Com certeza você já ouviu falar em Wilson Simonal. Oi? Quem? Ah, o pai do Simoninha e do Max de Castro. Pois é.

Embora o cara já tenha virado documentário de cinema (Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, 2009, dirigido pelo ex-Casseta & Planeta Cláudio Manoel), livro biográfico (Nem Vem que Não tem – A Vida e o Veneno de Wilson Simonal, 2009, de Ricardo Alexandre) e tema de retrospectiva em shows, muita gente ainda não conheceu a fundo a trajetória do cantor.

Um dos maiores astros pop que o Brasil já teve, e primeiro artista negro a ganhar popularidade e desafiar o racismo do país, Wilson Simonal (1938-2000) é o tema de S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal.

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O espetáculo tem dramaturgia de Patrícia Andrade e Nelson Motta (este, especialista no gênero, tendo escrito os textos dos musicais biográficos sobre Tim Maia e Elis Regina) e direção de Pedro Brício, e narra a meteórica trajetória de Simonal – de garoto pobre da zona norte carioca a astro nacional, rivalizando com Roberto Carlos e comandando multidões em shows lotados. De figura pop símbolo do Brasil à prisão e ao ostracismo, à decadência inacreditável.

Sim, o espetáculo não foge dos assuntos polêmicos que envolveram Simonal. O cantor estava no auge da carreira em 1971, quando foi pivô de um caso escabroso: Simonal teria mandado seus amigos do DOPS (o terrível e violento órgão da ditadura militar) darem um “susto” em seu contador, que estaria roubando dinheiro. Mas o contador acabou torturado barbaramente e o caso veio a público, levando Simonal à prisão.

Pior: o cantor foi acusado de ser “dedo-duro”, de denunciar à ditadura militar os artistas que teriam conexões subversivas. No fim da vida, Simonal conseguiu uma declaração oficial do governo negando essa questão, limpando sua barra – mas já era tarde. Durante as décadas de 70, 80 e 90 o cantor viveu no mais absoluto esquecimento, renegado pela classe artística.

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Independente desses percalços, o fato é que Simonal foi um grande artista, e o musical faz questão de deixar isso bem claro. Para conseguir mostrar ao público a dimensão do talento do cantor, a peça conta com um trunfo indiscutível: a atuação de Ícaro Silva como Simonal. O ator e cantor é um monstro, e conquista a plateia com um talento impressionante, esbanjando invejável comunicação com o público – exatamente como Simonal fazia diante de multidões no Maracanãzinho e afins.

Além dele, também tem a hilária figura de Carlos Imperial (1935-1992), principal parceiro, amigo e descobridor de Simonal, e que fundou com ele o termo Pilantragem, que consagraria os dois. Imperial é o narrador da peça, e é interpretado por Thelmo Fernandes, com todo o humor escrachado que caracterizava o gorducho – aliás, o cara acaba de também virar tema de documentário, Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil.

Por trás dos vibrantes números musicais e dos hits de Simonal, o público acompanha essa jornada única do cantor, que no início da peça (1962) faz lembrar o musical Hairspray – o programa de TV Tutti Frutti é repleto de “brotos” dançando twist, comandados por Imperial, um “Corny Collins brasileiro” (em Hairspray, o fictício Corny apresenta um programa semelhante onde a protagonista Tracy vai dançar, e onde os negros são vetados).

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Outra comparação: em sua trajetória solitária, Simonal pode até ser visto como um pré-Michael Jackson. Ambos foram donos de talento gigantesco, vocação pop e capacidade única de magnetizar o público. E terminaram de forma um tanto trágica.

Mas melhor do que falar sobre é assistir ao vivo. O musical fica em cartaz em São Paulo apenas no próximo fim de semana. Corre.

S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal
Teatro Cetip – Rua Coropés, 88 – Pinheiros
Quinta e Sexta 21h / Sábado 17h e 21h / Domingo 19h
R$50 a R$150


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Afinal, você conhece Wilson Simonal? Então descubra o cara no musical S'imbora