Divulgação Choque de Cultura

Se você riu assistindo algo na TV e na internet nos últimos anos, é provável que um roteiro de Caito Caito Mainier tenha provado esta reação. Isto porque o apresentador do fenômeno Choque de Cultura, também está envolvido com o Lady Night, da gênia Tata Werneck, e deixou sua marca em Larica Total, O Último Programa do Fim do Mundo (MTV Brasil), Irmão do Jorel (Cartoon Network) e em breve estará em um cinema perto de você.

Em 2018, Caito será visto em Quase Uma Dupla, Chorar de Rir e Os Salafrários nas quais dividirá a tela com Cauã Reymond, Leandro Hassum e Marcus Majella, respectivamente.

Referendado por teste do Buzzfeed e trending topics do Twitter todas as quintas, quando o programa vai ao ar no canal do YouTube da Omeleteve, o Choque de Cultura é um dos maiores provedores de memes da atualidade.

Caito, no entanto, nega que seja proposital. “As verdades dos pilotos em geral são frases simples, quase máximas, pensamentos bem sintéticos, muitas vezes contraditórios, mas sempre imperativos. Acho que essa linguagem é natural do meme, que usa frases simples e abertas, que são possíveis de colar em qualquer coisa, qualquer assunto”, afirma.

Nós falamos com o cara por trás do icônico personagem Rogerinho do Ingá, piloto da Sprinter azul e vermelha. Caito interrompeu suas férias para conversar com a gente e falou sobre Niterói, o humor atual, memes, entre outros assuntos.

Crê que existam características típicas do seu lugar de origem no seu humor?
Caito Mainier – Total. Acho que boa parte das coisas que eu falo, do jeito que eu falo e também dos assuntos que eu falo vem da minha juventude no Ingá, um bairro de Niterói onde tinha playboy, drogado, marginal, pichador e gente boa, às vezes tudo junto numa mesma pessoa.

Tinha a galera da minha rua, todo mundo muito mais light e tranquilo, mas ainda com aquela malandragem da sobrevivência. A gente era menor, vivia na rua então tinha que saber se virar. Em geral era no verbo que a gente sobrevivia e no comportamento de enxame, quando dava merda juntava todo mundo pra ficar mais forte. Desde o Larica Total, as coisas da Tv Quase até o Choque d eCultura bebem dessa mesma fonte urbana, do asfalto.

Porém, a ideia de usar personagens com sobrenomes que indicam o lugar de origem (Cerginho da Pereira Nunes, Rogerinho do Ingá) é mais pra ficar parecido com aqueles caras meio vereador sabe? Fulano do posto, Não Sei Quem de Barra Mansa. Esse tipo tem muito em programas toscos de TV locais, que são outra referência forte pra mim.

O que está acontecendo de mais novo no humor hoje, na sua opinião?
Caito – Cara, não sei juro. To meio por fora, porque eu só vejo coisa antiga. Eu não sou muito de consumir humor, vejo bem pouco. Mas acho que a internet como veículo de fácil acesso, produção e veiculação trouxe muita coisa nova. Muita coisa ruim, mas muita coisa boa, sem aquela preocupação de produção, figurino, etc. Mas não sei dizer, sinceramente, o que há de novo no humor.

Gostaria que falasse um pouco sobre como conheceu cada um dos “pilotos” do Choque de Cultura?
Caito – Leandro Ramos, o Julinho da Van, conheci primeiro, em 2007 através de amigos em comum que trabalhavam na Globosat como ele na época. E alguns amigos sempre diziam “você tem que conhecer Leandro!, ele é muito parecido contigo, vocês vão ser amigos na hora, etc”. E de fato, a gente se conheceu e ficou amigo instantaneamente.

Leandro é de Jacarepaguá, um bairro do Rio que por ser longe e ter uma vida própria, parece muito com Niterói. Então tínhamos várias coisas em comum, pensamentos, ideias, ríamos das mesmas coisas. E logo trabalhamos juntos fazendo o Larica Total por três anos, onde Leandro, dirigia comigo e Felipe Abrahão e escrevia também.

