Muito jovem e muito apaixonado pelo teatro. O adjetivo “muito” não é excessivo para retratar o ator Bruno Fagundes, filho dos também atores Antonio Fagundes e Mara Carvalho. Mas ele não quer ficar muito tempo com esta alcunha de “filho de”. Por isto, ele mesmo produziu a peça Tribos, que está em cartaz, no Tuca, em São Paulo.

Produzir uma peça foi uma maneira que Bruno encontrou para sair fora do esquema de leis de incentivos fiscais que muitas vezes engessam o teatro e a cultura brasileira hoje. Mas não foi só produzir uma peça de forma independente seu desafio para Tribos, a peça escrita pela inglesa Nina Raine. Ele também resolveu fazer o protagonista, um surdo, que foi muito elogiado pela crítica especializada. “Em todas as montagens feitas pelo mundo afora, o Billy foi interpretado por alguém com problemas auditivos, fui o primeiro a fazer o papel não sendo surdo”.

O teatro é paixão antiga, agora na TV, depois de pequenas participações, ele fará o médico Dr. Renato na nova novela das 18h, Meu Pedacinho do Céu, de Benedito Ruy Barbosa, um papel importante. Mas ele entende as dificuldades de sua geração para fazer bem TV e também teatro, já que as condições hoje de produção teatral são complexas e os apelos para a fama e a estabilidade econômica chamam mais a atenção que o atuar em si, sua grande paixão.

Em uma conversa com Virgula Famosos, Bruno falou sobre a peça Tribos, como enfrentou o desafio de interpretar um surdo e seu novo papel na novela das 18h na TV Globo .

Virgula Famosos: Como você chegou à peça Tribos?

Bruno Fagundes: Eu estava fazendo Vermelho na época, que é a peça anterior que eu fiz com meu pai e numa folguinha do Vermelho, eu fui viajar e fui para Nova York. Fui às cegas, peguei o guia da off-Broadway e cheguei nesta peça Tribos, um conhecido falou que era boa e eu falei: “vou arriscar”. Eu assisti mexido, o texto me tocou de forma profunda. E tem um universo que é tão próximo de nós (os dos deficientes auditivos) e, ao mesmo tempo, tão distante, ou a gente faz vista grossa e finge que não vê, ou simplesmente passa por cima ou não tem contato com este universo, mas ele é tão recheado de complexidades. Eu me emocionei, eu chorei, dei risada, a peça foi completa pra mim neste sentido. Eu saí decidido, eu tenho que contar esta história, eu preciso fazer esta peça, nem que eu tenha que produzi-la. A peça fala da surdez total, de a gente não estar ligado nem interessado no outro, de estarmos surdos pelo outro.

Como você produziu a peça?

Todo o dinheiro que ganhei com o Vermelho, eu investi na peça Tribos, meu pai entrou com 50%. Sou produtor da peça e eu estou a um ano fazendo a pré-produção da peça. E exatamente um ano que eu assisti lá, em setembro de 2012, em setembro de 2013, a gente estreou aqui. Foi um projeto dos sonhos que eu idealizei e consegui levantar.

E sobre Billy, o protagonista? 

O protagonista é um personagem surdo e quem fazia lá era um personagem surdo. A peça foi montada em vários lugares do mundo e em todos o protagonista Billy era feito por surdos. Eu sou o único ator do mundo que montou Tribos sendo ouvinte. À princípio, tive medo, vou fazer um personagem surdo que responsabilidade, principalmente neste contexto node nenhum ouvinte tinha feito o personagem surdo. E, de repente, quando fui me envolvendo e me aprofundando, entrando em contato com a comunidade, percebi que era possível eu fazer o Billy. O stand in do ator surdo era ouvinte, então era possível. Fui correr atrás do prejuízo, fui atrás de me especializar. 

E como foi construir o personagem?

Foi muito tenso e emocionante. Antes desta peça, eu não conhecia nenhum surdo. Foi uma autoanálise e eu não tive nenhum amigo surdo na infância e eu nunca tinha conversado ou tentado manter algum tipo de comunicação com os surdos. E eles estão tão próximos. Então fui na internet e coloquei: aula de libras. E apareceu um cara chamado Fábio que depois fui saber que era um representante forte da comunidade de surdos. Eu sentei com ele na nossa primeira aula particular de libras e cheguei falando imaginando que ele fosse ler meus lábios. E ele disse: Não, não leio lábios, sou completamente surdo. Mas acabamos nos entendendo. Depois foi com fonoaudióloga e pessoas que trabalhavam com surdos: a Mirian Caxilé e Cecília Moura. Eu pedi pra Mirian me ensinar especificamente o que estava no texto.  E depois fui por conta própria e a ajuda de amigos surdos que conheci e do elenco.

Como surgiu o convite para participar da novela das 18h, Meu Pedacinho do Céu? Sabe o nome do personagem?

O convite para minha participação surgiu após um teste que fiz para novela. O meu personagem chama-se Dr. Renato.

A coluna Zapping no Uol diz que você será o mocinho da trama? O que você pode adiantar sobre o personagem, já sabe de algo?

Ainda não sei ao certo como as relações irão se desenvolver, mas essa é sempre uma possibilidade. O Doutor Renato é um médico de São Paulo que chega na vila onde se desenvolve a trama e lá conhece todos os seus diversos habitantes. Lá, é recebido com uma série de conflitos interessantes.

Seu pai irá participar também da novela?

Até pouco tempo atrás essa era uma pergunta sem resposta oficial. Durante o processo de ensaios, quase dois meses depois da minha aprovação, descobri que ele estará na novela também.

Qual a sua expectativa para viver seu primeiro grande papel de relevância na TV?

Todas as expectativas! (Rsrs) É meu primeiro trabalho na TV e um enorme desafio. Estou entregue de coração e alma, me dedicando muito. Tenho uma vida inteira de aprendizado pela frente, mas estou extremamente feliz com esse novo trabalho. Sempre fui grande fã do Luis Fernando Carvalho e do Benedito Ruy Barbosa. Acho que os dois formam uma dupla artística muito potente. Fazer parte dessa parceria é uma honra.

E sobre a sua geração de atores?

Hoje tá todo mundo louco para fazer televisão porque não tem mercado e é difícil de ganhar dinheiro como ator. A TV dá segurança (econômica). E na minha geração muitos atores nem vão ao teatro. E o teatro é um lugar de aprendizado. Mas ao mesmo tempo, pra entrar na TV de forma consistente, você tem fazer teatro. A nossa geração tá empacada!


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Bruno Fagundes conta sobre seu personagem surdo no teatro e sobre papel em nova novela