O deputado federal e estilista Clodovil Hernandes morreu nesta terça-feira (17/3), vítima de um AVC (derrame). Saiba mais aqui.

Clodovil é do tempo que se chamava estilista de “costureiro”, termo que ele detestava. Ele
começou a ficar famoso nos anos 60, quando polemizava em público com
seu “rival” das agulhas, Denner (rival na mídia, na verdade os dois eram
amigos).

Criado por pais adotivos espanhóis, Clodovil nasceu em Elisário (MG),
em 17 de junho de 1937. Foi educado em colégio de padres, em regime de
internato. Formou-se professor, mas nunca praticou essa atividade.

AGULHA DE OURO

Aos 16 anos, fez seus primeiros desenhos de moda. Como ele contou em
entrevista para a revista Istoé Gente: “Eu tinha 16 anos e não sabia
que existia essa profissão. Peguei uma página de caderno e fiz 11
vestidos e levei numa loja no centro de São Paulo. A gerente comprou
seis dos 11 desenhos. Ganhei mais dinheiro do que o meu pai me mandava
de mesada. Foi aí que comecei a trabalhar com moda.”

Em 1960, com apenas 23 anos, ganhou o prêmio Agulha de Ouro, na época um prestigiado título da moda.

NA TELEVISÃO

Sua longa e bem-sucedida carreira na TV começou em 1976, no progama 8 ou 800?.
Depois disso, já na década de 80, foi para a TV Mulher, cujo conteúdo
foi altamente inovador para a época. Tinha como colega de programa a
ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, falando sobre sexo.

Nos anos 90, se destacou no polêmico programa de entrevistas Clodovil
Abre o Jogo. Iniciou nesta década a apresentação do programa Mulheres, na TV Gazeta, e depois passou para o A Casa É Sua, já na Rede TV!

CONTROVÉRSIAS

Conforme sua carreira na TV avançava, crescia também sua propensão a se
envolver em polêmicas. Com um programa à sua disposição, Clodovil se
sentia à vontade sobre o que bem entendesse, da maneira como bem
entendesse. É este o Clodovil que a maioria dos brasileiros mais novos
conhece: o das declarações impensadas e polêmicas.

Entre outras abusos, Clodovil chamou a vereadora Claudete Alves de
“macaca de tailleur” (sendo processado por racismo) e a então prefeita
Marta de “perua que teve sorte” (também processado por isso). Em 2004,
acabou vítima do “Pânico na TV”, que queria que ele calçasse as famosas
“sandálias da humuldade”. Clodovil não gostou da brincadeira e rechaçou
os humoristas duas vezes. Numa terceira vez, acabou perseguido por dois
carros, um helicóptero e um trio elétrico. Mas ainda assim escapou.

Clodovil ficou tão indignado com a brincadeira de seus colegas de
emissora que fez um desbafo no seu programa e abandonou a transmissão
ao vivo no meio. Dois dias, foi demitido da Rede TV!

POLÍTICA

A polêmica seguiu de braços dados com o ex-estilista quando ele
resolveu entrar para a política, se candidatando a deputado federal
pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão). Eleito com 480 mil votos, o
terceiro melhor resultado por São Paulo, ele chegou chegando no
Congresso. Classificou o local de “mercado de compra e venda de
coisas”. Depois, disse que “as mulheres hoje em dia trabalham deitadas
e ganham de pé”. Quando a deputada Cida Diogo (PT) protestou, disse:
“Minha senhora, aquele comentário fiz para as mulheres bonitas e a
senhora é tão feia que nem para prostituta serve.”

Reformou seu gabinete no Congresso, gastando R$ 200 mil. Colocou como
parte da decoração, uma mesa cuja base reproduzia uma imensa cobra
naja. Clodovil apelidou a cobra de “Marta”.

Para coroar a sequência de absurdos, declarou a uma rádio que os judeus
tinham inventado o Holocausto e o atentado de 11 de setembro.
Representantes da comunidade judaica brasileira entraram na Justiça
contra ele.

ANTI-GAY

Clodovil foi o primeiro deputado federal homossexual assumido a ser
eleito no país. Mas, para grande frustração dos ativistas gays, nunca
se interessou em defender a causa da minoria. Pelo contrário, se
declarava contra o casamento gay, o movimento homossexual brasileiro e
a parada gay.

“Não. Não tenho honra de ser homossexual e nem orgulho gay. Tenho honra
de ser quem sou. E só permito esse assunto com Deus. Se você for
analisar pelo lado dos direitos das pessoas, tudo bem. Agora essa
palhaçada de ir para a igreja de terno branco, isso é o fim do mundo,
querido, não existe,” declarou à Istoé Gente.

Em 2007, teve seu primeiro AVC, em decorrência da hipertensão.

FRASES

GISELE BUNDCHEN E O MUNDO FASHION
Ela é um cavalo manco que deu certo. Hoje não freqüento o mundo da
moda. Não sei de ninguém. Dizem que todos são gays. Eu também era.

SUPERAÇÃO
Fiz carreira vitoriosa porque não sou loiro de olhos azuis. E o Brasil
não aceita muito gente morena. O Brasil é racista. Mas eu consegui ser
vitorioso mesmo numa sociedade preconceituosa como a de São Paulo.

A VOLTA AO MUNDO DA MODA
Minha idéia é fazer uma coleção como se fazia alta-costura antigamente. Porque os novos não sabem fazer.

CULTURA BRASILEIRA
Nós não temos mais teatro, não temos mais artistas, não temos vozes,
não temos líderes, não temos um monte de coisas, que se perderam no
meio do caminho. Isso aqui é um grande Paraguai.

HEBE CAMARGO

Não suporto a Hebe. É uma mentira, um blefe, não sabe nada. Morta ela já está, só esqueceu de deitar.

ANTICRISTO
É o satélite, o olho que tudo vê. O atentado nas torres de Nova York
foi visto como um filme ao vivo. Isso levado para todos os lugares
instala o medo.


CARREIRISMO NA TV
Hoje em dia, qualquer vagabunda que seja amante de alguém que tenha poder vira estrela de televisão.

EXCEÇÃO
Mas tem uma pessoa que não vestiria por nada: aquela menina que
matou os pais (Suzane Von Richthofen).

POLÍTICA
Adoro esse clima na política, porque um mete o pau no outro.. e eu que não sou bobo nem nada, viro de costas.

PROJETOS DE LEI
O primeiro projeto que tenho em mente é liberar o rodoanel.

CORRUPÇÃO
Não vou me sujar por pouco. Vou me sujar por alguns milhões de dólares,
é claro. Pego esses milhões de dólares e faço a benemerência que eu
quiser. E dane-se a retranca. Não tenho filho, não tenho amante, não
tenho mulher, não tenho nada. Isso não é desonestidade. Isso é
oportunidade.


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Clodovil Hernandes (1937-2009), de estilista a polemista