Luiz Thunderbird, 52 anos, estava na leva de VJs que inaugurou a MTV Brasil no longínquo ano de 1990. Com quatro passagens pela emissora ao longo de 23 anos, ele agora testemunha o fim de uma era da emissora marcada pela produção de programas brasileiros originais, que contribuíram para a formação musical e cultural de muita gente por aí. Em entrevista ao Virgula Diversão, o VJ se disse feliz por poder realizar projetos bacanas nos últimos dias da emissora sob controle do Grupo Abril. Já com certa dose de saudosismo, ele falou também sobre seus antigos programas.

“Fizemos a melhor TV do fim do século passado. A gente deu um tapa na cara da cultura televisiva brasileira. As pessoas deixavam a TV ligada na MTV como faziam com o rádio”, disse o apresentador. Comentando a devolução da marca MTV em outubro para a estadunidense Viacom, que produzirá apenas 350 horas anuais de conteúdo feito no Brasil, ele se mostrou otimista. “Conheço algumas pessoas que vão trabalhar na Viacom para fazer a MTV, e são pessoas muito competentes”.

Leia a entrevista com Luiz Thunderbird:

Você participou da inauguração da MTV. O que se lembra disso?
Quando começamos a gravar, era em um estúdio sem ar condicionado, sem teleprompter. Os produtores desmaiavam de calor. Gravávamos todos dentro de um galpão muito pouco confortável. Ainda assim, fizemos a melhor TV do fim do século passado. A gente deu um tapa na cara da cultura televisiva brasileira. As pessoas deixavam a TV ligada na MTV como faziam com o rádio. Em pouco tempo, as pessoas viam algo e diziam, “Isso é bem MTV, né?”. Depois, me diziam, “Thunder, você é a cara da MTV”. Isso me deixa muito orgulhoso, cara.

Quando estreou como VJ, você fazia alguma ideia do que significaria aquilo tudo?
Eu nem queria ser VJ. Fui para a MTV falar da minha banda, a Devotos de Nossa Senhora Aparecida, e aconteceu. Eu fui praticamente enganado pelos diretores. Eles pediam para eu fazer um teste, e eu não queria. Faltei nos quatro primeiros testes. Daí, eles me chamaram para ir lá e falar sobre a banda. Eu falei, e eles disseram, “Parabéns! Você foi aprovado. Você vai ser um dos VJs da MTV”. E eu, “Ei. Calma aí. Que papo é esse?”. Só depois é que eu fui saber o que é ser um apresentador de TV e o que é ser um VJ.

A MTV nasceu no começo dos anos 90 como uma emissora que informava sobre música. Muita gente aprendeu a curtir bons sons por causa de programas como o Lado B. Você sente falta dessa época?
Agora, eu não estou sentindo tanta falta porque, no fim de uma era, no momento em que a MTV vai mudar de mãos, eu posso fazer os tipos de programas que fazia na época. Estou fazendo o Rock Blocks, um programa de videoclipes, e posso matar a saudade. Eu vou fechar minha participação na MTV gravando o CEP MTV, meu programa dos anos 90.

O que era o mais bacana desse começo?
Eu acho que a MTV tinha muito mais liberdade editorial. A gente podia ousar mais, talvez menos de olho no anunciante e mais de olho na credibilidade. Mas eu acho que deu para aproveitar cada centímetro que me deram.

Dos anos 2000 até hoje, a MTV passou a ter mais programas de entretenimento, não necessariamente musicais. O que a MTV significou para os jovens desta última década?
A MTV teve de abrir um pouco o leque e se aproximar mais do padrão americano, colocando entretenimento na programação. E eu acho que tudo bem, não há problema algum com isso. No começo dos 2000, fiz o VJ por Um Dia, que era um programa que as pessoas adoravam, porque todo mundo queria viver um dia como VJ da MTV. Isso foi muito bacana. Na mesma época, fiz o Supernova, que era um programa absolutamente musical, diário e ao vivo. Acho, na verdade, que o começo dos anos 2000 foi um momento em que a música esteve muito presente. Em 2011, eu voltei para fazer o programa do VMB, mas também fiz o Para Gostar de Música e o MTV Clássica, que contava histórias dos estilos musicais. A música havia voltado à MTV. Mas isso não foi o suficiente, porque parece que a Abril perdeu o interesse no canal.

