O Men, projeto encabeçado pela engajada JD Samson (Le Tigre), chega ao Brasil pela primeira vez para tocar no festival Popload Gig 2010, que acontece nesta quinta (10) no palco do Comitê Club, nova casa de shows da Rua Augusta, em São Paulo, ao lado do Girls.

Nascida Jocelyn Samson, a líder da banda nova-iorquina e ativista gay encontrou um tempo em sua corrida agenda para falar com o Virgula Música enquanto ainda estava no Brooklyn, mostrando que sabe o que tem acontecido no país e falando sobre a primeira grande excursão de sua banda.

Na conversa, JD falou sobre o sucesso da Parada Gay de São Paulo (domingo passado), casamento entre pessoas do mesmo sexo, o primeiro show de verdade no Brasil, os planos de gravação do CD e ainda contou uma novidade quentinha de sua banda mais conhecida, o Le Tigre, comandada pela icônica Kathleen Hanna (Bikini Kill).

Veja abaixo a conversa na íntegra.

Quero te perguntar sobre música brasileira, mas sei que você é amiga da Lovefoxxx e do pessoal do CSS, certo?
Sim, muito. Todos nós do Men somos amigos do CSS e também conhecemos o povo do Bonde do Rolê. Estou bem afim de encontrar todos eles enquanto viajamos pelo Brasil. Quero muito saber como é que eles reagem no seu habitat natural (risos)

Falando agora sobre o Men, que ainda não é muito conhecido no Brasil, você considera que seja uma banda politizada?
Sim, com toda a certeza. Nós ainda não temos um disco gravado e por isso não esperamos que nos conheçam. Até nos surpreendemos com o apoio que recebemos de todos até agora. Então somos muito sortudos por termos tido essa bela oportunidade. Nós estamos tocando demais, por isso não conseguimos terminar de gravar (rindo muito).

Mas isso é bom, certo?
Sim! muito bom! Mas é como eu estava dizendo. Foi ótimo ter essa oportunidade de viajar por aí. E eu diria que somos politizados, mas não somos uma “banda política”, por assim dizer. Nosso gênero não é esse. Mas a política, bem, você sabe, é uma coisa intrínseca. É da minha natureza escrever músicas e letras que tenham algo a ver com política. É assim que eu vivo minha vida pessoal: sendo política, entende?Nós falamos de política, mas somos uma banda divertida, uma banda musical e uma banda dançante.

Vocês apareceram no meio desta nova onda da música do Brooklyn, repleta de ótimas bandas que não tem nenhuma identidade política. O que levou o Men ao caminho da contestação enquanto todas as bandas entre Williamsburg e Brighton Beach estão falando sobre outros assuntos?
Eu não sei exatamente. Quando escrevo, foco mesmo no que está acontecendo nos meus próprios miolos (risos). Realmente não penso no que as outras pessoas estão fazendo no momento. Só que para mim é fácil falar sobre o que é importante na minha vida e importante na vida dos meus amigos. Poder fazer isso escrevendo coisas que não são, sei lá, histórias de amor, por exemplo, é ótimo pra mim. A cena do Brooklyn realmente é muito boa e tem muita gente interessante por aqui, mas a verdade é que a gente não costuma colaborar muito com o pessoal da cidade simplesmente porque ficamos muito pouco aqui (mais risos). A maioria do pessoal daqui, inclusive, costuma não voltar muito para Williamsburg porque os alugueis estão caros demais por aqui! (gargalhando).

Ouch!
Pois é. Infelizmente não temos tanto contato com o pessoal do Brooklyn como nós gostaríamos.

