A reunião em Barcelona sobre mudança climática terminou hoje após seis dias de negociações, nas quais a falta de uma proposta na redução de emissões de CO2 por parte dos Estados Unidos deixa em suspense as chances de um acordo pós-Kyoto na Convenção de Copenhague, entre 7 a 18 de dezembro próximo.

Encerrada após uma reunião plenária, o encontro em Barcelona na qual o Grupo dos 77 (G-77, que engloba estados em vias de desenvolvimento da África, América Latina e Ásia, e economias emergentes como China e Brasil) advertiu que se Copenhague for um fracasso, isso se deverá às propostas pouco ambiciosas de alguns industrializados.

O responsável da ONU sobre Mudança Climática, Ivo de Boer, disse à imprensa que os Governos ainda podem conseguir um acordo, embora tenha reconhecido que este não será um tratado vinculativo.

Boer afirmou que o fato de não ter sido conquistado um princípio de acordo em Barcelona, onde se esperava a fixação das bases das emissões entre 2012 e 2020, Copenhague acolherá a negociação na última hora entre os 40 chefes de Estado que acudirão à reunião.

O secretário da ONU passou uma mensagem de otimismo para dirimir o desânimo entre os delegados ao perceber que se os Estados Unidos não oferecessem um número claro sobre as emissões, não haveria um tratado vinculativo.

Apesar de a oferta americana depender de lei ambiental – que tramita no Senado -, Boer acredita que o Governo de Barack Obama apresentará um número.

Boer insistiu que será necessário aprovar um plano de US$ 10 bilhões de ajuda rápida aos países em desenvolvimento para a melhoria de suas estratégias de adaptação, e que em Copenhague deverá estabelecer uma fórmula sobre como compartilhar o financiamento das ajudas e das cotas de cada país.

Embora em Copenhague um tratado não seja assinado, Boer acredita que será fixado um marco político, com compromissos de redução de emissões dos Governos ricos e limitações aos estados em desenvolvimento e emergentes, assim como definições de apoio financeiro a estas nações pobres e um sistema de supervisão dessas ajudas.

Em todo caso, o responsável da ONU sobre Mudança Climática ressalta a existência dos compromissos fixados no plano de ação de Bali (2007) sobre reduções e que agora não se “podem reinventar a roda” de negociações.

O Protocolo de Kyoto – não assinado pelos Estados Unidos – é o único mecanismo legal para combater à mudança climática, e segundo Boer, seguirá valendo até a comunidade internacional não adotar outro marco.
Jonathan Pershing, representante da delegação americana, reconheceu que seu país não está em disposição de oferecer um número de redução como reivindica a comunidade internacional.

Além disso, Pershing acrescentou que Washington também não está disposto a assinar nada que não comprometa aos países em desenvolvimento sobre suas emissões.

Segundo o Painel Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC), os países industrializados devem reduzir suas emissões entre 25% e 40% em 2020 com relação a 1990, com o objetivo de que o aquecimento global não supere os dois graus (sobre a época pré-industrial).

Alguns cientistas apontam que o aumento não pode ser superior a 1,5 graus, já que há países vulneráveis, como os micro-estados do Índico e outros litorâneos.

A equipe de negociação europeia afirmou que lutará até o final para obter o acordo vinculativo, embora reconheça que as negociações serão complexas e difíceis.

O chefe da representação da UE, Artur Runge-Metzger, lembrou que a UE se comprometeu em reduzir até 30% dos gases poluentes em 2020.
“O acordo deverá incluir reduções ambiciosas de gases para os países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos”, disse Runge, quem apontou que embora alguns países não o assinassem não seria motivo para considerá-lo um fracasso.

Para a represente espanhola e membro da troika europeia, Alicia Montalvo, as negociações da cúpula prévia de Barcelona serviram para esclarecer a posição de cada país e eliminar opções.

Os grupos ambientalistas aproveitaram o dia para reivindicar maior compromisso e vontade política. Alguns ativistas disfarçados de marcianos circularam pelos salões em busca de delegados e líderes dispostos a comprometerem-se.


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Cúpula de Barcelona prévia à conferência de Copenhague acaba sem acordo