O que deu errado com a MTV Brasil?
Não foi um problema. O problema é da Abril. Ela não quis mais a MTV e acho que é mais que justo ela devolver para alguém que queira tocar o projeto, no caso a Viacom.

Quais foram seus programas preferidos de fazer?
É difícil de dizer, viu cara. Tem alguns programas que realmente me davam prazer. Teve o 121 Minutos, o Lado B, o CEP MTV. O MTV Clássica eu também colocaria, porque é informativo e cultural e musical. Na minha segunda passagem pela MTV, fiz o Contos de Thunder, que foi um marco na televisão brasileira. Pela primeira vez, dava para esculhambar alguma coisa. Ali, a gente imprimiu uma nova linha que desembocou em projetos interessantes, como o Trash Movies, com o Zé do Caixão, na Bandeirantes, e o Piores Clipes do Mundo.

Como você acha que o espaço deixado pela MTV Brasil será preenchido?
A internet é uma plataforma legal, porque você assiste ao que quiser, na hora em que quiser, ao contrário da televisão. Mas a TV está se revolucionando também. Hoje, você tem o on demand, por exemplo. A MTV Brasil sai de campo, mas a VH1 assume a MTV. Entre os canais com programação musical, a gente também tem o Canal Bis, o Multishow, a TV Mix. A gente tem um monte de coisa aí pela frente. Todas essas emissoras podem suprir a falta da MTV Brasil. E as pessoas nessas emissoras não são estupidas. Elas vão perceber que há um espaço aberto e vão aproveitar. A MTV tem muitos talentos que vão ser reaproveitados em outros canais. E não só apresentadores, mas também produtores, diretores, enfim, todo mundo que faz a MTV.

Uma das principais marcas da MTV Brasil é a subversão. Há espaço para isso na TV, hoje?
Acho que isso sempre está nas mãos dos diretores de programação. Não está nas mãos dos diretores ou dos apresentadores. É o diretor de programação que determina “vamos ousar”. Acho que existe espaço para a subversão, sim, e quem for esperto vai fazer uso disso. Quem ousar e se arriscar vai se destacar. As pessoas vão sacar isso.

A que programas você gosta de assistir na TV?
Tem o Rock Blocks (risos). E tem o Furo MTV… Temos alguns programas muito interessantes. Eu acho o TV Folha (exibido na TV Cultura) incrível. Eu assino o jornal, mas não gosto. A TV Folha eu acho muito bem feito, com um formato rápido e ágil. Os programas da BBC HD Brasil eu acho do caralho. É uma das emissoras mais legais no momento. O nível de produção, eu acho foda. O Top Gear (programa sobre carros) é um dos programas mais legais do planeta. Eu queria fazer esse programa.

Ainda vale a pena passar videoclipes na televisão, se é possível vê-los no YouTube?
Não sei que computador você tem, cara, mas o meu é um laptop bem limitado, com tela pequena e som ruim. Mas eu tenho uma TV HD, com um puta som. Eu adoro televisão. Acho que uma coisa não se mistura com a outra. Se não fosse para passar clipe na TV, não estaria rolando o Rock Blocks. As pessoas me dizem pelo Twitter: “Puta, a MTV está muito legal agora, eu ligo a TV e vejo os clipes mais legais do mundo” ou “A MTV está acabando agora e vocês estão caprichando na programação”. Isso é legal, né?

O que espera da MTV agora, com a Viacom assumindo?
Espero que seja muito bacana. Conheço algumas pessoas que vão trabalhar na Viacom para fazer a MTV, e são pessoas muito competentes. Espero que a nova MTV seja informativa, cultural, musical e com programas de entretenimento bacanas.

Quais são seus planos pós-MTV?
Tem duas coisas que amo fazer nessa vida: música e televisão. Eu não vou abrir mão disso. Tenho cinco projetos que estão sendo apresentados para emissoras. Tenho certeza de que, em breve, terei novidades para vocês.


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Thunderbird fala sobre fim da MTV Brasil: 'Fizemos a melhor TV do fim do século'