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Titãs

Para quem foi criança e adolescente nos anos 80 e 90 e educado sentimentalmente pelos Titãs, conversar com o guitarrista Tony Belloto é como mergulhar numa máquina do tempo. A simples menção a discos como Cabeça Dinossauro, Õ Blésq Blom e a Titanomaquia reforçam a noção de que a música marca a passagem do tempo e torna-se referência para histórias pessoais.

Também escritor e atualmente divulgando seu sétimo romance, Machu Picchu, Belotto rejeita o saudosismo e diz que os Titãs sempre procuram fazer coisas novas para se manterem relevantes. “Essa inquietação permanece como era há 30 anos. Acho que isso é o que mantém a gente vivo. No momento em que a gente está só olhando para o passado, acho que a gente termina”.  

No ano passado, o grupo comemorou 30 anos, com uma releitura do clássico Cabeça Dinossauro. Para o guitarrista, o reconhecimento tardio é motivo de satisfação. “Depois de um tempo a gente ver que aquilo permaneceu, isso prova para gente que estávamos certos”, afirma.

Leia entrevista concedida ao Vigula Diversão nos estúdios da rádio Jovem Pan em que Belotto fala sobre a evolução de sua carreira literária, anuncia a volta do seu personagem mais conhecido, o detetive Bellini, o novo disco dos Titãs e compara a música com a escrita.

Você está lançando seu sétimo romance, Machu Picchu. O que mudou para você? Hoje é mais fácil colocar as ideias no papel?

Acho que sim. Escrever é um exercício, como qualquer outro. Você vai ganhando fluência com o tempo, vai compreendendo melhor o seu estilo de fazer as coisas. O jeito de escrever.

E eu comecei a escrever assim com mais frequência, disciplina, há mais ou menos 20 anos. Lancei o meu primeiro romance em 95, há 18 anos. E de lá para cá eu tenho escrito sempre e vou sentindo que com o passar do tempo, por um lado fica mais fácil porque você vai dominando mais a linguagem.

Por outro lado é sempre um desafio você fazer um novo livro, você não se repetir. Ao mesmo tempo que fica mais fácil, por outro fica mais difícil, como tudo.

E você matou o Bellini (personagem de vários livros de Tony)? 

Não, não, não. O Bellini está vivo e eu estou fazendo um novo livro com ele, que vai ser lançado no ano que vem. Ele realmente ficou uns anos desaparecido. Fiquei procurando ele, não encontrava. Mas agora nos reencontramos e estou escrevendo uma história do Bellini. Muita gente me pede, eu já me pedia tanbém. Mas quando eu sentava começava a fazer outras coisas, mas desta vez acho que a gente se reencontrou mesmo e vem mais um Bellini por aí.

Li uma entrevista em que você manifestou sua satisfação consigo mesmo pelo domínio da estrutura técnica do novo livro. Como você chegou nisso, por tentativa e erro? Ou você acabou se inspirando em grandes nomes? Porque é barra pesada a concorrência na literatura…

É. Você não pode nem pensar, mas isso em qualquer coisa. Quando eu comecei a tocar guitarra também. Pô, Jimi Hendrix, Eric Clapton, enfim, você não pode pensar muito nisso, se não não faz nada.

No Machu Picchu eu experimentei com algumas técnicas de narrativas, coisa que eu não poderia ter feito há 18 anos, quando eu comecei. Você vai ganhando uma confiança também para experimentar, para usar coisas.

Como você falou, tentantiva e erro sempre. O barato de escrever é esse. Você vai tentando uma coisa, dá certo, outra não dá, você volta, começa de novo. Por isso que é tão instigante e legal de fazer.

A sua experiência da música está ligada à literatura de alguma maneira?

Eu acho que sim. O impulso de você criar, de você inventar coisas, sempre nasce da mesma forma. É uma necessidade de você inventar alguma coisa, de você fazer uma coisa que não existia passar a existir.

É claro que especificamente, tecnicamente, são formas muito diferentes, a música, a canção, o rock como a gente faz nos Titãs e a literatura. Mas o impulso de criar, esta inquietação, você querer inventar uma coisa, você se fechar para conseguir dar um formato para aquilo que está na sua cabeça, tem a ver sim. 

Titãs já está com 31 anos, vocês já conquistaram bastante coisa, como ficou evidente nesta releitura do Cabeça Dinossauro que vocês fizeram recentemente. O que te motiva a continuar na estrada?

Em primeiro lugar é muito prazeroso tocar, fazer show. É um jeito de viver bem legal, uma coisa que a gente sempre gostou de fazer. E pode fazer. Viver disso é uma coisa muito boa.

A gente, apesar de ter esses anos todos de carreira e ter tanta coisa legal que a gente já fez no passado, esta releitura do Cabeça é um exemplo disso. O que mantém a gente com vontade de continuar fazendo é essa gana de fazer coisas novas, tentar se superar sempre, fazer no ano que vem uma coisa diferente do que a gente está fazendo este ano.

Então, essa inquietação permanece como era há 30 anos. Acho que isso é o que mantém a gente vivo. No momento em que a gente está só olhando para o passado, acho que a gente termina.

O que é legal que a gente consegue olhar para o passado, muita gente gosta do que a gente já fez, mas a gente continua inventando coisas novas e de certa forma olhando para frente também. Acho que isso que garante a permanência e a vitalidade da banda.

É como que vai ser o disco novo?

Olha, está com uma pegada bem pesada.

Titanomaquia assim?

É, talvez nem tanto. Mas tem coisas, sim. Quando a gente fez essa turnê do Cabeça, a gente se surpreendeu com a repercussão, as pessoas curtiram muito, a gente viu que aquilo é mesmo a essência do que a gente é.

E a gente já vem algum tempo tentando experimentar, de fazer um rock pesado com elementos de música brasileira. Uma coisa entre Õ Blésq Blom, Cabeça, Titanomaquia e uma coisa nova, por aí.

Vocês já foram muito criticados, chamados de punk de boutique. Iam para um lado, tomavam pau. Iam para outro, também tomavam. Como que é para você depois de tanto tempo ver o Cabeça ser reconhecido?

Eu vejo com muita satisfação porque a gente desde o começo tinha a noção que o disco tinha bastante relevância. Essa coisa da crítica realmente acontece, você não pode agradar a todo mundo o tempo todo, isso eu acho normal.

Mas é como você falou, depois de um tempo a gente ver que aquilo permaneceu, isso prova para gente que estávamos certos.


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Tony Belloto, escritor e guitarrista dos Titãs, diz que reconhecimento tardio traz satisfação