“Eu não sou homem. Eu sou dinamite”. Com frases como essa, o filósofo alemão Friedrich Willhelm Nietzsche (1844-1900) explodiu sua nitroglicerina pura nas mentes dos jovens que, por exemplo, na passagem para o século 20 decidiram por uma arte explicitamente subjetiva e individual: o Expressionismo. Também era referência ao pensador, a pixação “Deus está morto” feita nos muros de Paris pelos estudantes universitários durante as revoltas de Maio de 68. Ele esteve presente também como eco do discurso nervoso de Caetano Veloso durante a época dos festivais em plena ditadura militar. Nesta quarta-feira (25), faz 110 anos que morreu o homem e criou-se um dos mitos mais controversos da história do pensamento. Logo após sua morte, sua filosofia foi cooptada pelos nazistas que acreditaram que seu “super-homem” era idêntico à ideia de raça ariana superior. Com o fim da Segunda Guerra, Nietzsche estava condenado ao ostracismo, com a sua imagem colada ao nazismo. Mas graças a ensaios como do então jovem crítico literário, o brasileiro Antonio Candido [Recuperando Nietzsche, 1946], o filósofo foi novamente recuperado em sua essência. E ainda hoje é capaz de influenciar todas as áreas do pensamento , entre elas o pop.

“A música pop pode educar as pessoas.  Eu primeiro ouvi falar de Nietzche, porque David Bowie estava falando sobre ele . [Risos] Isso foi um exemplo bastante pretensioso, mas de qualquer maneira, eu nunca mais tive medo de colocar coisas profundas e sérias como referências”, declarou, para a revista Time Out, Neil Tennant do Pet Shop Boys, também assumindo que se inspirou no filósofo em algumas letras do álbum Yes (2009). O cantor do duo inglês se referia à música de Bowie Quicksand  de 1971 – com tinha referências ao “super-homem” – e foi regravada por bandas como Dinosaur Jr em 1991.

 

O texto fluido e cheio de energia de Nietzsche também foi base para muitas citações suas no cinema. Eddie Murphy cita o filósofo no filme Um Princípe em Nova York (1988). A abertura de Conan, o Bárbaro de John Millus, começa com a frase: “O que não me mata, me fortalece”, do livro Crepúsculo dos Ídolos. E, é claro, que películas como a série Super Homem ou Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), de Michel Gondry são diálogos diretos com o personagem central do livro mais famoso Nietzsche, Assim  Falou Zaratustra.

De uma maneira leviana para os estudantes de filosofia, podemos dizer que o conceito de “super-homem” nietzschiano é a busca e o encontro com o indivíduo em sua forma mais radical, livre e superior. Enfim, o homem que “ri, brinca e dança”.

E já que a dança é uma das metas, o filósofo alemão não poderia deixar de contribuir para um dos ritmos mais dançantes da atualidade: o funk carioca.

Dj Mendigo e as Intelectuazudas, projeto do músico Bruno Galan, foi o primeiro a dar um passo – ou seria um creu? – nesse sentido em 2004. Com refrões como “o Eterno Retorno” -, jargão nietzschiniano para a ideia de repetições na vida do homem (novamente desculpem-me os estudantes de filosofia pela brevidade da explicação) -, e uma batida de pancadão, o projeto fez um relativo sucesso no circuito underground de São Paulo.

Agora mais mainstream, como pede nossos tempos, os comediantes liderados por Marcelo Adnet, da MTV fizeram a Gaiola das Cabeçudas que segue a mesma lógica.

Enfim, para além do bem e do mal, o filósofo alemão promete ainda causar muitas influências no mundo pop. Até porque como Nietzsche escreveu: “Temos a arte para não morrer da verdade”.




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Falecido há 110 anos, Friedrich Nietzsche, "o filósofo da juventude", ainda influencia o pop