip-hop. Tem muita coisa ruim também no meio. O rap se tornou o estilo de música mais fácil de fazer, e o mais difícil de fazer bem feito. Mas ainda é onde estão os artistas que tem mais substância na minha opinião.

Como é seu processo de composição, o que te leva a compor uma música nova?
Don L – Um sentimento, uma instrumental, um beat, ou até mesmo uma melodia de qualquer instrumento, que me traga um sentimento. Em volta desse sentimento se forma uma nuvem de sensações e imagens, e eu tento encontrar palavras da minha experiência de vida pra traduzir, pra materializar, de forma que eu consiga guardar essa nuvem pra mim e usar quando eu quiser. E é como o milagre da multiplicação do peixe, porque qualquer pessoa que precise pode usar também.

Que ingredientes uma grande música deve ter, na sua opinião?
Don L – Acho que apenas um sentimento. Te levar pra um lugar. A música altera a frequência do ar e transforma o lugar onde ela toca, de forma que parece que é você é que tá sendo transportado pra outro lugar, mas é a música transformando aquele lugar, pra aquela pessoa. A música que me interessa mais é a que transforma mais, a que muda vidas, que te faz querer novas soluções pros lugares ou novos lugares.

Que dica daria a um(a) iniciante?
Don L – Não faça isso. A não ser que seja inevitável, mais forte que você, ou não tiver outra opção nem de longe.

Se tivesse o poder de trazer artistas que já se foram à vida, com quem gostaria de compor uma música?
Don L – Bezerra da Silva

Quais são suas maiores influências?
Don L – 2pac, Mano Brown, Caetano Veloso, Bezerra da Silva, Machado de Assis, Jim Morrison e Jay-Z.

Quais são suas principais referências estéticas?
Don L – A minha experiência no campo da estética é composta por fragmentos das obras que eu tive acesso e o que minha imaginação completou em sonhos. Não decidi quais são minhas principais referências ainda, minha maior referência é o sonho.

Quais são seus valores essenciais?
Don L – Amor, conhecimento e criatividade. Em primeiro lugar o amor pra que seja possível criar na direção certa, e com justiça. A justiça tá no amor. Depois a imaginação, criatividade. Se a pessoa não consegue imaginar algo diferente do que ela pensa que conhece a tendência vai ser a repetição motivada pelo medo. Se ela não imaginar ela não pode nem conhecer a verdade. Não pode entender a ciência. E o mundo tá cheio de pessoas repetindo o que elas mal conhecem, se orgulhando da dureza do seu aprendizado, dos seus preconceitos, pensando em formas de tirar alguma vantagem da previsibilidade dos outros medíocres. Com amor e criatividade você pode buscar o conhecimento transformador.

Quais são suas próximas jogadas?
Don L – Meu objetivo agora é lançar a mixtape do meu parceiro de Costa a Costa, Carlos Gallo, e uns singles e participações minhas com outros artistas, enquanto preparo o lançamento de Roteiro Pra Ainouz vol.2.

SERVIÇO

Programação:

19 a 23 de novembro
Oficina de Empreendedorismo na Quebrada
Local: Espaço Imaginário Criativo (Samambaia)
Horário: das 19h às 22h.

19 a 23 de novembro
Oficina de Gravação de faixas autorais de baixo custo
Local a definir
Horário: das 14h às 18h.

19 a 23 de novembro
Oficina de Percussão
Local: Casa Frida (São Sebastião)
Horário: das 14h às 18h.

Debates

23 de novembro (sexta-feira)

“Rap é compromisso – Rima e identidade”, com Preta Rara – pela manhã em uma escola de Sobradinho e a tarde em escola no Núcleo Bandeirante.

“Notícias da favela para a favela – Como o jornal “Voz das Comunidades” ganhou o mundo”, com Renê Silva, em escola no Riacho Fundo (a confirmar a escola).

“Toca na pista, toca na Favela – Fomento, produção musical, distribuição e novas plataformas”, que tem como convidados um representante da Secretaria de Cultura do DF, um convidado do LabSônica, laboratório de experimentação artística da Oi Futuro (RJ), e um convidado de uma plataforma de distribuição online, nomes que serão divulgados em breve. Às 17h, na arena Favela Sounds.

24 de novembro (sábado)

17h: “Literatura Negra”, com Juliana Borges, na arena Favela Sounds

Slam:

Slam Favela Sounds
Local: Arena do festival
Horário: 16h

Atrações musicais:

No dia 23 de novembro (sexta-feira)

DJ JANNA (DF)
HODARI (DF)
MARMITTOS (DF)
MC THA (SP)
YOURUBEAT (DF)
LA FURIA (BA)
RENEGADO (MG)
PRETA RARA (SP)
FLORA MATOS (DF)
HIRAN (BA)
KEILA (PA)
DEIZE TIGRONA (RJ)

No dia 24 de novembro (sábado)

JULIANA BORGES (SP)
DONAS DA RIMA (DF)
FORRÓ RED LIGHT (DF)
BIA FERREIRA (SE)
FABRÍCCIO (ES)
DRIK BARBOSA (SP)
NA BATIDA DO MORRO (DF)
DON L (CE)
MARFOX (STP/POR)
RICO DALASAM (SP)
SANDRINHO CONTEXTO (RJ)
MC TOCHA (PE)
MULHER PEPITA (RJ)
DJ KASHUU (DF)

Artistas novos que você precisa ouvir agora


Créditos: Caroline Lima

 


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'Rap é estilo mais difícil de fazer bem feito', diz Don L