Curitiba, a mesma cidade que irá acolher a seleção espanhola na preparação para a próxima Copa do Mundo, foi onde a Fúria fez sua estreia em gramados brasileiros, no Mundial de 1950.

O jogo aconteceu no estádio Durival Britto e Silva, do Paraná Clube. O duelo foi contra os Estados Unidos, na época um time praticamente amador.

O jogo terminou 3×1 para os espanhóis, foi a segunda vitória na história da seleção da Espanha em Copas do Mundo. Apesar do placar aparentar um bom confronto, os relatos do pós-jogo disseram o contrário.

“Grande espetáculo e futebol ruim”, este foi o destaque nas páginas da Gazeta do Povo, jornal local que cobriu a primeira partida de uma Copa do Mundo realizada na cidade.

A razão para descontentamento dos curitibanos foi pelo fato da Espanha entrar em campo sem muita vontade, contra um time muito disposto, porém pouco habilidoso.

“O jogo em si não agradou, melhor foi a partida preliminar entre União da Lapa e Internacional de Campo Largo, o Internacional ganhou por 1×0″, relata João Maria Barbosa, museólogo do Paraná Clube, que assistiu ao jogo.

Barbosa que hoje está com 90 anos, mas tem uma ótima memória, lembra que o que chamou mais atenção foi a disposição dos americanos.

“Quem mais se sobressaiu naquele jogo foi o lateral direito do time americano, que era carteiro, por isso tinha um bom preparo físico”, conta Barbosa. Apesar do amadorismo dos Estados Unidos, foram eles que abriram o placar no primeiro tempo.

Foi só no segundo tempo que a Espanha acordou para o jogo, o que foi decepcionante para o público presente que esperava mais da famosa Fúria. Nos últimos 15 minutos da partida que os espanhóis resolveram jogar bola e fizeram os três gols que definiram a primeira vitória deles em solo brasileiro.

A Copa do Mundo de 1950 marcou a melhor posição dos espanhóis em copas, até o título de 2010 na África do Sul, ficando em quarto lugar. Durante a campanha foram três vitórias na primeira fase contra, Estados Unidos, Chile e Inglaterra. Apesar de ter tido o melhor desempenho na fase de grupos, os espanhóis não tiveram sucesso no quadrangular final que contou com Uruguai, Suécia e Brasil, marcando apenas um ponto em três partidas.

Dentre os jogadores da Fúria, apenas um ficou entre os eleitos para a seleção da Copa de 50, elaborada pela FIFA. Foi o zagueiro, Parra. Naquela oportunidade, a Espanha teve destaque também com o ponta, Basora, que foi vice-artilheiro da competição com cinco gols marcados.

A seleção de futebol da Espanha retorna à Curitiba 64 anos depois, desta vez para fazer a preparação para a Copa do Mundo. Eles ficarão hospedados no CT do Caju, campo de treinamento do Atlético Paranaense.

A Espanha estreia no dia 13 de junho em Salvador, contra a Holanda, duelo que vai reunir as seleções campeã e vice do último Mundial. Os espanhóis voltam para Curitiba para jogar a última partida pelo Grupo B, contra a Austrália, no dia 23 de junho, na Arena da Baixada.

Fazer comparações do que foi e do que é uma Copa do Mundo atualmente chega a ser injusto. O museólogo, João Maria Barbosa, assistiu aos dois jogos de Copa de Mundo que ocorreram em 1950 na cidade de Curitiba e lembra de alguns fatos curiosos daquele momento.

Barbosa recorda que assistiu ao jogo porque era jogador de futebol e ganhou os ingressos. Ele afirma que o estádio Durival Britto e Silva foi escolhido porque na época era o terceiro do Brasil em capacidade, pois o Maracanã ainda estava em construção. A capacidade do estádio curitibano era algo em torno de 20 mil pessoas, mas não teve recorde de público nos jogos, já que o ingresso era caro. Nas partidas Espanha x Estados Unidos e Suécia x Paraguai, o público total foi 17.414 pessoas, segundo o jornal Gazeta do Povo.

De acordo com Barbosa, a prefeitura gastou um pouco de dinheiro. Melhorou ruas, asfaltamento, arrumou uma arquibancada de madeira, que depois foi desmontada, mas que não havia o olhar atento da sociedade em relação ao dinheiro público empregado. “Não existia fiscalização como hoje com os gastos da copa. Foi investido um dinheiro, mas ninguém falava sobre isso”.

A Copa de 50 foi feita às pressas, a escolha do Brasil para sediar o evento daquele ano foi motivado pela falta de estrutura dos países europeus no pós-guerra, que não tinham dinheiro e interesse, pois estavam com problemas maiores para resolver.

Este foi também um motivo para que a maior parte da torcida em Curitiba tenha sido nacional, da própria cidade e de outras localidades da região sul do país.

Ele relembra um fato engraçado daquela ocasião. “Tinha uma concha acústica no estádio e uma orquestra tocou só o Hino Nacional porque esqueceram as partituras dos hinos dos outros países”, relembra.

Em um tempo que poucas casas tinham televisão, a cobertura feita pela imprensa era bem menos intensa, Barbosa conta que tinha um narrador curitibano que fazia as transmissões dos jogos da arquibancada. “O locutor da cidade dizia que o melhor lugar para transmitir era das gerais”, algo impensável nos dias de hoje.


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Seleção espanhola terá reencontro com Curitiba 64 anos depois