“Não temos medo de sonhar.”

A frase acima é uma das que Flávio Augusto da Silva, proprietário do Orlando City Soccer Club, falou em entrevista exclusiva ao Virgula Esporte. O empresário que criou fortuna com uma rede de escolas de inglês no Brasil, agora é o homem forte no mais novo time da Major League Soccer, a MLS, com estreia marcada para 2015.

A maior vitória da história do clube, fundado em 4 de março de 2010, aconteceu no dia 19 de novembro do ano passado, quando a franquia foi aceita no torneio que é a elite do futebol dos Estados Unidos, uma liga que cresce vertiginosamente, seja em público ou no lado financeiro .

Vencedor da USL Pro em 2011 e 2013, categoria inferior disputada nacionalmente no país, o Orlando City quer vencer o título também deste ano, contratar, e partir com tudo para o campeonato mais importante de sua curta história. E um plano já está traçado para, além de reforçar a equipe, trazer ainda mais visibilidade mundial ao clube do estado da Flórida.

“Queremos montar um time pra vencer já no primeiro ano. Por isso, vamos fazer pelo menos uma grande contratação, preferencialmente um grande nome brasileiro de grande expressão no futebol mundial que será a imagem do time na primeira temporada”, disse o empresário de 41 anos.

Na resposta acima, fica a dúvida se já existiria um nome, um contato. Um dos que surgem à mente é o de Kaká, que trocou o Real Madrid pelo Milan no meio de 2013 e, além disso, é amigo pessoal de Flávio, que desconversa.

“Kaká é um grande amigo e um jogador extraordinário. Qualquer time no mundo gostaria de tê-lo defendendo o seu clube. Especulações à parte, ainda está muito cedo para falarmos em nomes, mas o que buscamos para a primeira temporada é uma contratação de grande expressão”, frisou.

A ideia de trazer um brasileiro de renome vai além da confiança que se tem no jogador nascido no país do futebol. É uma estratégia. Flamenguista de coração, o proprietário quer transformar os Lions, como são apelidados, quer ter a fidelidade também do torcedor brasileiro. Esta ideia faz parte do projeto do clube, pensado ao lado do presidente Phil Rawlins (foto abaixo), inglês ex-proprietário do Stoke City, que atua na Premier League da Inglaterra.

“Nossa camisa principal é roxa, uma cor neutra já que nenhum time brasileiro tem uma camisa parecida. E o principal, o dono do clube é um brasileiro apaixonado por futebol”, explicou alguns dos fatos que convergem para a popularização da franquia no Brasil.

A ideia é realmente intensa e visa trazer retorno em curto prazo.

“Não temos medo de sonhar. E, de forma bem realista, vencer a MLS e a Liga dos Campeões da Concacaf é um caminho muito mais fácil do que o caminho dos times da América do Sul que têm fortíssimos adversários da Argentina, Brasil, Uruguai… na Taça Libertadores da América” compara.

O Orlando City em breve divulgará a maquete de seu novo estádio, que terá uma capacidade pouco inferior aos 30 mil lugares, além de um novo logotipo. O clube, inclusive, já vendeu praticamente a metade dos ingressos para esta temporada 2014 e mostra a sua popularidade no Brasil ao ter uma página no Facebook voltada só para os brasileiros com mais de 521 mil curtidas.

“Eu me atrevo a dizer que em breve o Orlando City terá o Brasil torcendo por ele no Mundial de Clubes da Fifa, para o orgulho de cada brasileiro”, torce Flávio.

Leia abaixo a entrevista com Flávio Augusto da Silva na íntegra:

VIRGULA ESPORTE: Como você resume ter conseguido colocar sua franquia na MLS? Como você se sentiu pessoalmente.

Flávio Augusto da Silva: Morava em Orlando desde 2009 com o meu filho mais velho, hoje com 14 anos de idade, que sempre jogou futebol em níveis competitivos desde os oito anos. Com isso, fui um típico ‘soccer dad’, viajando com o Brenno por toda a Flórida, participando de vários torneios na região. Fiquei muito impressionado com o grande número de meninos e meninas acompanhados por seus pais participando desses torneios e de clubes onde praticavam o futebol regularmente. Desde então iniciei a minha pesquisa e me deparei com números incríveis sobre o futebol amador e profissional nos EUA. Isso fez com que eu decidisse investir no esporte na América por perceber a grande explosão do futebol nos EUA, o que ainda não era percebido pelo público em geral. Foi quando conheci o Orlando City, fundado em 2010 pelo Inglês Phil Rawlins e seus sócios, e que, nos primeiros três anos, fizeram um trabalho incrível, encurtando o nosso caminho até a MLS. Minha entrada não apenas injetou o capital necessário para a construção de nosso novo estádio, como também deu uma consistência no projeto, no que se refere o acesso ao mercado brasileiro, aliado ao meu histórico como empreendedor. Tudo isso junto, somando as duas conquistas de campeonatos nacionais pela USL (liga inferior), nos três primeiros anos de fundação, garantiu a nossa entrada na MLS, elite do futebol nos EUA em tempo recorde.

