Aquiles Priester é uma figura carimbada do cenário do metal virtuoso brasileiro. Há 12 anos com a já veterana Hangar e depois de rodar o mundo fazendo as vezes de baterista ao cultuadíssimo Angra, o músico virou referência no universo da música pesada nacional com seu talento indiscutível e seu carisma invejável.

Agora, o Hangar está lançando Infalible, seu quinto álbum de estúdio, mais versátil e eclético do que nunca, mas sem perder o punch power metal e as construções progressivas que colocaram a banda no panteão do prog metal nacional.

O disco, além dos petardos tão apreciados pelos fanáticos seguidores da banda, ainda trás dois covers que são, no mínimo, uma surpresa agradavel:39 do Queen e Mais Uma Vez do 14 Bis, que conta com a participação dos rodados integrantes do Roupa Nova.

Conversamos com o baterista Aquiles na última semana para falar um pouco sobre o processo de composição e sobre a satisfação de colocar mais um álbum na rua. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

Como foi essa concentração da banda em Tatuí? Vocês escolheram a cidade pelo conservatório ou por algum outro motivo?

Aquiles Priester – Foi mais por acaso mesmo. Quem bateu nessa ideia de se isolar em um sítio foi o Fabio Laguna, tecladista da banda. Ele mora no interior e achava que isso ia ajudar a concentrar a banda. Arrumamos um tempo e foi tudo feito no meio das aulas dos integrantes. Optamos por pouca interferência, sabe? Sem celular, email, nem nada.

E rolou tudo tranquilo nas gravações? Essa saída da cidade ajudou na produção?

Aquiles – Demais! O Fabio conseguiu esse estudio muito bom em Tatuí. A gente imaginava um celeiro, sabe? (risos). Nós não esperávamos tanto conforto e ficamos surpresos com a estrutura. É um estúdio grande, com um puta tratamento acustico legal. O fato de ser em Tatuí foi pura coicidiencia. O mais legal é que, conforme o tempo foi passando, as pessoas que curtem metal da região comearam a fazer amizade com a gente. Começamos a frequentar as lans e os restaurantes da região, por isso as pessoas nos viam e começaram a postar na internet sobre a gente. Esse tipo de coisas.


Depois da gravação, ainda teve a mixagem com o Tommy Newton, que é “só” o cara que mixou os dois Keeper of The Seven Keys do Helloween. Como rolou o contato com o cara?

Aquiles – Só isso né? (muitos risos). Ele também mixou um disco do Elegy em 99 e aquele trabalho me impressionou muito. A definição era demais, todos os instrumentos eram perfeitamente audíveis o tempo todo,  tudo organizado e um instrumento não perdia espaço para o outro nunca. Quando a gente tava finalizando o nosso último álbum,  eu joguei a ideia de finalizar fora, o que foi um tiro certeiro. Apresentei esse cara pra banda e falei como fiquei impressionado. Até que em 2007, sem conecer nada sobre o cara, eu e o Fabio fomos até a Alemanha pra trabalhar com o Tommy, que foi muito atencioso e deu tratamento VIP pra nossa música, sem presetar nada e timbrando tudo outra vez.

A experiência é que faz a diferença nessas horas, não?

Aquiles – Sem dúvida! E foi exatamente o que ele fez no nosso novo disco. Ele operou detalhadamente todos os aspectos do nosso som. Arrumou muito bem os teclados. Pra você ter ideia, levamos quase quatro dias pra mixar a primeira música, trabalhando das 10 as 20 e depois ouvindo tudo de novo. Pode até não parecer, mas ele tem uma fórmula eficiente, que cumpre os prazos em tempo e de uma forma pessoal, sempre.

Como você vê o crescimento musical do Hangar e o seu método de trabalho, especialmente depois de voce ter deixado o Angra?

