O que seria impensável há vinte anos se tornou realidade no palco do Via Funchal. Dois nomes históricos do heavy metal brasileiro dividiriam o mesmo espaço. Tal como nos campos de futebol, Angra e Sepultura nutrem torcidas diferentes. A primeira banda é a referência quando se trata de metal melódico virtuoso no país. O outro é o principal expoente do trash/death metal. Apesar de fazerem parte do mesmo território musical – heavy metal – o público de uma não podia freqüentar os mesmos lugares da outra banda, naquela onda irracional de ódio aos detratores de um estilo musical diferente. Como tudo evolui, a cabeça dos fãs é outra hoje em dia. Daí muitas coisas interessantes acontecerem numa velocidade rápida.

Conforme combinado previamente, a primeira banda a entrar foi o Angra. Depois de dois anos envolvido em brigas judiciais e lavagem de roupa suja através da mídia especializada, o grupo brindava os fãs com o retorno de Ricardo Confessori. E por mais que Edu, Kiko, Rafael e Felipe tentassem diminuir o nervosismo do experiente baterista, em várias passagens ficou evidente o desconforto com a discografia mais recente do Angra, como durante a emenda de Carry On com Nova Era, que abriram o show.

O discurso feliz de Edu Falaschi, onde dizia que a semana tinha sido boa e que era importante a união, parece não ter tocado o pessoal da mesa de som. Waiting in Silence e Heroes of Sand saíram emboladas e o equipamento de Kiko Loureiro falhava de hora em hora. Passadas quatro músicas, o grupo que significou um novo horizonte para o metal nacional estava “estranho”. Não pela história de separação, quase semelhante à do Sepultura. Mas sim porque todos estavam nervosos com a reação do público paulista. Carolina IV apareceu e foi outra executada de maneira torta pela banda. Ok, posso estar sendo bem crítico com o Angra – que eu gosto, diga-se – mas há também que lembrar que o grupo está em transição e até um mês atrás eles não tinham um novo baterista.

E se até aqui as coisas estavam nebulosas, Angels and Demons foi a melhor surpresa da noite. Confessori deu um banho de improvisação nas partes progressivas, a banda respeitou e ficou bonito. Make Believe nunca mais foi a mesma com a voz de Edu. Não dá para ele cantar as notas altas de André Matos. Isso mesmo sendo um bom frontman. Ponto. Rebirth e Nothing to Say foram um ótimo bis para um show mediano, o que não foi o caso do Sepultura.

Os mineiros do metal detonaram do começo ao fim. Primeiro pelo som – cristalino e bem melhor equalizado. Depois pelo desempenho arrasador. A abertura ficou com a melhor música do disco novo A-Lex, baseado na obra Laranja Mecânica. Moloko Mesto é uma porrada sem dó no tímpano. Filthy Rot e What I Do seguiram na mesma onda, com uma roda gigantesca no meio da pista e com insistentes berros de “Sepultura, Sepultura”. Jogo ganho desde o primeiro riff. A partir daí, o que viesse levantaria a galera. E dá-lhe Refuse/Resist, Convicted in Life – do soberbo Dante XXI, False, Troops of Doom – dedicada aos fãs que sempre seguiram a banda, entre outras. Todas executadas com primor e vigor surreal para veteranos do metal. Destaque imediato para Jean Dolabella. Se um batera destoou no show do Angra, na apresentação do Sepultura, ele apareceu. Igor Cavalera já está esquecido por muitos.

O final, com Roots Bloody Roots, coroou o melhor show da noite. Para celebrar a união, uma jam improvisada colocou 43 anos de rock pesado no palco para entoar clássicos do rock. Teve espaço até para Guerreiros do Metal, de outro grupo histórico, o Korzus. Se a passagem na Paulicéia fosse um clássico futebolístico, daria empate.


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Angra e Sepultura fazem reunião em prol da união da cena metal brasileira