Mais um vez um titã surpreende em voo solo. Com Purabossanova, Sérgio Britto (Som Livre) se aproxima da brasilidade radicalmente, com arranjos e instrumentações de maior complexidade que nos três trabalhos anteriores assinados com o seu nome e arrancou elogios do herói bossanovista Roberto Menescal.

Sobre os percalços de agradar aos fãs de rock, em sua conversão à bossa, ele diz que a situação não é cômoda. “Uma parte dos fãs dos Titãs é muito aberta a novidades (os Titãs sempre apostaram na diversidade, isso ajuda!) e tem interesse real por coisas diferentes do nosso universo de referências. Com esses posso contar sempre! A grande maioria, no entanto, é de fã de rock e música pop e tem pouquíssimo interesse em outros gêneros”, afirma.

Ouça Purabossanova, de Sérgio Britto, com Rita Lee

Produzido por Guilherme Gê e Emerson Villani, entre Rio de Janeiro e São Paulo, durante o primeiro semestre de 2013, o álbum tem participações de alto calibre como Alaíde Costa, Luiz Melodia, Rita Lee e Roberta Sá, além dos argentinos Eugenia Brusa e Toto Mendez e da aposta Marcela Manbeira. Sobre Rita, Britto se derrete ao responder ao Virgula Música, por e-mail, sobre que artista considera um modelo para sua carreira. “A Rita Lee é uma dessas pessoas. Fez parte da melhor fase de uma das maiores bandas do país e conseguiu fazer uma carreira sozinha ainda mais relevante. Fora isso é uma grande figura – bem-humorada, corajosa, inquieta e criativa. Admiro incondicionalmente.” Leia a entrevista a seguir:

Muitos integrantes dos Titãs já tomaram rumos surpreendentes em suas carreiras solos, o que evidencia que são pessoas muito diferentes. Que elemento faz com que a banda permaneça unida na sua opinião?

Necessidade.. (risos) Agora falando sério: apesar de sermos muito diferentes uns dos outros também temos afinidades. Todos nós sabemos o que podemos render quando trabalhamos juntos em torno de um mesmo projeto artístico. No meu caso partícular diria ainda que o tipo de colaboração que existe em uma banda me estimula a fazer coisas que jamais me ocorreria fazer sozinho. Isso é algo de que não pretendo abrir mão. O que fazemos como grupo ainda é uma parte importante na minha realização artística.

Apesar de seus trabalhos solos anteriores e no Titãs já terem essa preocupação de fazer música pop com brasilidade explícita, como você mesmo definiu, essa aproximação com a bossa e a música brasileira ainda causa estranhamento em algumas pessoas. Crê ser mais fácil fazer com que seus antigos fãs o acompanhe ou conquistar novos?

Uma parte dos fãs dos Titãs é muito aberta a novidades (os Titãs sempre apostaram na diversidade, isso ajuda!) e tem interesse real por coisas diferentes do nosso universo de referências. Com esses posso contar sempre! A grande maioria, no entanto, é de fã de rock e música pop e tem pouquíssimo interesse em outros gêneros.

Não sei dizer exatamente por quê, mas tenho a impressão que para mim seria mais facil conquistar novos fãs… O problema é que essas pessoas não associam o meu nome à música que gostam. Não é uma situação cômoda e exige, de mim, o dobro de energia. Eu já esperava que fosse assim.

Que artistas considera modelos de vida e de carreira, que são um espelho para você no seu trabalho solo?

A Rita Lee é uma dessas pessoas. Fez parte da melhor fase de uma das maiores bandas do país e conseguiu fazer uma carreira sozinha ainda mais relevante. Fora isso é uma grande figura – bem-humorada, corajosa, inquieta e criativa. Admiro incondicionalmente.

Em que aspectos residem a atualidade da bossa, na sua opinião. Crê que o nível estético e a influência da era de ouro da bossa, os anos 60, possam ser alcançados em um futuro próximo?

Sofisticação melódica e harmônica aliadas a grande poder de comunição, pra começar.
A batida, que com pouco elementos consegue simular uma escola de samba.
O poder de síntese das canções, economia e expressão máxima nos arranjos, a forma suave de cantar, etc.

Acho que esses aspectos ainda são atuais e pra falar a verdade andam fazendo falta em grande parte da música que se produz hoje em dia.

Sei que dificilmente algum artístas alcançará o patamar de Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Morais e companhia, não tem como, não é? Mesmo assim, acredito que ainda seja possível fazer muita coisa interessante tentando revitalizar o genêro. No meu entender a Bossa Nova talvez seja uma maiores conquistas da cultura brasileira e ao contrário do Pop, do Rock, do Reggae, do Funk, etc, infelizmente, anda meio esquecida por aqui.

Acho que em geral as pessoas mais jovens ( e até mesmo gente da minha geração ! ) vêem a Bossa Nova como um belo quadro pendurado na parede, algo que ficou cristalizado no passado. Eu quero é, sem muita cerimonia, tirar essa garota pra dançar! Não sei no que isso vai dar mas acredito que a viagem será, do ponto de vista artístico, muito mais compensadora do que se eu ficasse preso ao estereótipo que se faz do roqueiro brasileiro.

Crê que a brasilidade no pop, na sua obra e pela sua sensibilidade em relação ao zeitgeist, seja mais uma forma de “vender” o Brasil para o mundo ou uma tentativa de dar uma cara local o que vem de fora?

As duas coisas, né? Essa é uma questão antiga que quase todo artísta, principalmente os que vivem longe dos grandes centros, acaba se colocando um dia. No meu caso é primordialmente a vontade de que a minha arte seja expressão da minha individualidade e ela passa inevitavelmente por aí.

SERVIÇO

SÉRGIO BRITTO, PURABOSSANOVA
Preço médio: R$ 19,90


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Sérgio Britto, dos Titãs, diz que roqueiros não se interessam por outros gêneros