Aquiles – Nosso processo de composição é muito parecido com os das bandas antigas. Quando começamos o Infalible, por exemplo, não tínhamos nada. Entramos no estúdio sem nenhum esboço pronto e as vezes ficávamos até 18 horas experimentando no estúdio. Gravávamos o arranjo básico no PC e pensávamos os detalhes como uma banda. Todos participaram igualmente e fizemos as músicas como sempre. Tentamos não nos prender a nenhum estilo e nos preocupamos em gravar o vocal só depois das faixas prontas. Chegamos em um ponto maturidade grande. Simplesmente fomos fazendo.

No release do disco, você explica bem a sua admiração pelo Roupa Nova e pelo 14 Bis. Como você acha que os fãs do metal, especialmente os mais novos, vão receber essa versão que vocês fizeram de Mais Um Dia?

Aquiles – Quando eu ouvi essa musica em 87, a mensagem foi muito forte na minha vida. Acho que as pessoas foram muito positivas ao receber essa nossa versão. A letra tem tudo a ver com o momento da nossa banda também. A participação do Roupa Nova rolou através do Serginho (Herval, vocalista da banda carioca), que é dono de uma voz muito suave. Como eu já conheço ele de outras épocas, pedi para que ele participasse do disco. Ele abriu o jogo comigo e diss que que eles não faziam participações individuais, por iso a banda inteira teria que participar. Para nós, foi uma honra ainda maior.

E o arranjo? Foi feito por vocês ou a mão do Roupa Nova também está lá?

Aquiles – Bom, a gente finalizou a música primeiro para passar pra eles. O Serginho ligou, falando que adorou o peso da música e que ficou feliz em poder interpretar a faixa como o Roupa Nova faria. Fiquei feliz demais com isso. Todos nós, com essa vivencia, sempre adimiramos o Roupa. Manter uma banda há 30 anos não é nada fácil. Quando recebemos os arquivos, choramos de alegria com o arranjo de vozes que eles fizeram. Gravaram por livre e espontânea vontade e nem deixaram que a gente pagasse pelas seções de estúdio. Foi emocionante. Quando eu estava mixando fora, pedi a opinião deles na finalização. Além de tudo, eles são co-produtores da música

Vocês fazem muitos workshops por aí e sempre mostraram muita preocupação com a educação musical das pessoas. O que você achou da aprovação da lei da obrigatoriedade do ensino de música nas escolas?

Aquiles – Ah sim! Isso é fantastico! Eu tenho um filho de um ano, o Arthur. Ele passa o dia todo com a baqueta na mão. Tudo isso depois que eu o levei em um show cover dos Beatles aqui em São Paulo. Antes disso, ele nunca tinha me visto tocar. O moleque ficou vidrado na bateria. Depois comecei a mostrar  DVDs de bateristas para ele e agora, com um ano, ele dorme ouvindo o DVD do Iron Maiden. (Risos) Ele até tem um nome especial pra chamar o Eddie (gargalhadas). Quando ele vê alguém usando uma camisa do Maiden ele pira! Isso mostra que o gosto pela música pode se desenvolver em casa também, mas na escola, ajuda demais as crianças. Poucos garotos de 10 anos sabem o que querem fazer no futuro.

Realmente. A obrigatoriedade do ensino de música deve sair depois de 2011, mas é um investimento a ser feito em qualquer lugar…

Aquiles – Com certeza. Na obrigatoriedade, se um garoto tem um motivo para gostar de música, voce vai estar o estimulando para que tenha mais vontade de estudar TUDO da escola. É uma coisa que você não esquece nunca. É uma forma de estimular o lado artístico dessa molecada. Um aluno pode começar na música e virar ator, pintor, enfim… Demorou para acontecer, mas veio. Será só o ensino básico de música, para despertar a vontade dessas crianças. Nós do Hangar, sempre fizemos vários Workshops e até hoje damos aula. Nada pra nós é mais importante do que isso.


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Aquiles Priester, ex-baterista do Angra, fala sobre o novo disco de sua veterana banda Hangar