Em C´est La Vie, Renato Godá afirma: ”Não tenho pose, não tenho pressa, não tenho tempo para sofrimentos”. A faixa do disco Canções para Embalar Marujos, cuja turnê se encerra nesta sexta-feira (15), revela alguma coisa sobre o músico paulistano.

Ao 42 anos, o cantor e compositor é apontado frequentemente como uma novidade. “Isso se deve muito ao fato de ser bem low profile em relação a estratégias de carreira. Eu sou um cara que sai pouquíssimo de casa. Eu vivo um processo de ‘joãogilbertização’. Não tenho a necessidade de ficar aparecendo. Talvez se eu fizesse mais isso, as coisas estariam em um outro tamanho. Mas eu fico feliz do tamanho que eu estou também. Tendo tempo para ficar com meus filhos, com a família”, conta ao Virgula Música, por telefone.

Para ele, esta vontade de se resguardar influencia sua arte. “Isso faz com que você se concentre mais no trabalho de composição. Que eu acho que é um grande exercício. Compor é difícil à beça, sabe? É como um escritor, você tem que ter uma dinâmica de trabalho. Um disciplina muito grande. Essa coisa juvenil de ´ah, minha inspiração acabou´, que é um processo superbacana e natural, chega um ponto na carreira ou na trajetória. Vira um ofício.” 

Perguntado sobre quais artistas considera relevante hoje, ele se esquiva. “Sou a pessoa com menos propriedade para falar sobre isso, porque eu praticamente escuto só coisa velha, cara. O relevante sempre é o clássico, o que vai servir de influência para as novas gerações”, afirma, antes de abrir a guarda. “Chico Buarque no Brasil é uma referência de letra, Caetano de contemporaneidade, Bob Dylan continua sendo Bob Dylan e influenciando tanta gente desta geração folk, assim como Leonard Cohen”, enumera, esquecendo de Serge Gainsbourg, outro nome que certamente faz sua cabeça.

Com ingressos esgotados, o show no Sesc Vila Mariana, às 20h30, coroa uma nova fase na carreira do músico. “Esse disco proporcionou de fato o que eu posso chamar de minha primeira turnê, viajar bastante, amplificar a questão de público, do boca a boca, das pessoas falarem mais sobre o trabalho. Você vai ganhando fãs, vai ganhando amigos, vai ganhando estradas.” Além de viajar pelo Brasil, Godá levou a turnê para a Europa e para os EUA e ganhou elogios da revista inglesa Timeout, que incluiu seu show na lista de favoritos dos editores. 

Para Godá, seu processo de “joãogilbertização”, certamente terá reflexo em seu novo álbum, em que já começou a trabalhar. “Eu sou muito despretensiso em relação a ficar me reinventando. Eu não sigo muito fórmula de nada. Naturalmente, ele é um disco diferente dos outros porque ele vai evoluindo para outros lados. Ele não é um disco parecido com os outros, mas é um disco meu. é minha essência, o meu jeito de escrever, então tem uma assinatura”, diz. “É um exercício diário”, resume.

No show desta noite, Godá se apresenta com Angelo Kanaan (bateria), Eron Guarnieri (piano e acordeon), Renato Galozzi (guitarra e violão), Sergio Bartolo (baixo) e participação especial de Tiquinho (trombone) e Emerson Villani (guitarra). Questianado em qual seria sua banda dos sonhos, com artistas de todos os tempos, o músico põe os pés no chão mais uma vez. “É muito rápida a resposta porque é muito sincera. Eu teria exatamente a banda que eu tenho hoje, a minha banda dos sonhos é essa banda. Eu não me importo com grife, com nada disso, eu gosto de trabalhar com meus grandes amigos”, encerra.

Na entrevista, as frases do músico são pontuadas por tosses e espirros. Godá está gripado, o que lembra um texto clássico de Gay Talese: “Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível”. Para sua sorte, no entanto, Godá não tem a menor pretensão de ser Frank Sinata. Ele está contente sendo ele mesmo.

Veja Renato Godá tocando Bom Partido no festival SXSW em 2012, nos EUA




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Renato Godá encerra turnê em São Paulo "sem pose nem pressa"