Na próxima segunda-feira (24), nem adianta tentar falar com Alexandre Matias. O jornalista, editor do caderno Link, do Estadão, e do site Trabalho Sujo, estará trancado em casa, de onde só sai depois de assistir o final de Lost.

A coisa é tão séria que até folga no emprego ele agendou. Nenhuma surpresa, considerando que ele é fã a ponto de assistir aos episódios em tempo real, por streaming, escrever posts diários, gravar podcasts semanais e criar/discutir inúmeras teorias mirabolantes sobre a série.

Conversamos com ele para tentar entender tamanho interesse e seus planos para terça-feira em diante.

 
Alguma outra série já teve um efeito parecido sobre você?
Beatles é série? O lance do Lost nem é propriamente o fanatismo, mas a minúcia de detalhes. Cada personagem abre mil possibilidades, do jeito que ele se veste aos livros que lê. É um nível diferente de aprofundamento em relação a um produto pop, porque ele não cria as próprias referências (não há um idioma fantástico com alfabeto e gramática ou um livro técnico sobre raças ou veículos fictícios), mas vai buscando-as na não-ficção, com referências na Bíblia, na filosofia, na história da arte e da literatura, do cinema e da religião. Mas eu gosto mais de Seinfeld e de Sopranos do que de Lost, não dá nem pra comparar. Lost é top 10, não é top 1. O barato de Lost é o elemento social, o fato de você dividir a experiência de acompanhar Lost.
 

Como surgiu seu interesse, foi logo não primeiro episódio?
Não, foi minha mulher quem me aplicou. Eu acompanhava a série de fora nas duas primeiras temporadas, naquela onda de “uma hora eu começo”. Comecei a namorá-la, ela já era viciada, acompanhava a série toda semana e me disse: “eu tou acompanhando, se você quiser…”. Como ela tinha as duas primeiras temporadas, comecei a assistir direto e passei a assistir a série simultaneamente do meio da terceira em diante.

 
E o que você acha que Lost tem de tão diferente, para atrair tanta atenção?
É o que eu falei aí em cima, é o nível de aprofundamento em diversos assuntos que não são necessariamente nerds. Fora que ela tem um elemento reality show (“o que eu faria numa situação destas?”) que a torna ainda menos geek, de nicho. Lost é uma das primeiras vezes que a ficção científica mainstream não usa o amor como metáfora (a Força de Guerra nas Estrelas, Matrix, etc.), mas fala sobre ele mesmo.

Como você concilia a dedicação à série com todo o resto?
Lost é só um dos muitos assuntos que acompanho o tempo todo. Jornalista, né?

 
Como é sua rotina em relação a Lost? E como vai ser seu domingo?
Assisto o episódio ao vivo, vejo os primeiros comentários na manhã do dia seguinte, converso com o pessoal no trabalho e troco links com o Ronaldo Evangelista, que faz o Comentando Lost comigo. A gente sempre grava na segunda, vou na casa dele de tarde, passamos umas duas horas teorizando, gravamos e depois almoçamos em algum lugar por perto – ritual que acabou esta semana. Vou juntando assuntos pra posts durante a semana e na terça de tarde começo a postar essas coisas no Trabalho Sujo, até a hora da série ir ao ar, nos EUA, às 22h.

Agora estou fazendo um especial sobre Lost pro fim de semana no Trabalho Sujo. Sábado (dia em que o Sujo não funciona) começam as novidades. E domingo vou assistir em casa, quietinho, com a responsável pelo vício do meu lado. E já tirei folga segunda ;)

Os posts sobre Lost alteram muito a audiência do site?
Rolam mais retweets do que aumentar a média de acessos. A visitação meio que continua a mesma, mas tem uma parte dos leitores que reclama no fato de ser um dia monotemático.

Como você lida com spoilers? Já se arrependeu de ter lido algum?
Felizmente nada que eu tenha lido antes me estragou alguma surpresa. Eles gravam as cenas principais muito na encolha, esses spoilers não vazam mesmo. Os que vazam podem vazar. Mas eu não ligo, acho que se um filme é bom ele não é bom só porque me guarda um segredo – gosto de sacar como quem criou uma obra conduz o espectador/leitor/ouvinte a acreditar nesse segredo. Tanto que Seinfeld, minha série favorita, só melhora a cada vez que você assiste. Mas preferi não ler alguns spoilers que apareceram só pelo prazer de ter as últimas surpresas. Um resumo do What They Died For, o penúltimo episódio, vazou na semana passada, li agora, depois de assistir online. Todo o episódio tava lá, podia ter lido antes, mas preferi deixar a surpresa pro final.

O que você planeja para depois do fim de Lost? Vai continuar escrevendo sobre a série?

 Acho que agora começa a fase 2 da série, quando os fãs vão começar a responder as perguntas que a série deixou em aberto. Eu sigo fazendo o que sempre fiz: acompanhando.

E você pretende investir em outras séries, acha que alguma vai conseguir substituir Lost?

Isso não se define, né, não tem como planejar. Tomara que apareçam outras (Fringe é a favorita atualmente, que season finale!), mas não dá pra programar. Mas de qualquer forma eu torço que apareçam outros produtos que sejam tão abrangentes quanto Lost, que não fiquem só em nichos. Falta isso ao pop de hoje – e é cada vez mais difícil acontecer.

 

Leia também a entrevista com Carlos Alexandre Monteiro, do blog Lost in Lost e os resumos dos episódios da primeira, segunda e terceira temporadas.

 



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Editor do Trabalho Sujo, Alexandre Matias fala sobre Lost