Vocês querem ter um estádio que crie uma “atmosfera intensa”, como falou o presidente Phil Rawlins em entrevista recente ao site da MLS. Qual modelo vocês querem criar: europeu, brasileiro, sul-americano ou algo novo?

Vamos construir um estádio com não mais do que 28 mil lugares, o que nos garante um rápido retorno sobre o investimento. Considere que no Brasil a média de público, na série A do Campeonato Brasileiro (a maior média entre todos os torneios nacionais), não é maior do que 12 mil torcedores em média por jogo. Qual é o sentido de estádios com 80 mil lugares? Nos EUA, em 2013, foi de 19 mil/jogo, o que nos dá uma projeção de uma média de 25 mil/jogo em poucos anos. O estádio será moderno, seguro, prático e com um foco no relacionamento corporativo, além do grande público. Entendemos que o show inicia desde que o torcedor entrou pelos portões, durante o jogo, no intervalo, até que volte pra casa, marcado por uma excelente experiência de entretenimento. Nosso estádio tem a pretensão de fazer parte do roteiro turístico de cada brasileiro que visita a cidade, já que Orlando é o destino favorito do turista brasileiro.

Esse assunto de jogadores que irão para o clube é o que todos querem saber. Isso porque todo mundo imagina que vocês tenham dinheiro para gastar, além dos fatos que terão estrutura e que MLS está crescendo e pode ter jogadores de alto nível, como já tem o Henry, o Donovan, o Cahill e outros. Diga pra nós, pelo menos, qual o direcionamento de contratações que vocês terão? É ver o que está no mercado, trazer europeus, latino-americanos?

Vamos estrear em 2015 e queremos montar um time pra vencer já no primeiro ano. Por isso, vamos fazer pelo menos uma grande contratação, preferencialmente um grande nome brasileiro de grande expressão no futebol mundial que será a imagem do time na primeira temporada.

Mantém contato com algum jogador, em vias de tentar trazê-lo? A imprensa já veiculou que o Kaká poderia ir para o Orlando em 2015, por exemplo, já que você o conhece.

Kaká é um grande amigo e um jogador extraordinário. Qualquer time no mundo gostaria de tê-lo defendendo o seu clube. Especulações à parte, ainda está muito cedo para falarmos em nomes, mas o que buscamos para a primeira temporada é uma contratação de grande expressão.

Planeja alguma parceria com outros clubes de fora dos Estados Unidos para que cedam atletas?

Temos muitos contatos no Brasil e na Europa, afinal todos estão muito interessados na abertura deste novo e extraordinário mercado que é os EUA e o seu potencial para os próximos anos. Mas não queremos firmar nenhum compromisso para os próximos anos até estrearmos e darmos um pouco mais de tempo para que as pessoas percebam o fenômeno que acontece no futebol nos EUA.

Já tem gente dizendo que você deve rivalizar com o Beckham, que está criando uma franquia em Miami, mesmo estado da Flórida. Qual a sensação de ser lembrado ao lado dessa personalidade?

David é um profissional fantástico, um ícone do futebol mundial, mas, francamente, ainda não podemos fazer este plano, pois a entrada de Miami ainda não é dada como certa. Além de Miami, há mais de 15 clubes sonhando com uma vaga na MLS e a disputa é muito acirrada. Caso Miami se torne uma realidade, com todo respeito, será um enorme prazer vencê-los em nossos clássicos regionais.

Pretende fazer o Orlando City um clube querido pelos brasileiros? Além de ter você como proprietário, não dá para esquecer que a cidade é a que mais recebe turistas brasileiros no país, ou seja, já é uma “deixa” para que o OCSC seja bem visto por esses lados.

É incrível o quanto os brasileiros amam a cidade de Orlando. Eles estão por todas as partes. Nos Shoppings são os que mais compram, nos parques, e também são um dos maiores compradores de imóveis na região. Há dois meses criamos uma página do Orlando City com conteúdo em português (Orlando City Brasil) e ficamos surpresos com o interesse do brasileiro no clube. Neste breve período alcançamos a marca de mais de 470 mil fãs brasileiros. Pessoalmente, como flamenguista que sou, digo que o nosso projeto é que o Orlando City seja o segundo clube do coração de cada brasileiro. Nossa camisa principal é roxa, uma cor neutra já que nenhum time brasileiro tem uma camisa parecida. E o principal, o dono do clube é um brasileiro apaixonado por futebol.

Imagino que o pensamento é que o time seja campeão e, mais, tenha visibilidade mundial. Do que vocês pesquisaram e esperam do projeto, dá para ganhar a Liga dos Campeões da Concacaf, o que levaria o Orlando ao Mundial de Clubes, ainda nesta década?

Não temos medo de sonhar. E, de forma bem realista, vencer a MLS e a Liga dos Campeões da Concacaf é um caminho muito mais fácil do que o caminho dos times da América do Sul que tem fortíssimos adversários da Argentina, Brasil, Uruguai… na Taça Libertadores da América. Eu me atrevo a dizer que em breve o Orlando City terá o Brasil torcendo por ele no Mundial de Clubes da Fifa, para o orgulho de cada brasileiro.


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‘Queremos vencer no primeiro ano’, aposta brasileiro dono do Orlando City Soccer Club