Falar que o rúgbi brasileiro vive um de seus melhores momentos e que ele está crescendo já virou redundância. No entanto, a ascensão da modalidade no país é impressionante.

Prova disso são os resultados como o do último fim de semana quando o país bateu a Argentina, primeira derrota dos Pumas (como são conhecidos os hermanos na modalidade) na história do Sul-Americano, e um terceiro lugar inédito.

Em um país em que muitas vezes apenas o “campeão” é valorizado, a vitória sobre a Argentina não tem explicação. Pelo menos essa é a opinião de Fernando Portugal, capitão brasileiro nesta conquista.

“Acho que a única palavra que me vem em mente é exatamente a que nega a existência delas: Indescritível”, afirmou o capitão.

Em entrevista exclusiva ao Portal Virgula, o jogador brasileiro comentou os resultados em Bento Gonçalves, a perspectiva para o Pan-Americano de Guadalajara, em outubro, e o que falta para o Brasil ser forte até 2016.

Portal Virgula: Dois resultados históricos em uma só competição. O que explicaria essa evolução brasileira?

Fernando Portugal: Estamos vivendo um momento muito bom. Nos últimos três anos conseguimos manter quase o mesmo grupo de jogadores na seleção, o que é muito difícil de acontecer, já que sempre perdemos jogadores para os mais variados compromissos da vida fora do rúgbi. Particularmente nos últimos meses, tivemos uma evolução técnica e tática enorme. Quando nos preparávamos para uma competição, fazíamos treinos e jogos entre nós mesmos e o primeiro jogo importante que fazíamos já era na competição. Pagávamos um preço muito caro pela falta de experiência em jogos, apesar de em algumas raras vezes fazermos jogos maravilhosos. A sensação era que se jogássemos mais torneios durante a preparação, poderíamos alcançar algo maior. Desta vez participamos de três excelentes torneios entre Argentina e Uruguai nos últimos dois meses e, essa experiência vivida dentro das competições, nos tornou mais competitivos. Entramos no Sul-Americano tendo obtido vitórias expressivas contra fortes seleções de províncias argentinas, além de uma grande vitória contra o Uruguai. Sabíamos que poderíamos conquistar bons resultados, ganhando de equipes que historicamente eram superiores. Mas sem dúvida nenhuma, a vitória contra a Argentina superou nossas expectativas.

PV – O que significou para o grupo todo vencer a Argentina na primeira fase?

FP – Acho que a única palavra que me vem em mente é exatamente a que nega a existência dela: Indescritível. Começamos o Sul-Americano com o objetivo de conquistarmos a vaga  para os jogos Pan-Americanos e precisávamos vencer Paraguai e Peru na primeira e segunda rodada, respectivamente. Intimamente, sabíamos que alcançado este objetivo, iríamos tirar a pressão dos ombros e continuaríamos no torneio mais soltos e, aí, ninguém imaginava o que poderia acontecer. Foi a experiência mais maravilhosa de nossas vidas. Tudo foi perfeito. Estávamos em nosso país, nossos familiares e amigos estavam presentes, máquinas e câmeras registrando tudo e um adversário, até então, imbatível. Não me lembro de uma supremacia tão grande, quanto a da seleção Argentina de rúgbi sobre seus adversários na América do Sul, em nenhum esporte. Por isso, comemoramos muito. Essa vitória deu ao grupo ainda mais confiança. Contemplou todo o nosso trabalho e sacrifício e nos carregou de esperança para seguir lutando por nossos sonhos.

PV – Até onde esse time pode ir no Pan-Americano?

FP – Pensando com o meu coração, posso te dizer, com toda certeza, que conquistaremos uma medalha. Digo isso com um sonho similar ao que tive quando pensei que ganharíamos da Argentina. No entanto, pensando racionalmente, as coisas são mais complicadas. Somos atletas amadores e, por isso, dentro do nosso grupo temos algumas limitações quando a questão é a preparação. Precisamos de uma estrutura mais profissional. A única certeza que temos, racional, ou emocionalmente falando, é que o “teto”, ou seja, o limite desse grupo de jogadores ainda está longe de ser atingido. Podemos muito mais!

PV – Qual foi a maior emoção? Ser terceiro ou bater a Argentina?

FP – Terminar o Sul-Americano em uma posição melhor do que já havíamos conquistado, que era o quarto lugar, já estava em nossos planos e realmente acreditávamos nisso. Posso dizer ate que ficamos um pouco frustrados, pois o grande objetivo era fazer a final contra a Argentina. Agora, ganhar do Pumas, em um fim de semana que nossa seleção de futebol, comandada por craques como Neymar, perdeu, foi sensacional.

PV – O que seria fundamental para o Brasil evoluir ainda mais no rúgbi?

FP – Crianças brincando de rúgbi e assistindo jogos pela TV. Sou absolutamente certo de que se dermos a oportunidade para os brasileiros conhecerem este esporte e puderem praticá-lo, em um futuro bem próximo seremos uma potência mundial.

PV – Dá para almejar grandes conquistas para as Olimpíadas de 2016?

FP – Se levarmos em consideração o amplo crescimento que esse grupo da seleção de sevens obteve nos últimos meses, onde teve algum apoio a mais do que teve em outros momentos, sem dúvida nenhuma entraremos na Olimpíada com chances de competir. Não posso afirmar que ganharemos medalha, assim como não podemos afirmar nem que nossa seleção de futebol será campeã mundial (coisas do esporte), mas estaremos na briga. A questão é: com que armas entraremos na guerra? Só com o coração
não bastará.


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"Ganhar da Argentina foi indescritível", diz capitão do rúgbi brasileiro