O frustrante empate sem gols entre Brasil e México reuniu mais de 60 mil pessoas no Castelão. Mas, há alguns quilômetros dali, a Fan Fest da Fifa fervia na no aterro da Praia de Iracema, no norte da capital cearense, que recebeu cerca de 30 mil pessoas. Uma delas chamou a atenção da reportagem do Virgula Esporte. O profissional de construção, como se autodeclama Afonso Montaños, de 68, não quer saber de tempo ruim, e acompanhou o segundo jogo da Tri in loco e cercado de uma maioria de brasileiros.

“O Brasil é um país muito alegre, muito pacífico. Percebi que gostam muito dos mexicanos, e nós também gostamos muito dos brasileiros. Se fosse outra ocasião, outro rival, e este empate para o Brasil que foi como uma derrota, seria diferente, mas o Brasil está calmo e o ambiente está bom. É um país muito bonito para mim. E envio as minhas congratulações a toda a gente, a todo o Brasil”, elogiou o torcedor, maníaco de Copas do Mundo.

Enquanto ele conversava com a reportagem, pessoas – brasileiras e mexicanas, de diversas idades – passavam e brincavam com seu enorme sombrero. Tiveram até quatro senhoras na faixa dos 40 anos que pararam para tirar foto enquanto ele nos cedia suas palavras.

Montaños está no Brasil sem ingressos para as partidas de sua seleção nacional, ou de qualquer outra. Para ele, o que vale é a festa dos torcedores. Dos torcedores nas ruas.

A Fan Fest de Fortaleza recebeu muitos torcedores mexicanos

“A felicidade é para todos nós mexicanos. Primeiro, queremos ser sempre alegres e, ‘para nós mexicanos, tudo tem remédio, menos a morte’”, disse, citando uma das frases que são bem conhecidas em seu país.

Apesar da idade avançada, ele não quis saber de planejar. Fez malas leves para trazer ao Brasil e conseguiu assistir aos jogos do time comandado por Miguel Herrera nas praças que os mesmos aconteciam. Mas o destemido senhor ainda não sabe como fará para ir até Recife, local do próximo jogo, contra a Croácia, na próxima segunda-feira (23). Até porque nem é a primeira vez que faz isso, ou seja, viajar sem planejamento.

“O que acontece é que eu, economicamente, não estou muito bem. Mas, na Alemanha, eu fui para ver também nos telões (Fan Fests). Fui do México, mas sem entrar em nenhuma partida. Ia às ruas. Hoje, as únicas coisas que tenho são as passagens para sair (usadas) e voltar ao México”, revelou.

Detalhes da camisa do Senhor Montaños 

E o Senhor Montaños já passou poucas e boas nessa sua segunda aventura Mundial.

“Estou há dez noites sem dormir bem, já dormi na rua e já roubaram a minha câmera, me roubaram aqui ontem, mas não consigo perder esta felicidade”, explicou o aguerrido mexicano, feliz da vida.

Para entender este digno cidadão e sua até irresponsável aventura, o próprio explica que é como “tirar o atraso”. Se o seu México já abrigou duas Copas do Mundo (1970 e 1986), Montaños não pôde ir em ambas. Na primeira, era muito novo; já na segunda, tinha outras prioridades.

“O que acontecia em 1986 era que eu era jovem e tinha uma família para manter, então não tive tempo. Mas, agora, já com a família independente, tenho mais facilidades. Se não, eu já estava com 20 Mundiais (assistidos)”, brincou.


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Mexicano de 68 anos viaja ao Brasil sem ingresso, já foi roubado, mas está feliz da vida