Alvorada

E o que me resta é bem pouco
Quase nada
Do que ir assim vagando
Numa estrada perdida

Nessa construção Cartola provavelmente se confundiu ao redigir.“Não sei bem de onde saiu aquele "do que". A frase está meio sem sentido. Parece ser o seguinte: ‘e o que me resta é bem pouco (, é) quase nada (, é) ir assim vagando numa estrada perdida’”, diz Nogueira.

E no rock não é diferente. Raul Seixas, apesar de ser uma lenda para muitos admiradores do ritmo, não conseguiu escapar dos erros da gramática.

Canceriano Sem Lar (Raul Seixas)

…Tomando meu café pra fumar
É, é, porém, mas, todavia
Eu sou um canceriano sem lar
Eu tomo café pra mim não chorar…

Segundo Nogueira, o uso do pronome pessoal oblíquo tônico MIM, na função de sujeito após a preposição PARA, também é freqüente na língua popular. “A presença da preposição PARA induz ao uso do pronome oblíquo: ‘Trouxe o livro para mim’”. Sendo assim, com a presença de um verbo (no infinitivo), temos uma segunda oração da qual o pronome exerce a função de sujeito, por isso devemos usar o pronome pessoal reto: "Trouxe o livro para eu ler". Assim sendo, na língua
padrão, deveria ser "Eu tomo café para eu não chorar".

Porém, como dito no começo desta matéria, os músicos têm licença poética para adequarem as letras as suas melodias. Como é o exemplo deste trecho da música abaixo:

Eu te amo você (Patrícia Coelho)

Eu te amo você
Já não dá pra esconder essa paixão…

“Em ‘Eu te amo você’, encontramos a tal mistura de tratamento (2a. com 3a. pessoa). É claramente intencional. Busca a expressividade. Na língua padrão, ou ‘Eu te amo’ ou ‘Eu amo você"”, adverte Nogueira.

As grudentas do verão…


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Outro samba de Cartola