São Paulo recebeu neste fim de semana a Parada Gay anual, com mais de três milhões de pessoas na rua. A organização do evento até diz que essa parada é a maior do mundo…
É! Eu sei sim. Realmente eu e as outras meninas ficamos muito deprê com o fato de não estamos aí para curtir com todo mundo… É uma pena que o show seja só na quinta…

É uma pena. Mas isso puxa uma questão importante. Neste ano, teremos eleições presidenciais no Brasil. Uma das candidatas ao governo, Marina Silva, inclusive se posicionou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aproveitando essa discussão mundial que ocorre em torno da união civil dos gays, você acha que eventos como a Parada Gay podem colocar pressão nos candidatos para a aprovação de projetos desse tipo?
Com certeza eu acho que sim. Os políticos e candidatos adoram números. A cada vez que eles se deparam com números grandes como os da Parada Gay de vocês, eles tendem a encarar as questões com outros olhos. Se várias pessoas se unem pelo casamento gay, ou pela luta contra o racismo, os candidatos tem que aceitar isso como um problema a ser levado em conta. Por isso é importante que as pessoas saiam de casa e defendam as coisas em que acreditam. É necessário que as pessoas se organizem pelas mudanças.

Bom, o primeiro EP do Men esgotou mais ou menos um ano atrás. Em uma entrevista que você concedeu em abril desse ano, você disse que a banda estava se preparando para voltar a Nova York para gravar em maio. Ainda há planos de lançar músicas novas em 2010?
Com certeza! Nós vamos lançar um single que deve sair em alguns meses por um selo inglês chamado Trouble. Esperamos que nosso disco saia logo depois disso, próximo do fim do ano.

Então enfim podemos esperar por um álbum?
Exatamente. Nosso primeiro disco deve mesmo sair esse ano com 11 ou 12 faixas. Além disso, vão sair alguns novos remixes das músicas que nós já lançamos.

E quanto às letras do novo disco? Elas seguem a mesma linha das músicas que o Men já lançou?
Bom, julgando pelas únicas três letras que já estão realmente fechadas, seguem bem a mesma linha do que nós já vínhamos fazendo antes. Algumas pessoas estão colaborando nas letras dessa vez, o que já é novo e excitante demais para mim. Mas no geral, acredito que vamos mais para o mesmo lugar mesmo. Falamos de nossas vidas, falamos de dinheiro, falamos sobre relacionamentos… Enfim, falamos sobre nossa existência, sobre envelhecer… é por aí…

Você também faz um trabalho importante como produtora. Entre seus últimos trabalhos, fiquei muito animado com o fato de você e a Peaches colaborarem com a Christina Aguilera para o Bionic. Como foi trabalhar com ela no estúdio ?
Foi simplesmente incrível! Christina é uma pessoa muito boa e é uma excelente vocalista e musicista também. Ela sabe muito de produção de vocal. Ela é muito inteligente e saca das coisas, além de ser uma mãe excelente e uma feminista muito relevante, na minha opinião. Estou animada para o lançamento do disco e orgulhosa de ter participado do Bionic. Ela está se arriscando bastante como instrumentista, está trabalhando com pessoas diferentes e realmente expandindo seus horizontes. Acho que isso é incrivelmente corajoso da parte dela e tiro meu chapéu para essas atitudes.  

Minha última pergunta não é sobre o Men. Existem planos para algum lançamento do Le Tigre em um futuro próximo?
Existem! Eu e Kathleen Hanna estamos preparando um DVD ao vivo que deve sair dentro de uns seis meses. Estamos trabalhando duro nisso e acertando as pontas para um lançamento correto com todas as pessoas que estão participando do filme, incluindo o Slipknot (muitos risos)

Slipknot? Uau!
Sim, é demais! Tem muitas outras pessoas que dividiram palcos com a gente em festivais por aí. Mas é bem um DVD para nossos fãs, com muitas apresentações ao vivo, entrevistas documentais e muita informação para todo mundo. Já estamos trabalhando nisso há bastante tempo e estou bem animada com a possibilidade de finalmente lançá-lo em breve.


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JD Samson, do Men e do Le Tigre, fala sobre show no Brasil e casamento gay

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