Padre Beto


Créditos: Camila Turtelli

Depois de atuar por 14 anos na Igreja Católica, o padre Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, renunciou ao sacerdócio e acabou por ter sua excomunhão comunicada nesta segunda-feira (29) no site da Diocese de Bauru
 

Tudo aconteceu após declarações registradas num vídeo publicado no Youtube, no qual o padre questiona dogmas da Igreja Católica e fala com aceitação sobre assuntos como bissexualidade e homossexualidade. Com a repercussão, o bispo, Caetano Ferrari, da Diocese de Bauru exigiu que padre Beto se retratasse, mas ele preferiu pedir seu desligamento da Igreja e celebrou sua última missa no último domingo (28).

Procurado pelo Virgula Lifestyle, o padre disse que preferiu sair da Igreja a agir com hipocrisia. “Não falo isso com orgulho, mas sinceramente não estou triste nem frustrado com o final do meu relacionamento com a Igreja Católica. Estou simplesmente esperando essa nova etapa da minha vida e com muita vontade de fazer coisas boas, como fiz até agora. Saio com a cabeça erguida, que é melhor do que ser hipócrita. Não me arrependo de nada que eu fiz em meu sacerdócio, foram momentos muito bons em minha vida. Espero mais desses momentos agora como ‘Beto’ ou até como ‘padre Beto’, mesmo que excomungado”, disse.

Com pensamentos progressistas, padre Beto defende uma revisão na moral sexual da Igreja Católica. Segundo ele, há que se considerar questões como métodos contraceptivos, masturbação e diversidade sexual.

“A moral sexual da igreja como um todo precisa ser revisada, pois está muito defasada. A igreja precisa discutir sobre esses assuntos, pois da maneira que está gera hipocrisia. Um exemplo básico é que a maioria dos casais usam anticoncepcionais, camisinha, fazem vasectomia, mas frequentam a igreja e fingem usar o método Billings (tabelinha), que é pregado pelos padres. Os jovens também já começam a sexualidade com culpa, através da masturbação, ato que a Igreja Católica considera individualista e pecaminoso”, disse.

“A Igreja precisa enxergar a diversidade sexual. Existem heterossexuais, bissexuais, homossexuais e não se pode fechar os olhos para essa realidade. Dois seres humanos que se amam e querem construir uma vida juntos têm o direito de ter a benção de Deus. Para Ele, não existe preconceito”, declarou.

Padre Beto ainda declarou que na Idade Média suas reflexões evoluídas fariam com que a Igreja o punisse em uma fogueira: “Por minhas reflexões estou sendo excomungado. Ainda bem que a pena máxima hoje em dia é a excomunhão, pois em outros tempos eu já estaria na fogueira”, concluiu.

Ser excomungado significa literalmente ser colocado para fora da comunhão, com isso o padre, além de não mais poder exercer suas funções, também é impedido de frequentar a  Igreja Católica sequer para assistir às missas. 

Assista ao polêmico vídeo:
 

 

Veja a íntegra do comunicado da excomunhão de padre Beto pela Diocese de Bauru:

É de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de cinco membros do Conselho dos Presbíteros.

O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.

A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado.

Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a “demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde deverá vir o Decreto”.

Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história.

Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”. 


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Excomungado da Igreja Católica por apoiar gays, padre Beto declara: "Em outros tempos, eu já estaria na fogueira"