Após decepções em torneios importantes por não terem assimilado completamente as novas regras do judô, como a desclassificação prematura de Rafaela Silva nos Jogos Olímpicos de Londres devido a um golpe ilegal, os judocas brasileiros disputarão o Mundial do Rio de Janeiro perfeitamente adaptados às normas, garante Rosicleia Campos, técnica da seleção nacional feminina.

Em entrevista à Agência Efe, Rosicleia afirmou que as regras não comprometerão um bom resultado da delegação brasileira na competição, que será realizada entre a próxima segunda-feira e o dia 1º de setembro no ginásio do Maracanãzinho.

A maior dificuldade para alguns atletas é no quesito catada de perna, que agora é proibido e gera uma desclassificação. Foi o caso de Rafaela Silva, que em Londres 2012 era forte candidata a medalha e perdeu a segunda luta de sua categoria para a húngara Hedvig Karakas depois de realizar uma técnica na qual pegava na perna da adversária.

Ex-árbitro olímpico, Emmanuel Mattar também declarou à Efe não acreditar que as novas normas serão um empecilho para a equipe brasileira.

“A mudança foi genérica e vale para todos os países. Judô não se ganha com regra de arbitragem, mas com treinamento e as pontuações do esporte. Se houve resultados negativos, foi por falta de treinamento” opinou.

Mattar explica que as regras foram impostas para resgatar o judô clássico, no qual para vencer uma luta o atleta precisa aplicar um ippon, golpe perfeito que faz o oponente cair completamente de costas no tatame e garante a vitória em um combate.

Rosicleia tem a mesma opinião que o ex-árbitro olímpico brasileiro. “A equipe que lutará no Mundial fez muitas competições desde os Jogos de Londres para uma melhor adaptação, lembrando que a regra é para todos, e com isso as dificuldades são as mesmas” argumentou.

A Federação Internacional de Judô (FIJ) criou as novas regras com o objetivo de dar mais responsabilidade aos atletas pelos seus atos durante as lutas. Muitos competidores “amarravam” o combate e venciam apenas contando com as punições ou pela decisão dos árbitros.

Alguns judocas usavam a estratégia de ir para fora da área central, enquanto imobilizados, para que a luta fosse recomeçada. Com as novas normas, os judocas que faziam o antijogo e venciam mais por conta das regras antigas do que por mérito próprio terão que se esforçar para garantir uma vitória.

Pelas atuais normas, um árbitro somente fica na área de combate, e os auxiliares observam a luta em uma mesa, acompanhados de um monitor (tira-teima), que quando solicitado por dúvida em algum lance reproduz a sequência de movimentos em câmera lenta.

É proibida a catada de perna para derrubar o oponente; os shidos (punições) não se tornam pontuações, e na quarta advertência o atleta é desclassificado (hansoku-make); as imobilizações (osaekomi) não são interrompidas quando os atletas saem da área central; o golden score não tem mais limite de tempo, e qualquer pontuação ou punição define um vencedor;

Outra norma alterada é que agora o técnico não pode se manifestar durante as lutas, o que não agradou Rosicleia. “Judô é um esporte muito dinâmico, existem situações durante a luta que necessitam de intervenções imediatas, naquele momento exato, como avisar para trocar de pegada ou que o adversário está com outra base. Acho que eles radicalizaram muito na proibição, para mim é uma tortura”, lamentou a técnica.

“Creio que houve muitas mudanças em uma só tacada, e isso acabou confundindo e dificultando uma melhor adaptação dos atletas e técnicos. Os shidos de kumikatas (punições de pegadas) ainda geram muitas dúvidas até mesmo dentro do universo dos árbitros. Agora sobre a catada de perna, realmente precisava de um freio, o judô estava virando outra luta de tanto que as seleções do leste europeu pegavam nas pernas”, disse Rosicleia.


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Para técnica e ex-árbitro, novas regras não prejudicarão judocas brasileiros