Depois de 15 anos de estrada, a Nação Zumbi tomou novamente o caminho de casa na próxima quarta-feira, 9 de dezembro, e volta a Pernambuco para dar a César o que é de César: um show na Praça do Marco Zero de Recife, que será registrado no primeiro DVD gravado pela banda antes comandada pelo genial Chico Science, morto em um trágico acidente automobilístico em 1997, em sua cidade natal.

Com participações especiais confirmadas de Fred 04 (Mundo Livre S/A), Siba (ex-Mestre Ambrósio e atual Fuloresta), Arnaldo Antunes e Paralamas do Sucesso, o segundo DVD da banda pernambucana chega às lojas no primeiro semestre de 2010 e deve abrir caminho para um novo disco de Lúcio Maia, Pupilo e companhia, cujos trabalhos de composição e arranjos já foram iniciados.

O Virgula Música falou com o vocalista Jorge Du Peixe direto de sua base avançada em Perdizes, na capital paulista, para saber exatamente o que vem por aí neste lançamento da veterana banda precursora do mangue beat, o último movimento cultural que conseguiu realmente fazer algum barulho no País do Carnaval.

E ai, Jorge? Tá perdido aqui por São Paulo?
É nada, cara! (muitos risos). Agora a gente vive dividido entre São Paulo e Recife. Depois de tanto tempo, ando ficando mais por aqui do que indo para Recife. Já estamos todos nessa ponte aérea há um bom tempo. Alguns ainda vão pra lá direto, mas é complicado… Muito longe, né? (mais risos). Mas, quando você fica na estrada tanto tempo, logo aprende a ser de todos os lugares.

Mas, mesmo ficando fora, é inegável a força da relação que a Nação Zumbi tem com Recife…
Não tem nem como ser diferente! Por mais que a gente se distancie da nossa casa, acaba voltando uma hora ou outra. Como eu disse, uma boa parte da banda mora aqui em São Paulo. Só que, por acaso, este foi o ano que nós mais fomos pra Recife. Tocamos nos festivais, no Carnaval, no Réveillon, no Festival de Inverno de Garanhuns… Pra esse registro, felizmente, conseguimos ir pra lá e, mesmo assim, levar nosso convidados.

Como você se sente tendo a oportunidade de gravar um DVD em casa depois de mais de 15 anos na estrada?
Feliz demais! Estamos em um momento muito bom, o melhor desde o fim da turnê do Fome de Tudo (2007). Estamos no meio da festa dos nossos 15 anos. Preparamos bem o repertório, que vai ter um momento dedicado especialmente ao Da Lama ao Caos (1994). Mas não vai ser só isso. Pensamos em colocar coisas que ficaram fora do Propagando (primeiro DVD da banda, lançado em 2004). O disco vai ter entre 20 e 22 músicas.

Dá pra adiantar alguma coisa sobre as participações especiais do show?
Claro! Pra começar, tem o Arnaldo Antunes, que é um cara que toda a Nação admira desde moleque. Vimos shows dos Titãs desde adolescentes. O próprio Chico (Science) o conheceu bem. Tentamos convidar as pessoas que tiveram uma relação forte com a banda desde sempre. Sobre o Fred 04, eu nem preciso falar, né? (risos) O cara é praticamente membro da banda e sempre foi parte do combo. Até hoje, ele é parceiro de letras. Quando tudo começou, o Fred estava ali na frente do movimento, falando tão alto quanto a Nação. Os Paralamas também. Todos nós curtimos o som dos caras. É a banda mais brasileira de todas. São muito importantes pra gente, até porque o Chico trocava ideias com o Herbert (Vianna) e até dividimos um show com eles. O Siba é nosso parceiro desde a época do Mestre Ambrosio. Todos esses, em um momento ou outro, foi muito importante na nossa vida.

Inclusive, em 2009, vocês estão contando com várias participações nos shows: em São Paulo, os escolhidos foram Ortinho, Otto, Fred 04 e B Negão. Como é dividir o palco com esses artistas?
É verdade. É uma pena que não dê para levar todo mundo. As pessoas tem suas próprias agendas e o tempo não permite isso. Mas a gente queria! (risos). Em um futuro próximo, esperamos poder dividir o palco com todos novamente.

Com esse tanto de amigos de estrada, já dava até para vocês fazerem um disco só de parcerias, como o Música Pra Tocar em Elevador, do Jorge Ben Jor…
É uma boa ideia (gargalhadas). É um tanto de gente mesmo. Seria muito bom fazer algo assim.

Nesse show, Cordão de Ouro, trilha do filme nacional Besouro (2009), também vai ser mostrada pela primeira vez em público. Fale um pouco sobre como foi a gravação da música…
A gravação foi de susto. Estávamos sabendo do filme e fomos chamados pelo (produtor) Rica Amabis pra gravar uma base. Daí, a música foi nascimento. Eu mexi com parte dela e o Pupilo foi trabalhando com os samples. Foi bom por ser também um incentivo pra começarmos a meter a mão na massa no repertório do próximo disco. Curtimos muito cinema e trilhas em geral.

A trilha é uma coisa que tem a ver com a Nação, especialmente porque vocês costumam trabalhar contando histórias…
Exatamente. Sempre trabalhamos com músicas imagéticas e temos esse lance visual nos shows, que é algo muito importante. Instrumental ou não, música cinematográfica sempre nos interessou demais.

O DVD já tem uma data programada para sair?
Ainda não tem data oficial, mas será ainda no primeiro semestre. Precisamos de um tempinho para preparam alguns extras, fechar umas histórias. Fora que ainda nem sei ao certo o que vai ser do palco, já que não vai ter cenário nem telão, nem nada. Vai ser tudo muito em cima de luz. Fora que o projeto será produzido pelo Danilo Bechara, que fez o DVD Sintonizando Recife, da MTV. Ele vai nos dar essa mão.

As comemorações de 15 anos do Da Lama Ao Caos foram um sucesso. Você ficou feliz com os shows?
Muito! E nem podia ser diferente, né? Nós vamos pra fora com esse show no ano que vem. Vamos passar por Portugal e mais outros lugares. É legal porque o disco tem momentos bem distintos, mas tem uma dinâmica muito boa no palco. Ele surpreende demais ao vivo.

O Afrociberdelia também é um disco importante na música brasileira. A Nação Zumbi pretende repetir a dose em 2011, quando o álbum fizer 15 anos?
Olha, é aquela história. Se levantarem a bola, a gente chuta (muitos risos). Mas seria ótimo. É um disco que gosto muito. Logo que saiu, já dava pra ver que ele era carregado com mais samples. Veio com uma carga maior. Essas diferenças se dão a cada disco. Não somos capazes de fazer as mesmas coisas. E, por mais que a gente tentasse imitar um disco anterior, não iríamos conseguir. Cada momento é um momento.

Gravação do DVD da Nação Zumbi

Quando: 09/12/2009, quarta-feira
Onde: Praça do Marco Zero, Recife-PE
Quanto: Grátis
Classificação: Livre


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Entrevista: Jorge du Peixe, vocal da Nação Zumbi, fala sobre novo DVD e próximo disco