(Por Sarah Corrêa) – Após pouco mais de dois meses à frente do ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc tornou a pasta foco de polêmicas logo que chegou para substituir Marina Silva. Com uma postura enérgica, Minc prendeu os chamados "bois piratas", aplicou multas à extração ilegal de madeira, anunciou investimento de mais de 20 bilhões de reais ao Fundo Amazônia até 2021 e prometeu desburocratizar a área, acelerando licenças ambientais.

Ficou conhecido seu bate-boca via mídia com Blairo Maggi (PR), governador de Mato Grosso e maior produtor de soja do mundo, onde o ministro bateu muito na tecla do estado ser um dos que mais desmatou no primeiro semestre desse ano, segundo dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais). “Se deixar, Blairo Maggi planta soja até nos Andes”, disse Minc na época.

Além de querer mostrar que assumiu o ministério de forma pró-ativa, Minc ainda chamou atenção pelo seu visual peculiar – com destaque para sua famosa coleção de coletes.

ONGs e ruralistas vs Minc

Para Homero Pereira (PR-MT), representante da Bancada Ruralista [que reúne 95 deputados que defendem ferrenhamente o agronegócio e os grandes proprietários de terras] no Congresso, "essas questões não passam de pirotecnia. Para agir no meio-ambiente, tem que ter um conhecimento do local. Não adianta essas ações punitivas com polícia federal", disse o deputado federal ao Virgula. "Hoje, qualquer atitude que você pensa para tentar viabilizar a produção tem que levar em conta a questão ambiental, mas temos que agir juridicamente".

Ao lado das realizações e promessas do ministro, o espaço fica aberto para questionamentos, como: ele conseguirá satisfazer os interesses do chamado “agrobusiness” brasileiro e, ao mesmo tempo, lutar para a preservação da Floresta Amazônica, um dos maiores desafios do nosso país? "Sim, se Minc tiver bom senso é possível fazer isso. Mas o ministro tem que entender a Amazônia como um meio econômico, tem que fazer os produtores entenderem que vale muito mais, do ponto de vista dos negócios, uma árvore em pé do que no chão", apontou Pereira.

As ONGs ambientais, como o Greenpeace, mostram certo pessimismo quanto as perspectivas da gestão de Minc e as vontades do governo Lula. Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas da ONG acredita que "o maior desafio não está no ministério do Meio Ambiente propriamente dito, mas em fazer os políticos pensarem que tem quer ser dada importância às questões ambientais, porque se trata da saúde da população".

Outra ONG nessa mesma linha, a Amigos da Terra, conclui que será difícil Minc fazer algo na posição que está hoje, já que seu ministério está em uma posição "marginal" em relação ao governo. "Para Lula, o Meio Ambiente continua em segundo plano, marginal. Era assim com a Marina e não está sendo diferente agora", observa Roberto Smeraldi, diretor da Amigos.

Mas, e aí: Minc pode realizar um bom ministério?

Se tudo correr bem, Minc fica no ministério por mais dois anos. Mas há chances dele conseguir, entre tantas perspectivas negativas, diminuir o desmatamento da Amazônia, coibir o cultivo ilegal do gado, acelerar os processos burocráticos de apropriação legal de terras, entre outras questões? "Não do ponto de vista do governo, porque se mostra a favor de obras que não valorizam o meio-ambiente", critica Leitão, do Greenpeace.

O deputado Pereira também não bota muita fé nas ações da pasta para o futuro e lembra que o diálogo entre o ministério e os interesses da maior bancada no Senado é o ponto chave para fazer uma medida dar certo, segundo ele, o que não ocorreu com a ex-ministra Marina Silva. "Da mesma forma que esperávamos com a ministra Marina Silva que houvesse uma forma de diálogo entre as partes e o uso do bom senso para iniciarmos uma nova fase, não está acontecendo com Minc", observou o deputado.

Esmeraldi finaliza, sem enxergar, também, muitas nuvens claras no horizonte: "Os indicadores têm que mudar. Ministro que faz troca de concessão por pequenas áreas de preservação, sem observar o território como um todo, e assume uma postura marginal em relação ao governo, não tem como fazer um bom ministério. Essa atitude é velha e precisa ser diferente".

O outro lado da moeda: a versão do ‘Meio Ambiente’

Se de um lado ONGs e ruralistas, mesmo com interesses divergentes, dividem da mesma opinião e não vêem muitas esperanças no ministério, o próprio objeto de discussão comemora com números positivos.

Segundo os dados do Meio Ambiente, desde o início da Operação Boi Pirata, já foram apreendidos 3.046 cabeças em área de preservação da Amazônia. A meta do governo é chegar à retirada de 10 mil animais da Estação Ecológica da Terra do Meio, no município de Altamira (PA), uma unidade de conservação.

Outra ação de que o ministério se orgulha é o endurecimento na fiscalização contra o desmatamento na Amazônia. No mês de junho, de acordo com a última medição do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram 870 km2 de território degradado, porém esse número representa uma redução de 21% comparada ao mês anterior.

Para continuar nessa batalha contra o desmatamento, mesmo sendo caracterizada como “pirotecnia” pelo representante da Bancada Ruralista, Homero Pereira (PR-MT), Minc anunciou em sua última coletiva de imprensa, no dia 15 de julho, que comandará cerca de 45 novas operações do Ibama com a Polícia Federal na região da Amazônia neste mês de agosto.

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Minc não agrada nem verdes nem fazendeiros