Tocar nesse tópico é como mexer num vespeiro: perigoso e, de certa maneira, pouco previsível. Entre alguns casais, pornô é um assunto tão constrangedor que torna-se proibido falar a respeito ou compartilhar vontades. Homens e mulheres fecham os olhos a essa realidade e a prática assume um caráter clandestino, daquelas que a gente só pode realizar em segredo, quando ninguém está olhando.

A confusão começa quando um dos lados encara os “filmes adultos” como o desfecho triste de uma relação monótona, burocrática e desinteressada. Se o parceiro busca prazer nesse tipo muito específico de entretenimento, é porque o tesão acabou de vez. Será que só dá para interpretar o pornô dessa forma catastrófica?

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Cena de “Private Paradise”, da cineasta Erika Lust

Especialistas em educação sexual e comportamento garantem que não. No fim das contas, os filmes eróticos e explícitos podem transformar a relação do casal, sim, e para melhor. O que deve vir antes de qualquer imposição, porém, é o diálogo. Ambos estão confortáveis com a decisão? Quais são os receios? O que pode ser feito? Na base da conversa, todo conflito pode ser resolvido.

Dá para começar aos poucos, com filmes menos explícitos e tramas mais elaboradas, como é o caso do “pornô feminista” da cineasta Erika Lust. No cenário mainstream, os pornôs mais clássicos não fazem tanto sucesso entre as mulheres, por serem “forçados” demais. E não é nenhuma novidade dizer que esses produtos são pensados por e para homens, certo? Em vez de apenas “engolir” um pornô ruim e entediante, o jeito é conversar sobre as preferências individuais e chegar a um denominador comum.

“Muitas vezes, nenhum dos dois consegue falar abertamente sobre fantasias e desejos sexuais, por medo da reação do outro. Infelizmente, o sexo ainda é tabu entre os casais, já que não existe o diálogo. O homem tem um desejo, a mulher tem outro; às vezes, os dois sentem vontade de fazer a mesma coisa, por exemplo, mas não se falam. Ninguém sabe o que o outro quer, e aí viram dois estranhos no ninho”, explica a psicanalista Cristiane Maluf Martin.

Oportunidade e prazer

Encarar o pornô com bons olhos não foi tão fácil assim para Mary V. Ela e o namorado, juntos há quase dois anos, já haviam discutido por conta do hábito do rapaz, que vez ou outra trocava alguns vídeos com amigos em grupos de mensagens. Mary sentia que os filmes em questão só a colocavam para baixo, por isso mal cogitava a possibilidade de assistir a qualquer coisa com o amado.

‘Love’, o pornô em 3 dimensões

“Eu tinha o pensamento de que o pornô apenas invadia um momento único e íntimo entre duas pessoas, por isso não achava muito legal. Além disso, as mulheres são sempre bonitas e sensuais nos filmes, e eu me sentia inferior. Acreditava que se meu namorado assistisse comigo, na verdade estaria sentindo prazer por outras mulheres, e não por mim”, lembra ela.

O receio de Mary, na verdade, é uma insegurança muito comum entre os casais, já que muitos consideram o pornô como algo performático; por isso mesmo, a comparação com aquilo que está passando na tela é inevitável. O caminho para contornar a insegurança é, novamente, colocar tudo em pratos limpos e separar a fantasia da realidade.

“Dependendo de como está a autoestima da pessoa, o pornô pode ter um efeito devastador. Aquilo que vemos no filme são atores interpretando uma fantasia, e você é real. Se o foco estiver na tentativa de ser aquilo que o filme mostra, a expectativa pode atrapalhar a resposta sexual. Por isso, precisa ser uma decisão democrática, positiva para ambos”, atenta Cris Borges, psicóloga especialista em saúde sexual.

Mary tomou a iniciativa por conta própria, sem intervenção do parceiro. Baixou um filme aqui, outro ali… Tudo pela curiosidade do momento. Aos poucos, ela descobriu que o pornô poderia funcionar como um ingrediente extra na hora do prazer, sem que apenas um dos lados saísse satisfeito e saciado da brincadeira. E aquela insegurança, onde foi parar?

“Na verdade, o pornô acabou me deixando mais segura e melhorando a minha autoestima de um jeito que eu não podia imaginar. Eu achava que os filmes tiravam a minha sensualidade, e aconteceu justamente o contrário. De uns tempos pra cá, estamos assistindo juntos e posso te dizer que nunca chegamos ao fim”, brinca Mary.

Limite e bom senso

Conversa franca e respeito: é por aí que o casal pode começar a conversar sobre pornô, sem imposições, vingança, ofensas ou remorso. Se os dois se sentem prontos para compartilhar a fantasia, ótimo. Se não, tudo bem, também. Não existe uma cartilha da sexualidade perfeita com um tópico exclusivo para discutir a obrigatoriedade da pornografia na vida a dois, certo?

Basta ficar atento ao condicionamento que essa fantasia está exercendo na intimidade do casal. A partir do momento em que o pornô torna-se obrigatório para estimular ambos antes de uma relação, é preciso parar e refletir. O distanciamento entre os parceiros é um sinal de que alguma coisa está fora do lugar, já que um estímulo externo está substituindo a excitação natural do momento.

“É uma linha tênue que separa a normalidade do vício, principalmente para os homens, que são bem visuais. A mulher é bem auditiva e se excita muito mais nas palavras. Então, a questão do vício é mais preocupante e fácil de acontecer no universo masculino. Tudo tem que ser bem discutido, pensado e repensado, para que o casal veja até que ponto o pornô está trazendo benefícios ou malefícios para a relação”, conclui Cristiane Maluf.

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Créditos: Reprodução

 

 


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