Aos 24 anos, Jessica Becker é o maior nome do bodyboarding feminino nacional. Nascida em Macaé, litoral norte do Rio de Janeiro, a esportista coleciona no currículo títulos importantes, tanto no Brasil quanto no exterior. As vitórias mais recentes da loira foram na segunda etapa do Circuito Carioca – na qual quebrou a supremacia de atletas de fora do estado – e na etapa de abertura do Circuito Brasileiro, disputadas respectivamente na capital fluminense e em Campos dos Goytacazes. Entre uma disputa e outra, Jessica encontrou tempo para bater um papo com o Virgula, relembrando o início de sua trajetória no esporte e falando sobre o projeto social do qual participa em sua cidade natal. Acompanhe:

Como foi o seu começo no bodyboarding?
Com uns 9 anos eu já tinha dado umas remadinhas de brincadeira com uma prancha velha que era de meu irmão, uma BZ Diamond. Lembro que eu ficava toda assada na barriga. Depois peguei uma prancha velha de um vizinho. Acho que de tanto eu pedir que ele me emprestasse sua prancha para brincar, ele acabou me dando uma que não usava mais. Fiquei nessa febre durante todo aquele verão… brincando na areia e na beira do mar. Mas eu realmente comecei a surfar aos 13 anos, após ganhar uma prancha de bodyboarding de presente de Natal. Eu lembro que pedia muito uma prancha de presente porque eu morava perto da praia e na rua tinham vários meninos que surfavam, e eu ficava fascinada. Ainda tinha a lembrança na cabeça e eu queria porque queria um bodyboarding. Meus pais ficavam me enrolando porque achavam perigoso e que era coisa de menino.

O que mais te atraiu no esporte?
O contato com o mar, a possibilidade de poder deslizar nas ondas. Eu não sei explicar, mas sempre fui apaixonada pelo esporte, sempre fui muito ativa. Fiz dezenas de esportes e competi em praticamente todos, mas o bodyboarding foi minha grande paixão. 

Você coleciona diversos títulos, tanto no Brasil quanto no exterior. A quê você credita tanto sucesso?
O bodyboarding sempre foi um grande prazer, enquanto competir é algo da minha personalidade. Então juntei o útil ao agradável, e isso facilitou bastante meu caminho. Sempre tive muitos amigos que acreditavam e acreditam no meu potencial, às vezes até mais que eu mesmo. Isso me mantém animada e disposta a treinar e competir. Agradeço a todos que sempre me apoiaram: família, amigos e aqueles que eu não conheço, mas sempre enviam mensagens via páginas de relacionamento ou durante algum campeonato. Acredito que tem um talento escondido por trás de tudo, mas se não houver treino, o talento sozinho não vai adiante. O sucesso acaba sendo um caldeirão em que se mistura talento, treino, elogios e muita vontade de querer apresentar algo bom, porque a competição é uma apresentação e você quer mostrar o seu melhor.

Que análise você faz da participação feminina no bodyboarding brasileiro atualmente? Existe preconceito com as garotas?
Infelizmente acredito que a categoria está um pouco fraca, com pouca renovação de atletas. Aparece uma aqui, outra ali, mas só uma acaba virando um grande talento. O Brasil já teve momentos nos quais surgiam dezenas de novas atletas, mas isso mudou. No cenário atual tem muitas atletas de gerações anteriores, isso implica em um envelhecimento da categoria. Quando uma dessas que está no cenário há muito tempo se aposenta, o esporte vai se enfraquecendo porque a renovação não acompanha o número de atletas que saem. Fora isso, não há nenhum tipo de preconceito por parte dos homens. Pelo contrário, há bastante incentivo dos meninos com as meninas.

Quais são os seus picos preferidos em Macaé? E no estado do Rio de Janeiro?
Em Macaé, adoro a Praia do Pecado. Já no estado do Rio de Janeiro, eu sou apaixonada por Itacoatiara.

Quais são seus próximos passos profissionais no esporte? E os planos para o futuro?
Quero retornar ao tour mundial e botar meu projeto de bodyboarding para funcionar a todo vapor. Atualmente a cidade de Macaé tem um projeto social no qual eu e meu namorado, Thiago Limeira, que também é atleta profissional de bodyboarding, ensinamos jovens de 12 a 18 anos a surfar. Espero poder dar mais atenção e suporte a esses jovens que veem o esporte como uma oportunidade de vida. O projeto já está gerando muitos frutos, como o surgimento de novos talentos e o afastamento dos meninos das drogas, criando uma oportunidade de inclusão social.

Se você não fosse atleta, que carreira seguiria? 
Além de atleta eu sou professora de Educação Física, atuo na área e concilio com o esporte. Infelizmente no país é quase impossível viver de esporte, mas quando gosta da um jeito, acabei fazendo Educação Física para poder me ajudar a desenvolver e entender novos treinos para a área desportiva. Mas se eu não fosse atleta, talvez estivesse na área off-shore, porque é o que engloba o lugar onde vivo.

Que recado você daria para quem está começando no bodyboarding e deseja se tornar profissional?
Por experiência própria, digo que treinem bastante e sigam seus sonhos, mas nunca abandonem os estudos. Isso vale para qualquer esporte. Sempre é preciso ter um plano B, já que ainda não conheci aposentadoria para atletas. Dê o seu máximo, e se estiver despontando, aproveite muito, treine bastante porque nesse momento, esse é o seu trabalho, mas mantenha os pés no chão sempre.


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Nascida em Macaé, Jessica Becker fala de trajetória no bodyboarding e de responsabilidade social