Daniel Furlan eu conheci já em 2013, quando a gente estava procurando algum ator pra fazer um prólogo do Larica Total e meu sócio na época me mostrou  perfil do Daniel Furlan no Facebook – na época eu tinha facebook, hoje não mais.

Daniel estava gravando um piloto pra uma série da MTV produzida por esse meu sócio e acabou gravando esse episódio do Larica Total onde ele, Paulo Tiefenthaler e outros amigos jogam War. Daí, Daniel me chamou pra fazer o Último Programa do Mundo na MTV com ele e Juliano.

Raul Chequer também conheci nesse ano de 2013, mas a gente ficou mais amigo e começamos a trabalhar juntos no UPM e depois meus amigos em 2014 fazendo o Falha de Cobertura, onde definitivamente eu “entrei” pra TV Quase.

Que característica acha mais interessante em cada um?
Caito – Daniel Furlan é meu parceiro de trabalho mais frequente atualmente, uma figura genial, inteligente, sarcástico e muito focada no trabalho, foi quem me convenceu a ir pra frente das câmeras e é quem eu me espelho muito. Leandro Ramos escreve muito bem e temos muita sintonia escrevendo coisas juntos, já fazemos isso há mais de dez anos. E Raul Chequer, o grande profissional Raul, é aquele menino do interior, sempre surpreendendo, multitarefa, escreve, atua, dirige, edita, filma, produz e qualquer outra coisa que seja necessária fazer, ele sabe fazer e faz.

Você pensa seus roteiros tendo como meta virar meme na internet?
Caito – Não, de forma alguma. O Pedro Leite, outro gênio, que escreve o Choque com a gente definiu bem: “os personagens o Choque de Cultura não conversam entre si, eles apenas jogam suas verdades uns pros outros, sem diálogo. São quatro monólogos intercalados.”. Concordo total. E essas verdades dos pilotos em geral são frases simples, quase máximas, pensamentos bem sintéticos, muitas vezes contraditórios, mas sempre imperativos. Acho que essa linguagem é natural do meme, que usa frases simples e abertas, que são possíveis de colar em qualquer coisa, qualquer assunto.

Com quantos anos você está? Se sente parte de uma cena?
Caito – 
40 anos. nasci em 26 de outubro de 1977. Não vejo parte de uma cena não. Eu me vejo como integrante muito orgulhoso da TV Quase, mas estou só preocupado em sustentar minha família e fazer coisas de qualidade. Pode ser que lá na frente eu olhe pra trás e me reconheça dentro de uma cena, de uma época, mas no presente, não consigo ver dessa forma e também não estou interessado. Quero só mesmo produzir e produzir bem.

Que características crê que sejam mais marcantes na sua geração?
Caito – Difícil, porque não sei que geração eu faço parte. Eu sou bem mais velho que 90% da minha audiência, mais velho do que a galera que produz humor hoje, principalmente na internet, então não sei como responder. Meus amigos, assim como eu, quando nos encontramos, falam sobre filmes antigos, séries antigas, relembram piadas, quadrinhos antigos. Até fala de uma coisa ou outra nova que apareceu, mas em geral somos nostálgicos.

Ao mesmo tempo passei uns dez anos da minha vida trabalhando em escola, então tenho muitos amigos jovens que estão em outra completamente diferente, estão por dentro da produção de youtubers e novas séries estrangeiras e daí conversamos sobre isso. Trocamos referências.

Talvez o que seja mais marcante hoje é essa salada cultural e temporal onde a internet propiciou coisas velhas e novas coexistirem. Você mostra um Seinfeld pra um moleque de 19 e ele te mostra um grupo americano contemporâneo que fazem esquetes non sense, isso num intervalo de tempo de uma pesquisada no google. E as referências dialogam, você vê graça nas duas coisas, mesmo elas tendo quase 15, 20 anos de diferença.

Caito Mainier

Caito Mainier
Créditos: Reprodução/Facebook

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'Internet propiciou coisas velhas e novas coexistirem', diz Caito Mainier

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