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Elizabeth Savalla como Márcia

Alguns personagens em Amor à Vida começaram mocinhos e viraram vilões e vice-versa, outros ficaram no mesmo registro quase sem muitas modulações, a grande exceção é Márcia, interpretada por Elizabeth Savalla que carrega várias complexidades e é a mais “humana”.  Com nuances entre as imperfeições de caráter e o coração que abriga os desprotegidos, a vendedora de hot dog e ex-chacrete é cheia de coloridos e contradições, não à toa, a atriz levou o prêmio de 2013, em sua categoria, na Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Em conversa com o Virgula Famosos, ela falou sobre o porquê do sucesso de Márcia tanto com o público como com a crítica, que não gosta de saber o que vai acontecer com suas personagens, que ficou com medo do papel oferecido por Walcyr Carrasco e como pensou a construção de Márcia.

Virgula Famosos – Como você pensou a construção de Márcia?  

Elizabeth Savalla – No início, fiquei bastante assustada porque esta imagem é bastante complexa, eu não queria fazer apenas a caricatura de uma pessoa que vende hot dog. Queria que esta pessoa tivesse profundidade e aí foi aos poucos. Eu imaginei que ela deveria ter um cabelo crespo, que ela tivesse uma flor no cabelo meio que em homenagem a um personagem que eu já tinha feito (Mariazinha, da novela De Quina Pra Lua, de Alcides Nogueira).  Aos poucos, ela foi nascendo assim. O figurino me ajudou muito, esta coisa de vender hot dog também e o fato dela ter sido chacrete, de ser mãe solteira, uma mulher mais humana, que compreende as dores dos outros, é uma mulher batalhadora, uma mulher de garra, apesar de ela querer casar a filha com um cara rico, é a única forma que ela conhece na vida de se dar bem . As pessoas acham que pra mudar de classe precisa de um bom casamento por isto não acho que é uma maldade dela, ela apenas acredita nisto, é a única forma que ela conhece, que lhe foi dada.

Quem é a Márcia para você?

Ela é uma mulher que dá a volta por cima, sabe como aquela música que diz “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Eu acho que a Márcia é isto, ela é um retrato do povo brasileiro. Sofre tanto, sofre pra poder vender o hot dog dela, vai por meio da rua, tem o rapa, tem os concorrentes, é uma série de dificuldades. Ela foi babá e uma criança caiu na piscina e ela foi presa, ela já passou pela cadeia injustamente, porque ela não teve culpa da morte da criança, foi um acidente, talvez o mais culpado teria sido o pai que não fez uma proteção para aquela piscina.  A sociedade também a condena porque ela é pobre, sozinha, não tem dinheiro pra pagar advogado. E foi parar na cadeia porque era pobre. A Márcia é uma mulher ralada, ela sofreu mesmo.

Por que o público gosta de Márcia?

Eu acho que ela caiu no gosto popular porque ela tem esta afinidade com os sentimentos e as dificuldades da vida do povo brasileiro.

Você não deseja saber o destino de sua personagem?

Eu não desejo nada. Conversando com o Mateus (Solano), eu falei pra ele que eu aprendi uma coisa que a vida me ensinou, a gente não sabe que vai acontecer amanhã na nossa vida, e eu gosto disto e o que eu mais gosto na televisão é exatamente eu não saber o que vai acontecer com o personagem. O bom é você ir descobrindo aos poucos e curtindo. A maior dificuldade disto é você dar a credibilidade possível, a veracidade possível a uma coisa que poderia ser exatamente impossível. Eu nunca penso nada sobre um personagem até porque se eu pensar de um jeito e o autor fizer de outro, eu vou ficar muito p. da vida.  O grande barato é entregar a vida na mão de Deus e Deus neste caso é o autor, ele que criou o personagem, ele faz o que ele quiser, nós somos apenas atores, nós estamos lá pra representar.

É verdade que você não quis fazer, em um primeito momento, a personagem?

É que eu estava com medo. Porque quanto mais o tempo vai passando a gente fica sabendo que não sabe.  E esta profissão (a de ator) a todo momento ela te dá um desafio novo. E aí, em algum momento achei que não saberia fazer e que as pessoas descobririam que eu era uma fraude (risos). Com o tempo a responsabilidade ( em conquistar papéis marcantes) vai ficando maior e eu não quero me repetir. O ator quanto mais velho melhor ele fica, se não avinagrar. Eu gosto desta coisa da construção de personagem e eu tento fazer cada um com uma cara totalmente diferente da outra. Fazer uma cara nova para cada personagem. Não importa mais se eu estou bonita ou se eu estou feia, tem que ser atriz de verdade a esta altura do campeonato.


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‘Márcia é o retrato do povo brasileiro’, diz Elizabeth Savalla sobre sucesso de personagem